Após terem sido definidas as
concepções de Direita e Esquerda foi possível observar que naturalmente
sofremos a ação de ambos os impulsos de modo que acabamos optando em satisfazer
um em detrimento do outro nos estabelecendo assim em cada um dos Caminhos.
Com isto se pôde observar que
haviam aqueles que ainda não haviam se definido entre atender a um ou outro
impulso e que sentiram necessidade de satisfazer a ambos, para tanto viriam a
estar migrando entre a Direita e a Esquerda estabelecendo em suas vidas etapas
durante as quais se dedicava a cada caminho e por vezes acabavam por mudar de
instituições mesmo que dentro do mesmo direcionamento.
Enquanto outros buscavam se
aprofundar no desenvolvimento dentro de um dos dois Caminhos de modo a saciar o
impulso que o levou a ele desenvolvendo assim um impulso muito mais intenso de
satisfazer a necessidade oposta e com isto acabariam por buscar elementos do
outro Caminho.
Como já foi dito, os dois
Caminhos representam estados nos quais os buscadores se encontram durante suas
trajetórias de desenvolvimento espiritual, não sendo eles fins, mas sim bases,
ou mesmo meios, através dos quais ou a partir dos quais se promoveria o
desenvolvimento.
Essas alternâncias entre os dois
Caminhos são naturais e fazem parte do desenvolvimento, assim como ocorre
também a tendência a que ocorra a alternância entre o Caminho Iniciático e o
Caminho Místico. Sendo que acaba ocorrendo que para tanto se faça necessário
que o indivíduo alcance um determinado nível de maturidade em sua jornada.
Esta maturidade é alcançada pela
vivência tanto dentro do Caminho da Mão Direita, quanto do Caminho da Mão
Esquerda, bem como em experiências no Caminho Místico ou no Caminho Iniciático.
De modo que ao alcançar determinado nível de desenvolvimento os impulsos
instintivos que nos levaram aos Dois Caminhos se tornarão menos intensos e se
faz possível perceber impulsos mais sutis aos quais poderemos a partir de então
atendê-los ou não.
Foi então que surgiu o conceito
de Caminho do Meio, ou ainda, Terceira Via. Que foi apresentada por
determinadas figuras inspiradoras como sendo um direcionamento ideal, no qual
se abriria mão de buscar satisfazer nossos impulsos por Prazer e Poder,
buscando uma forma de desenvolvimento mais "puro".
Esse idealismo é movido também
por um impulso básico do Ser Humano, ao qual muitos já definiram como sendo
"O Chamado", um impulso natural para o Desenvolvimento Espiritual em
si, uma força que nos levaria a superar a etapa representada pelos Dois
Caminhos, a partir do que se estaria em condições de não mais pautarmos nossas
vidas pela busca pelo Prazer ou pelo Poder, manifestando assim aquilo que seria
considerado como "A Verdadeira Vontade".
No entanto também aqui a condição
humana se mostra um pouco diferente do quadro apresentado por nossos ideais.
Pois se por um lado é preciso um determinado nível de maturidade para impor sua
Força de Vontade controlando os próprios "apetites" por Poder e
Prazer, também se faria necessária a mesma Força de Vontade para buscar
satisfazer a ambos. Deste modo o Caminho do Meio possuiria basicamente duas
direções, podendo ser chamadas de "Para Cima", libertando-se dos
Desejos, e "Para Baixo", buscando por uma hipotética satisfação de
ambos os Desejos.
Geralmente o que encontramos
tanto no Caminho Iniciático quanto no Caminho Místico é apenas e tão somente a
orientação de uma vez estando nesse dilema do Caminho do Meio seguir "para
Cima", ou seja, na direção natural do Desenvolvimento Espiritual do ser
humano na atual fase que nossa humanidade vive, que consistiria em uma
trajetória partindo do mais denso para o mais sutil, do material para o
espiritual.
O grande desafio e proposta do
Caminho do Meio é que o indivíduo venha a se centrar em si mesmo, embora não se
isolando dos demais como na Mão Esquerda, tendo em si uma figura central da
existência que então passa a ser vista como tudo que rodeia ao indivíduo.
Igualmente o Caminho do Meio trabalha com o conceito de união e soma de
esforços, mas não abrindo mão da individualidade como na Mão Direita.
