Peço ao leitor apenas um pouco de
atenção, paciência, tempo e boa vontade, pois o que tenho a dizer se encontra
sutilmente colocado nas entrelinhas. Tratam-se de idéias e conceitos que fogem
ao convencional e trazem uma abordagem mais subjetiva do tema em questão,
trazendo muito mais perguntas do que respostas, apenas sugerindo associações de
idéias para te levar a ver o assunto com uma mentalidade mais aberta e menos
restrita que a maneira como o tema costuma ser abordado.
Procuremos a partir daqui fugir dos
conceitos já estabelecidos quanto a esta personagem, não estamos aqui para
falar da personificação do mal, nem tão pouco no "pai da mentira",
mas sim numa leitura mais sóbria desse tema que por si só já é bem mais vasto,
profundo e enigmático que geralmente se costuma considerar.
O termo Lux Ferrer,
"Portador da Luz", já fazia parte dos estudos esotéricos de diversas
escolas ocultistas desde muito antes da distorção feita dos sentidos deste
termo por parte da Igreja Católica Romana. Alguns chegaram a atribuir este
termo na antiguidade como sendo uma referência à própria figura do Cristo, até
que vieram a associá-lo diretamente àquilo que as antigas tradições hebraicas
vieram a chamar de Satan, "O Opositor".
No entanto tratam-se de três
figuras distintas, que fazem parte de nossa Anatomia Oculta, bem como são
encontrados nas chamadas Viagens Iniciáticas, sendo manifestações e em alguns casos
podendo vir a ter até mesmo Personificações externas de qualidades internas de
nossa Psique.
É dentro deste contexto que busco
abordar esse termo, justamente no que se refere a nossa jornada de
desenvolvimento espiritual. Não estarei tratando aqui de uma manifestação
externa, ou as possíveis personificações que se encontra ao longo da história,
mas sim do simbolismo interior e com isso propor e compartilhar associações e
reflexões.
Todos os significados estão
bastante entrelaçados e então abordaremos ponto a ponto tentando estabelecer os
pontos de ligação. A começar por sua denominação Lúcifer, como dito, derivado
da expressão Lux Ferrer, significando "Portador da Luz", tomaremos
como ponto de partida as definições encontradas ao longo da Idade Média. Foi
neste período que os estudiosos das Ciências Ocultas passaram a correlacionar a
Cultura Greco-Romana com conceitos vindos de conhecimentos diferentes como no
caso em questão a Astrologia, trazida pelos Árabes para a Europa nesta época.
Se convencionou atribuir dois
nomes distintos ao Planeta Vênus, sendo um Lúcifer e outro Vésper. Sendo que de
acordo com a época do ano a posição relativa ao Sol faz com que ele seja visto
ou no período da manhã como Lúcifer, uma "estrela" bastante brilhante
que surge no nascente de madrugada imediatamente antes do amanhecer, ou como
Vésper, a "Estrela Vespertina", a mesma "estrela" vista no
poente imediatamente após o pôr do Sol desaparecendo no horizonte depois de um
tempo. Tradicionalmente já foi chamada de "Estrela Dalva" por ser a
maior, mais clara e brilhante no céu noturno.
Por anteceder a manhã, este era
chamado de "Portador da Luz" pois é como se este anunciasse o nascer
do Sol, ou mesmo como se ele o trouxesse, carregasse. Até aqui isto segue o que
se costuma mencionar a respeito de Lúcifer, mas não se costuma encontrar uma
ligação direta entre a figura do "Portador da Luz" e a imagem que se
tem de Lúcifer como a entidade folclórica que se conhece popularmente.
Se popularizou a estória de
Lúcifer como sendo um "Anjo Caído", um Anjo que teria se rebelado
contra Deus e buscado construir seu próprio Universo e então teria sido banido.
Com isso se buscou dizer que ele era "do bem" e por vaidade e
pretensão "caiu" e uma vez corrompido tornou-se "mau". Esta
é uma visão simplista de um conhecimento bem mais profundo que foi adaptado
pela Religião com o propósito de criar uma história que exaltasse qualidades
morais de seus adeptos tais como humildade e confiança em Deus.
Essa visão da "queda"
de Lúcifer é que foi o aproximando do conceito de Satan, sendo que boa parte
dessa confusão se deu por interpretações menos esclarecidas dos textos
bíblicos, em especial por termos que Lúcifer muitas vezes foi associado e
simbolizado pela figura de uma Serpente.
