O conceito de Esquerda surgiu a
partir da contestação de métodos e regras pré-estabelecidas e sedimentadas de
como a busca espiritual deveria ser vivenciada, de modo que este modelo vigente
passou a ser chamado de Direita e tudo que viesse a questioná-lo e subvertê-lo
seria visto como um princípio "renovador", "reformador",
oferecendo assim uma alternativa para aqueles que não se adequavam ou não
aceitavam se adequar às tradições institucionalizadas.
Para melhor compreender a Esquerda
podemos nos valer de uma definição que serve de contra-ponto ao Dogmatismo da
Direita, podendo se dizer que além de questionadora, revolucionária e
contestadora, a Esquerda será em essência principalmente
"Pragmática".
O Pragmatismo, neste caso se define
como uma referência norteadora que deveria servir como um princípio capaz de
manter o indivíduo focado em sua objetividade e suas prioridades. Na prática
acaba se manifestando muito mais como um reconhecimento crítico da ineficácia e
falta de propósito no cumprimento de regras Dogmáticas praticadas pela Direita.
Ou seja, ao invés de se fazer o que esteja determinado como sendo o correto, se
estará fazendo aquilo que se julgar mais prático e objetivo.
Esta visão questionadora do
Dogmatismo se estende ao conceito de "Lei Divina", embora nem sempre
esta venha a ser contestada pela Esquerda ainda assim se estará fazendo
releituras e como hábeis advogados estarão reinterpretando as "Leis"
desconsiderando os acordos e convenções dos Dogmas.
Aqui neste caso as representações
das mãos do "Bode de Mendes" demonstram o foco ideal deste Caminho
como fundamentalmente libertário, sendo assim simbolizada essa liberdade pelo
simbolismo da Sephira Chesed, que denota o conceito de "Direitos Naturais"
do Indivíduo, este como merecedor de toda Benevolência e concessões atribuídas
pela própria Natureza.
O conceito de Mérito é bastante
presente no pensamento da Esquerda, em que tais dádivas são merecidas por terem
sido alcançadas por esforço pessoal, de modo que a idéia de liberdade é vista
como resultado de uma conquista do indivíduo que se liberta das regras
Dogmáticas da Direita que acabam permeando a própria visão que a sociedade terá
dos valores que a norteiam.
Na Esquerda o "vício"
que se observa conforme mencionei no texto "Os Dois Caminhos" seria a
"busca pelo Poder". Neste caso o enfoque se observa na simbologia da
Sephira Netzach, em que se vê a questão da superação, a "Vitória sobre a
morte" de modo que o impulso inconsciente que se manifesta aqui é o da
individualidade, do ser que se distingue e se destaca do seu meio, a tendência
de buscar ser exclusivo e diferente dos demais. Assim é comum neste Caminho
temas relativos ao quanto o Caminho é Solitário, bem como são enaltecidos os
triunfos pessoais, realizações, além de avaliações e comparações entre níveis
de desenvolvimento, ou conceitos de superioridade.
No que se refere ao Caminho da
Mão Esquerda a passagem do Gênesis que citei no texto da Direita, em que
"as águas foram colocadas em um só lugar criando-se assim o elemento
árido", esta figura árida, como costuma ser colocada nos simbolismos do
"Deserto" enfatizam o individualismo, o isolamento, a solidão, além
das provas e desafios a serem superados por aquele que trilha este Caminho,
proporcionando com isso um sentimento de orgulho e satisfação com sua própria
capacidade de superar obstáculos e de se colocar acima dos demais.
Este "vício" pelo Poder
acaba se refletindo em certos aspectos do comportamento, como a ênfase no
individualismo as vezes acaba por enfatizar o egoísmo, orgulho e tendências a
discriminação, por se considerarem uma classe de seres superiores aos demais. É
muito comum que adotem simbolismos relativos a guerras, batalhas, guerreiros,
atribuindo uma visão competitiva ao desenvolvimento espiritual. Desde modo os
preceitos da Sephira Chesed não são plenamente vivenciados, pois a liberdade da
qual se julgam merecedores não consideram que seja algo a ser concedido àqueles
que não "fizeram por merecer". Dando ênfase aos aspectos de luta e
superação simbolizados por Geburah.
O conceito de Justiça acaba sendo
distorcido pelo excesso de rigor, tornando a Esquerda muitas vezes menos
libertária do que seria seu ideal. Muitas vezes na busca pela contestação aos
valores da Direita a Esquerda acaba perdendo o Pragmatismo na criação de novos
Dogmas contrários aos da Direita e essa postura leva até mesmo a questionar o
próprio conceito de Divindade, pois aqueles que não se destacam de seu meio,
aqueles que não superam seus iguais, são vistos como indignos do Poder e
portanto vistos como "fracos" e assim extrapolam e generalizam os
conceitos de modo a considerar que uma Divindade que conceda suas benesses a
quem não tenha feito esforços para conquistá-las será então uma Divindade
"fraca".