Embora a princípio, até mesmo
para os que o seguem, o Caminho do Meio pode parecer um estágio seguinte à
dualidade dos Dois Caminhos, como uma soma, ou uma indefinição entre ambos,
ainda assim ele também representa um meio, talvez não um ponto de partida, mas
definitivamente também não corresponde a um fim.
O impulso básico se caracteriza
pela influência da Sephira Tiphereth, sendo um impulso que leva o ser humano a
busca por "Ordem e Beleza". Sendo esse um impulso mais sutil ao qual
só buscaremos satisfazer se estivermos "satisfeitos" com relação à nossa
sede por Poderes e Prazeres, pendendo assim a uma busca por conceitos de
"Perfeição".
Nesta Terceira Via assim como nos
Dois Caminhos, o indivíduo se encontrará igualmente sujeito a manifestar
características como Vaidade e Orgulho. Estas são qualidades que levam os
Caminhos à condição de "meios" e servem como fronteiras para que se
alcance aos "fins". Enquanto na Direita se busca anular essas
características substituindo por versões mais ligadas à
"coletividade", assim como na Esquerda se busca enaltecer tais
qualidades como uma forma de auto-afirmação, buscando com isso defender a
integridade do ego. Aqui no Caminho do Meio talvez seja a condição na qual mais
claramente se tenha de encontrar meios de lidar com tais características de
modo a sermos capazes de superar essas fronteiras.
Por outro lado, a partir do
momento em que o indivíduo possua a Força de Vontade necessária para não mais
se deixar levar por esses "apetites" por prazeres e poderes, ele
passa também a "assumir o controle" sobre eles e isto poderá ser
feito de diversas maneiras. Sendo que pode-se optar pela
"abstinência" e não buscar mais por poderes e prazeres, bem como
pode-se optar por tentar satisfazê-los e para isso caberia um equilibrio, um
ritmo harmônico pelo qual se alternaria entre ambos.
A questão é que existe um impulso
mais intenso que seria aquele que levaria o indivíduo que está no Meio em
seguir para "Baixo", ou seja, o fascínio e a atração que a realidade
material exerce sobre o ser humano, que para aqueles que ainda não buscaram
pela Direita ou pela Esquerda este impulso se caracterizaria em promover a
"Inércia", enquanto para aqueles que já passaram por essas
experiências essa força pode levar a seduzi-los com a possibilidade hipotética
de satisfação plena de sua sede por Poder e Prazer. Sendo este impulso
simbolizado pela Sephira Yesod.
Sendo este um impulso algo que
nos leva às nossas raízes animais, somos então colocados frente a frente aos
nossos instintos e emoções. Não que este desafio não exista na Direita e na
Esquerda, a questão é que ele não se apresentará de modo algum como um fim a
ser alcançado.
Por mais que a Esquerda aprecie
as Forças da Natureza que nos conduziram à Matéria, ainda assim a própria
condição do Indivíduo em trilhar o Caminho da Mão Esquerda já o coloca como
alguém que assumiu algum controle sobre seus próprios instintos. Assim como na
Direita o indivíduo ao trilhar tal caminho estará justamente buscando sublimar
sua natureza se abstendo do que haja de mais denso.
Enquanto no caso do Caminho do
Meio, como geralmente é trilhado por indivíduo que já tiveram vivencias
anteriores na Direita e Esquerda, estes passam a viver desafios distintos
daqueles que atormentavam os Dois Caminhos. Embora possa com isso dar uma
impressão de superioridade por parte do Caminho do Meio, este na verdade se
mostra tão limitado quanto os outros dois, pois é disso que tratam os Caminhos,
das limitações que nos definem como Humanos. Assim volto a afirmar que nem os
Dois Caminhos nem mesmo o Caminho do Meio, a despeito do que se poderia
compreender pelo termo "caminho" não representam por si mesmos
qualquer forma de avanço ou desenvolvimento, apenas demonstram em que meios e
que desafios estamos enfrentando enquanto seguimos ou o Caminho Iniciático ou o
Caminho Místico em busca do aperfeiçoamento em si.