De fato, existe essa ligação, de
modo que Lúcifer teria sido representado pela Serpente no "Jardim do Éden",
aquela que teria tentado "a Mulher" a tomar do "Fruto do
Conhecimento do Bem e do Mal". A Serpente ali foi descrita como "a
mais astuta das criaturas", sendo que desde a antiguidade as Serpentes
foram vistas como símbolo de astúcia, inteligência e também sabedoria, não
apenas nas tradições Judaicas como em outras culturas ao longo da história.
Aqui conseguimos estabelecer um
paralelo direto com a Cultura Egípcia, na qual tínhamos a figura de Apófis,
"A Serpente do Caos", esta corria ao longo da noite até ser morta por
Rá a cada manhã. Sendo uma alusão ao que vemos no caso da Estrela da Manhã que
desaparece ofuscada pelo Nascer do Sol.
Sendo que a Serpente teria sido
juntamente com o Homem e a Mulher (Adão) expulsos do Éden para assim
encontrarem a Vida (Eva), como uma alusão ao despertar dos Sentidos através dos
quais se tornou possível a vida nos Planos Manifestados.
Simbolicamente podemos considerar
que somente através da Luz da Razão se torna possível o Alvorecer de uma Nova
Consciência. Lúcifer é a Inteligência, a Luz que se acende na escuridão da
noite e arrasta consigo o Sol para que tudo se ilumine.
Nos conhecimentos Herméticos
temos que a Inteligência é um elemento a ser conquistado para que enfim se
possa ascender para um nível superior de Consciência. Como podemos ver em imagens
do Antigo Egito em que Apófis é representada como que formando uma ponte entre
duas plataformas, servindo assim para que através desta Serpente de atravesse o
Abismo.
Na tradição Egípcia temos que há
duas montanhas sustentando o céu, tendo-se no nascente Bakhu e no poente Manu e
aqui encontramos a expressão Ankh Bakhu, significando "A Vida no
Nascente", ou ainda, com uma livre tradução "A Estrela do
Oriente", ou seja, a Estrela da Manhã, Lúcifer.
Aqui essa expressão traz como
sentido uma referência à própria Percepção dos Sentidos, como uma forma de
somatória dos nossos sentidos, compondo o que alguns já vieram a chamar de
"As 50 Portas da Percepção", ou ainda, uma forma de "Sétimo
Sentido", sendo algo que se poderia considerar como um "Senso de Realidade".
Assim teremos que o "Fruto
do Conhecimento do Bem e do Mal" é muito mais como um Sentido que nos
permite distinguir o que é Real do que é Ilusório. Neste caso a ligação entre
Lúcifer o Raciocínio se dá por ser o meio pelo qual atualmente conseguimos
distinguir os contrários.
Dentre os nossos Sentidos o que
mais traz uma associação com a Luz é a Visão e esta é tradicionalmente
associada ao que seria a Clarividência, ou a "Vidência Esclarecida",
"Ver com Clareza", ou ainda, "Ver o que é Claro, ou Iluminado",
aproximando esse conceito ao que se estuda no Budismo como sendo uma referência
à "Clara Luz".
Esse Sentido em especial costuma
ser associado ao Chakra Frontal que se encontra entre os olhos, sendo chamado
de "Terceiro Olho" e era tradição que no Antigo Egíto o Faraó
utilizasse um ornamento no qual saía deste ponto a cabeça de uma Serpente,
representando o domínio sobre o mundo espiritual.
Existem outras associações que
podem ser feitas, como por exemplo relacionar a figura de Lúcifer como representativo
de inteligência e astúcia à figura de Loki do panteão Nórdico, onde teremos
associações igualmente com conceitos como o Caos, o Abismo, a Loucura e até
mesmo o título de "Pai da Mentira".
Vemos aqui sua relevância e
profunda e fundamental importância dentro dos estudos Iniciáticos e o quanto
essas questões nos levam a analisar de maneira diferente alguns dos conceitos
aqui apresentados, nos levando a refletir sobre suas implicações, quem sabe até
encontrando novas associações envolvendo a "Estrela do Oriente".
Enfim, trouxe aqui estes
elementos relativos a culturas diferentes, com simbolismos muito próximos que
descrevem uma realidade espiritual bastante distinta daquela que se poderia
conceber apenas com os conceitos populares que se tem da figura de Lúcifer.
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