Com a criação desses conceitos de
mera "oposição" à Direita a Esquerda perde a objetividade e acaba
abrindo mão do Pragmatismo, desviando o foco daquilo que deveria ser a meta
para todo aquele que buscasse combater um conceito que é a busca pela Verdade.
Que na prática acaba sendo substituída pelo impulso de repelir conceitos
cristalizados.
A nível supra-físico é possível
se observar que diferentemente da Direita a Esquerda não costuma formar grupos
de iguais. Não há o interesse em conforto, muitas vezes vemos entidades da Esquerda
estabelecidas em "Castelos", "Fortalezas",
"Quartéis", "Acampamentos", sempre assumindo uma postura
defensiva, como se temessem se acomodar, como se com isso pudessem ser
suplantados por oponentes.
Mesmo havendo influência do
Caminho Iniciático na Esquerda, tanto no Oriente quanto no Ocidente veremos que
o Pragmatismo leva a que se busque primeiramente a prática, muitas vezes
desconsiderando-se completamente a teoria. A questão é que sem o embasamento
teórico a prática muitas vezes deixa de se tornar tão eficaz quando almejariam
aqueles que seguem por este Caminho. Acabam buscando principalmente por
"receitas prontas" de como mover as forças da Natureza de acordo com
sua "Vontade", que na maioria dos casos não se trata de Força de
Vontade propriamente dita, mas sim a satisfação de caprichos e gostos pessoais.
Há a ênfase no uso de ritualísticas mas não na prática do Sacerdócio.
Existe um enorme interesse por
parte da Esquerda por Magia, sobre tudo nutrem grande simpatia pelos preceitos
da Magia Negra, que por propor a manifestação no sentido do espírito para a
matéria leva a falsa impressão de se tratar de algo mais "forte". No
entanto, o enfoque individualista leva a que se negligencie requisitos
fundamentais para a prática da Magia de modo geral e muitas vezes acabam se
restringindo à prática do que alguns chamam de Magia Amarela, por
negligenciarem valores como a Autoridade do Mago e o reconhecimento desta pelos
seus pares para o exercício da Magia Negra propriamente dita. Na busca por
triunfos e vitórias pessoais e por ter o enfoque apenas no indivíduo e na
liberdade de seu isolamento acaba limitando o alcance de sua influência sobre
aqueles que estejam ao redor.
Esse conceito da Magia Negra como
algo que traz do espiritual para o material é visto com bastante interesse pela
Esquerda, de modo que ocorre a tendência de buscarem por uma densificação, tornando-se
menos sutis, menos espirituais, para assim vivenciarem melhor os Poderes da
Natureza.
Existe a busca pelo
reconhecimento, por alcançar um nível de superação e triunfo incontestável, de
conquistar tamanho Poder que não haveria como ser negada sua superioridade. Mas
aí surge um dilema, pois como poderia ser reconhecido senão por seus iguais e se
toda a trajetória for pautada na repulsa por iguais jamais se alcançará esse
nível de reconhecimento tão desejado.
Como resultado vemos uma
tendência a ocultar seus prodígios, feitos e triunfos, como que negando querer
reconhecimento e evitando igualmente a comparação com seus iguais, por não
considerá-los como tal e por ver a todos como concorrentes, de modo que acabam
se contentando apenas com a satisfação pessoal de quebrar seus próprios
paradigmas sem se expor à opinião pública.
Mesmo que a princípio pareça
haver muita hostilidade por parte da Esquerda, isto acaba por ocultar
tendências protecionistas que frequentemente vêm a se manifestar, a partir do
momento que o indivíduo se coloca acima dos que lhe rodeiam esta superioridade
leva à se desenvolver um protecionismo um tanto vaidoso, por considerar que os
que lhe rodeiam não são tão capazes quanto eles próprios de modo que
dependeriam de sua "proteção". Não são considerados iguais, mas sim
diferentes e justamente estariam sendo protegidos daqueles que lhe fossem
iguais, pois na sua visão competitiva alguém que tivesse o mesmo potencial
seria uma ameaça direta.
Isso gera um comportamento
análogo ao da Direita em converter, que no caso da Esquerda poderia se
considerar uma tendência a submeter, atrair para junto de si, para de baixo de
suas "asas protetoras" aqueles que lhe sejam diferentes, que no caso
são vistos como menos afortunados em seus triunfos, mas que estariam sob sua
proteção, quando não a seu serviço, tornando-o com isso comparativamente
superior e fazendo-o sentir ainda mais "poderoso".
A tendência ao desenvolvimento de
Orgulho e Vaidade é presente tanto na Esquerda quanto na Direita e assim também
em ambos haverão aqueles que conseguirão superar essas limitações, mas como já
havia dito anteriormente o mérito será do indivíduo e não das tendências e
impulsos aos quais esteja sujeito.
