A partir do momento em que se
pôde observar a existência de formas distintas de busca espiritual, no qual se
via uma estruturada, formalizada e estabelecida em uma sociedade e época e
outra forma menos usual, por vezes contestadora e subversiva, se passou a
definir a forma mais tradicional e universalmente aceita como sendo a
"correta" e a outra como sendo "estranha". Sendo assim a
Direita passou a existir por sua relatividade com a Esquerda.
Certas características ficaram
mais claras ao se definir com termos mais específicos cada Caminho, de modo que
o Caminho da Mão Direita passou a ser visto como conservador, reacionário por
ser acima de tudo essencialmente "Dogmático".
O termo Dogma, mesmo que de
origem anterior, teve seu significado mais definido pelo uso feito deste termo
por parte da Igreja Católica Apostólica Romana. Em que definiu como sendo
assuntos inquestionáveis aqueles que por convenção, votação e eleição da
maioria se tivesse chegado a um consenso. Ou seja, a partir do momento em que a
maioria decidiu a cerca de determinado tema este não mais seria debatido e
passaria a constituir um Dogma.
Assim temos que mesmo que não sob
a influência da Igreja Católica, o Caminho da Mão Direita buscará como meta e
ideal um conceito inatacável, inquestionável de "Lei Divina", conceitos
dogmáticos, rígidos daquilo que é considerado correto, bem como do que não seja
aceitável.
Nesse sentido o simbolismo das
mãos do "Bode de Mendes" como representando os ideais a serem
buscados por cada Caminho se mostra bastante acertado no que se refere a essa
postura encontrada nesse Caminho, em que se busca trilhar sob conceitos de
Justiça e Lei, simbolizados pela Sephira Geburah.
É natural ao ser humano se
considerar como estando do lado correto, do lado vencedor, do lado "do
bem", mas no Caminho do Mão Direita isto se mostra especialmente
importante, pois por influência e associação ao Caminho Místico uma das metas
ideais passa a ser a busca pela "Pureza".
Ao tratar da questão do que representaria
um "vício" para o Caminho da Mão Direita eu vim a me referir no texto
"Os Dois Caminhos" à "busca pelo Prazer". É preciso ser
cuidadoso ao interpretar esta expressão pois este é um conceito bastante
relativo que exige que se defina a que tipo de prazer a Direita busca.
No caso essa busca se mostra
impelida pela tendência natural simbolizada pela Sephira Hod de buscarmos nos
unir aos que nos são iguais e este é o prazer almejado, pois o que geralmente
se vê enfatizado e como ponto comum neste Caminho são conceitos de
"Família Espiritual", "Fraternidade",
"Irmandade", "Lar", "Casa", "Morada"
etc.
Todos estes valores análogos aos
conceitos de "União", "Comunhão", sendo estes valores
observados simbolicamente pela água, em que vemos no Gênesis a passagem que
menciona que após ter sido criada a água, esta ter sido dividida entre
"águas de cima" e "águas de baixo", as de baixo foram
"colocadas todas em um só lugar criando-se assim o elemento árido".
Assim vemos essa união das águas, tal como se vê na Natureza todas as águas
convergindo para o Mar, assim representando o Caminho da Mão Direita, no qual
são cultivados valores relativos a essa união, fusão e dissolução dos
indivíduos em uma coletividade.
Deste modo também acaba por se
manifestar um novo desdobramento do vício da Direita pelo prazer, que é a
comodidade, o conforto, o amparo e apoio da coletividade que acaba por
enfraquecer a individualidade e inebriar a Vontade, levando a que os valores
representados pela Sephira Geburah não sejam vividos com plenitude, pois não há
uma busca pela superação, não há o impulso para a conquista, mas sim apenas uma
disposição a receber "Dádivas Divinas", se postando como
beneficiários da Benevolência simbolizada pela Sephira Chesed.
Como disse quando me referi aos
Dois Caminhos, as qualidades são mais mérito do indivíduo em sua busca do que
do Caminho no qual se encontra. Ou seja, mesmo que este impulso natural que
leva o indivíduo a ter uma orientação mais voltada ao Caminho da Mão Direita
acabe o levando a se acomodar, ainda assim caberá a ele superar essa tendência
para alcançar o ideal almejado.
A busca por colocar-se estrita e
dogmaticamente sob os rigores da "Lei Divina" leva a que a Direita
busque sempre pela Ordem e frequentemente assumem posturas de autoridade perante
aqueles que não estejam plenamente inseridos dentro do conjunto de regras
criadas por cada grupo. Esse conjunto de regras vem por criar e fortalecer a
identificação entre os participantes atribuindo assim uma identidade ao grupo.
Tal processo é muito mais
perceptível a níveis supra-físicos nos quais a sociedade não se encontre tão
estruturada como a que temos hoje a nível físico. Assim é comum que se encontre
as entidades da Direita estabelecidas em "Cidades",
"Cidadelas" ou "Colônias" a níveis supra-físicos nas quais
permanecem unidos entre si mas isolados dos que lhes sejam diferentes, formando
"ilhas" de Ordem na qual usufruam de alguns dos prazeres da
civilização.
Embora haja grande influência do
Caminho Místico na Direita, ainda assim se vê diferenças entre o que encontramos
nas culturas Ocidental e Oriental. Sendo que podemos observar que a Direita no
Oriente naturalmente dará ênfase ao desenvolvimento prático em detrimento do
teórico. E isso também é observado no Ocidente. Mas isso essencialmente no que
se refere ao Caminho Místico, pois naquilo que concerne ao Caminho Iniciático,
especialmente no Ocidente o que se vai observar é que a Direita irá dar ênfase
ao desenvolvimento teórico, muitas vezes até mesmo evitando a prática, ou a
reduzindo a atividades ritualísticas.