O Caminho do Meio se caracteriza
como um direcionamento que estaria para os Dois Caminhos como uma somatória, de
modo que se vale tanto do Caminho Iniciático quanto do Caminho Místico bem como
também de um Terceiro Aspecto que alguns chamariam de "Caminho
Mágico". Assim toda forma de Magia seria bem aceita e trabalhada no
Caminho do Meio, não só a Branca como a Negra, como também outras formas de
manifestação tal como vemos as práticas da Alquimia e da Magia Teúrgica.
Assim teríamos em termos de
sequência de fatos que o indivíduo ainda preso às limitações de sua realidade
material, está sob a ação da Inércia e sofre mais intensamente o apelo dos
apetites animais e enquanto não desenvolve sua Força de Vontade estará sujeito
aos caprichos do destino.
A partir do momento em que o
indivíduo busca dentro de si a essência de sua condição humana, na tentativa de
se auto-conhecer, começa a buscar por algo além da realidade material, este se
verá atraído e impelido ou para a Esquerda se a atração pelo Poder for mais
forte, ou para a Direita se o atração pelo Prazer estiver prevalecendo.
Estando o buscador vivendo os
conflitos das eternas guerras entre Direita e Esquerda, sentindo de forma mais
intensa as forças contrárias que se digladiam, ele terá tendência a buscar com
maior fervor por um extremo ou outro, poderá vir a se sentir atraído pelo lado
oposto, até um ponto em que alcance um certo equilíbrio entre esses impulsos e
com isso sinta o "Chamado" para se colocar acima desses impulsos, ou
sinta a força da Matéria a lhe puxar para baixo com a promessa de assumir o
controle sobre essas forças.
O Caminho do Meio apresenta os
desafios e dilemas próprios daqueles que quer tenham vindo da Direita ou da
Esquerda, do Caminho Iniciático ou do Místico, acabaram se enveredando pelos
Caminhos da Magia ou da Alquimia, ou tenham sentido o impulso para buscar
elevar a si mesmos a condições acima dos dilemas humanos. Como disse, os
desafios da Vaidade e do Orgulho são ainda mais presentes ou perceptíveis nesta
Via.
Essa dualidade do Caminho do
Meio, esses impulsos para "baixo" e para "cima", são bem
observados quando se analisa as relações entre as diferentes práticas Mágicas
em que se vê classificações como sendo a primeira concernente à Magia Negra e
última à Magia Branca. Embora este seja um tema para outro texto.
Não se encontra instituições
Exotéricas voltadas para o Caminho do Meio, de modo que não há instituições populares
ou religiosas, o que se pode dizer é sobre os princípios filosóficos por de
trás dessas grandes instituições que em grupos Esotéricos, (restritos,
fechados), apresentem propostas ideológicas mais voltadas a esta Via. Dentre
elas em especial se vê a filosofia Budista se apresentar como tal, embora na
prática seja mais comum vermos suas instituições trabalhando principalmente com
a Direita.
Das Ordens Esotéricas, quer sejam
Iniciáticas ou Místicas, as propostas concernentes ao Caminho do Meio são em muitos
casos colocadas como uma continuidade das propostas da Direita ou da Esquerda
que venham a seguir. Assim também não há como se definir organismos ligados ou
representantes do Caminho do Meio, a não ser no caso de Ordens isoladas que
comumente não vêm a ser conhecidas pelo grande público.
Deste modo encontraremos
basicamente, assim como muitas vezes ocorre na Esquerda, indivíduos, que mesmo
fazendo parte de Organizações da Direita ou da Esquerda vivam o Caminho do Meio
mesmo que não venham a se classificar desta forma.
De modo geral esta classificação
de Direita, Esquerda e Centro é aplicada por poucas escolas ou instituições, de
modo que muitos indivíduos e instituições nem mesmo aceitam serem classificados
desta forma. No entanto todo o modo de classificação tem como finalidade apenas
e tão somente uma compreensão mais clara sobre o tema em questão.
Ótimo texto, estava procurando e questionando a cerca deste caminho, tb me perguntei o pq de ñ ser tão mencionado, oq se vê é somente direita ou esquerda q se atacam mutuamente!
ResponderExcluirObrigado Iago, de fato é menos comentado e é comum sofrer ataques dos outros dois, pois um sempre o verá como fazendo parte do outro. É uma situação complicada.
ResponderExcluir