Em contra partida aos simbolismos
da Direita, enquanto essa se associa à Luz a Esquerda é normalmente ligada aos
simbolismos da Escuridão, que tradicionalmente teria significados relativos à
Sabedoria e aos Mistérios, embora na prática o que costumo ocorrer seja a
tendência da Esquerda em se opor aos preceitos da Direita, veríamos então
conotações pelas quais se veria a Divindade dentro dos conceitos da Direita
como uma manifestação "destituída de Poder" de modo que se buscaria
por uma outra forma de Divindade oposta, oculta na Escuridão detentora de
"Grande Poder". Ou seja, acabariam incorrendo nas mesmas distorções
que a Direita com os conceitos de Luz, pois acabam por se contentar em
sentirem-se poderosos por ter contato com uma fonte de Poder. Seria semelhante
a quem se sinta forte por estar sob uma cachoeira e por sentir a força da água
a lhe golpear, sem se dar conta de que essa força não é sua.
No caso da Esquerda é menos comum
que se encontre grandes instituições, sendo que muitas vezes encontraremos
ramos mais radicais, ou reformadores dentro das instituições da Direita, em
outros casos veremos movimentos isolados, pois em muitos casos a partir do
momento em que a instituição assume uma posição de destaque e reconhecimento na
sociedade, esta acaba assumindo um direcionamento e uma estrutura que melhor
seria definida como sendo de Direita.
Ainda assim veremos movimentos e
instituições de Esquerda ligadas ao Satanismo, Caoismo, ordens mais extremistas
da Igreja Católica como seria o caso da Opus Dei, seitas isoladas dedicadas à
práticas de feitiçaria, alguns ramos do paganismo, xamanismo e asatru; alguns
Terreiros dentro da Umbanda, do Candomblé, Quimbanda, Hudu entre outros;
Escolas Esotéricas dedicadas à práticas de mentalismo; Ramos isolados de Yoga,
ou tais como a Bon Po Tibetana; Alguns ramos rosa-cruz como a AMORC, ou mesmo
ramificações como Thelema etc.
Por mais que possam haver
instituições e movimentos alinhados com a conduta da Esquerda o mais comum é
que se encontre indivíduos isolados com essa conduta muitas vezes não vindo a
se organizar em grupos. Ou ainda encontrar movimentos de contra cultura, como o
caso dos "Teóricos da Conspiração" por assumirem uma postura de
contestação às instituições estabelecidas.
Aqui mais uma vez ressalto que o
que foi classificado como "vícios" da Direita não implica em uma
crítica à indivíduos ou instituições, mas sim apenas uma forma de analisar as
tendências e impulsos inconscientes que nos levam a tal ou qual conduta.
muito bom
ResponderExcluirBoa matéria.
ResponderExcluirO que leva a ordem rosa cruz AMORC ser da via esquerda,já que ela se considera ser da direita?
Olá Claudney,
ExcluirObrigado pela consideração.
No caso o que poderia dizer é que não exatamente as instituições seriam de direcionamento direita ou esquerda, mas que sejam propícios e/ou atrativos para pessoas com esses direcionamentos pessoais. Sendo assim a estrutura da AMORC por priorizar a prática, o desenvolvimento individual e um certo pragmatismo com relação ao conhecimento que a tornam bastante procurada e frequentada por pessoas de orientação esquerdista.
Ótima série de textos.
ResponderExcluirO que levaria a uma pessoa de orientação esquerdista a formar grupos entre semelhantes sendo estes considerados adversários e inimigos?
A visão mais pragmática de quem segue a Mão Esquerda faz com que tudo seja visto de modo mais estratégico para se alcançar os seus próprios objetivos. Uma das razões para a criação de grupos desse tipo seria alcançar algum objetivo em comum. Ou ainda enfrentar inimigos em comum. Confiar um no outro poderá se menos importante, ou relevante do que as vantagens obtidas pelas próprias habilidades e conhecimentos do associado. Tudo é resolvido na esquerda por meio acordos e negociações. Tanto para indivíduos a nível Físico quanto no intercâmbio com outros mundos.
ExcluirSe, por exemplo, na bruxaria, eu conseguir ter uma auto-iniciação, como orientar a minha formação na Arte em bases do caminho da mão esquerda, Onde e com quem buscar essa orientação?
ResponderExcluirBusque pela antiga arte da invocação, entre em contato com deuses e demônios, eles te orientarão neste caminho solitário e perigoso, mantenha seu ceticismo, mantenha seu questionamento, entenda que o que eles lhe trarão será a Verdade, mas apenas a parte que lhes cabe saber, servindo como referências para que você consiga se situar na existência, conhecendo a si mesmo em comparação a eles.
ExcluirNossa! adorei o texto. Me identifiquei demais.
ResponderExcluirBem esclarecedor. O conhecimento que realmente importa e nos liberta é o oculto. abraços. Parabéns.
Poderia dar exemplos específicos de ordens exotéricas que estudam e praticam essas magias (mão esquerda)
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