Existem grandes ressalvas por
parte da Direita de modo geral quanto à Prática especialmente de Magia, de modo
que só costuma ser considerada aceitável a Magia Branca. Mas isso em termos
ideológicos, pois neste caso a condição de Mago, como naturalmente alguém
distinto dos demais, entraria em conflito com os preceitos da Direita mais
voltados à comunhão de iguais.
As práticas ritualísticas e
sacerdotais encontradas em certos ramos da Direita levam a que se acabe por
exercer a prática do que alguns classificam como Magia Cinzenta, por ser uma
prática que não possua todos os requisitos que seriam necessários para a Magia
Branca.
As práticas tanto ritualísticas
quanto vivenciais, quer sejam de Escolas Iniciáticas ou Místicas, ou mesmo de
Instituições Religiosas no Caminho da Mão Direita estarão tendo como objetivo
proporcionar bem-estar. Existem os conceitos de caridade e altruísmo como
ideais universais, embora na prática costumem ficar restritos às suas próprias
comunidades e grupos.
Os preceitos da Magia Branca de
levar do material para o espiritual, são vistos com simpatia pela Direita, por
colocarem seus ideais intimamente ligados à figura da Divindade, como a fonte
Benevolente da qual usufruem. Deste modo há uma tendência a que suas práticas
muitas vezes acabem sendo mais voltadas a alcançar um certo nível de
sutilização, tornando-se menos densos, menos materiais, para assim usufruir
melhor das Benesses Divinas.
Existe a busca por realidades
Paradisíacas nas quais se possa estar em comunhão com a Divindade e com todos
que lhes sejam iguais, usufruindo assim de prazeres celestiais sem fim. Mas
para isso se faz necessário driblar a auto-crítica, pois inevitavelmente
acabariam se vendo como egoístas e esta costuma ser uma qualidade considerada
condenável, pois vai contra o conceito de igualdade afetando assim a união dos
iguais.
Com isso se observa o
comportamento de desprendimento quanto aos próprios ideais e metas, em que se
vê muitos assumindo posturas altruístas de quem abre mão de realidades
paradisíacas em prol de seu semelhante, sem se aperceber com isto o quanto esta
atitude o coloca numa posição de superioridade levando a grandes demonstrações
de vaidade.
Embora possa se reconhecer certas
tendências ao comodismo por parte da Direita, isto dá a falsa idéia de
passividade, quando na verdade a imagem altruísta e benevolente oculta uma
forma sutil mas não menos contundente de violência. Pois ao mesmo tempo que
buscam avidamente a comunhão dos iguais, também ocorre a repulsa pelos
diferentes, havendo assim até mesmo conflitos históricos e a ocorrência de
guerras motivadas por grupos religiosos ainda que ambos tenham uma orientação
mais voltada à Direita.
A intolerância para com os
diferentes leva a duas posturas, sendo uma a repulsa e o isolamento puro e
simples, enquanto a outra seria a busca pela conversão, a conquista de mais um
igual, desconsiderando a individualidade na tentativa de torná-lo igual para
assim ser aceito.
É importante que se diga que em
um sistema de classificação tão abrangente como este encontremos indivíduos nos
mais diversos níveis de desenvolvimento espiritual tanto na Direita quanto na
Esquerda. Desde aqueles que se deixam conduzir por esse impulso natural quanto
aqueles que reconhecem sua existência e o superam.
É frequente a associação da
Direita com o Simbolismo da Luz, tendo-se essa como expressão da Divindade, de
modo que estes por "cumprirem" as "Leis Divinas" se fazem
"merecedores" de Suas Dádivas, sendo assim "Iluminados".
Sem se darem conta de que estão se contentando em receber a Luz sem serem capazes
de a produzirem. Ou ainda como pessoas que se contentam em olhar o belo dia
pela janela, sem se aventurarem a sair pela porta por temerem passar pelo
corredor escuro até ela.
São considerados como de Direita
as instituições religiosas maiores e mais bem estabelecidas como a própria
Igreja Católica Romana, Copta, Ortodoxa, Igrejas Protestantes, Pentecostais
entre outras; Centros Espíritas Kardecistas, alguns Umbandistas e alguns outros
cultos de origem Africana mais tradicionalistas; os ramos mais
"populares" de Islamismo, Judaísmo, Hinduismo, Xintoísmo e Budismo e
diversas outras instituições religiosas mais tradicionais e socialmente aceitas
em cada cultura. Igualmente encontraremos certas instituições de estudos
ocultistas como por exemplo a Sociedade Teosófica, alguns ramos de
Rosacrucianismo, Maçonaria etc. Além de filosofias e tendências sociais tais
como o "Movimento New Age".
Curiosamente não apenas
instituições religiosas ou espiritualistas se encaixam nesse contexto como
também certas linhas de pensamento, ou mais especificamente certas condutas na
defesa de idealismo como no caso do Ateísmo em que as a figura da Divindade é
substituída pelo gênio humano.
É importante enfatizar que a
despeito do teor crítico do texto, a ênfase no que classifiquei de
"vícios" da Direita não representa uma crítica às instituições em si,
nem mesmo a seus membros, pois em todas encontramos sempre aqueles que superam
essas limitações naturais criadas por nossos impulsos inconscientes.
Muito bom o texto..realmente gostei muito. Vc teria algumas indicaçoes de leituras para iniciantes a magia branca e estudo da mao direita...bem como simbolos, protecoes e selos. Obrigada!!!!
ResponderExcluirTexto sóbrio!
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