Em vista de eventos recentes
tem-se discutido muito sobre as implicações éticas da realização de testes
clínicos em animais, especialmente cães. É de conhecimento de todos que existe
em nosso meio espiritualista um considerável número de simpatizantes da causa
de defesa dos animais, sendo a ecologia e o combate aos abusos e maus tratos
uma bandeira frequentemente erguida por estes espiritualistas.
Não há dúvidas de que esta se
trata de uma causa nobre, pois muitos em nosso meio concordam que nossa
condição humana sendo melhor suprida de recursos se tornaria moralmente
responsável pelos demais seres menos afortunados e portanto caberia a nós zelar
por sua preservação e bem estar, sendo esta uma condição ideal.
O que se poderia contrapor a essa
condição ideal é o fato de não vivermos em condições ideais e nossa realidade é
bastante diversa desta tida como ideal. De modo que esta bandeira ideológica de
lutar pelos direitos à vida e ao bem estar dos animais acaba caindo num juízo
de valores bastante tendencioso, de modo que se faz distinções de espécies
privilegiando aquelas com as quais nossa relação seja a de maior afeição.
Ou seja, se analisarmos com
isenção de ânimo constataremos que em nossa sociedade humana fazemos uso, sim
nós nos utilizamos dos animais das mais diversas e variadas formas. E todas as
formas implicam em submeter esses seres a situações alheias às suas condições
naturais.
Animais são utilizados para nosso
lazer, para nos proporcionar vestimentas, alimentos, objetos etc. E nisto
viemos a estabelecer uma escala de "simpatia" que temos para com cada
espécie de acordo com o uso que fazemos delas, sendo que especialmente aqueles
que são utilizados para o nosso lazer, como por exemplo cães acabam sendo
tratados de maneira quase idêntica a que se trataria um ser humano.
Há quem diga que alguns animais
seriam tratados melhor que muitos seres humanos, mas isso seria um equívoco,
pois dar um tratamento humano, por melhor que seja a um animal não é fazer-lhe
um bem, pois estará da mesma forma corrompendo sua natureza.
Deste modo, se buscarmos ter
alguma imparcialidade podemos chegar facilmente a conclusão de que dar a um
animal tratamento humano não é tratá-lo bem, pois tal modo de tratar faria bem
a um humano e não estaria verdadeiramente atendendo às necessidades do animal.
Nesse ponto podemos agora
considerar o contraponto da questão apresentado pelos representantes das
Ciências Convencionais que com muito propriedade alertam para a questão de que
dentre os inúmeros usos que damos aos animais, a utilização destes para testes
laboratoriais seria de longe a de maior utilidade, sendo crucial para a
melhoria e bem estar da própria vida humana.
Esta questão só entra em conflito
quando os animais utilizados são aqueles que normalmente nos servem como fonte
de lazer, conforto emocional e companhia, de modo que se estabelece um natural
vínculo de simpatia pelo recorrente hábito de humanizar estes seres, ou seja,
vê-los como análogos aos humanos.
Normalmente não nos detemos na
observação de que criamos tais animais única e exclusivamente para satisfazer a
nossas necessidades humanas, as diversas espécies de cães por exemplo foram
criadas com propósitos muito específicos de nos prestar serviços, tais como
caça, pastoreio, guarda, companhia etc. Se tirar toda uma espécie da natureza e
alterá-la geneticamente para que melhor cumpram as tarefas que nos interessam
não é um mau trato não saberia dizer o que seria então.
Imaginemos o inverso. Imaginemos
que uma outra espécie criasse humanos, fazendo cruzamentos específicos para
obter melhores corredores, ou escaladores por exemplo, ou para que se
desenvolvesse características que aos olhos desses outros seres parecesse mais
esteticamente interessante, como selecionar aqueles que tivessem mais ou menos
pelos corporais, que tivessem tal ou qual cor e assim por diante.
Mesmo que nos dessem o que comer,
nos dessem um espaço para viver da escolha deles e nos dessem atenção quando
lhes fosse interessante, ainda assim não nos sentiríamos bem tratados. Então a
idéia de que ao termos um animal doméstico estamos atendendo a todas as
necessidades desse ser é ilusória.
Assim, é preciso que vejamos que
dentre os diversos tipos de maus tratos que damos aos diversos animais que nos
servem, caberá apenas considerar o que menos prejuízos irá trazer àquele ser,
dentro daquilo que nos seja possível. Sendo que se tais criaturas foram criadas
por nós para cumprir determinada função que ao menos essa tenha uma utilidade
para nós que compense o sacrifício ao qual o animal é submetido para o nosso
bem estar.
Da mesma forma que criamos
animais para alimentação e produção de outros bens de consumo, assim também
criamos animais para nosso lazer, bem como para nossos experimentos científicos
para a criação de novos recursos na área médica e industrial. Mesmo em se
tratando dos mesmos animais cada qual estará sendo criado com uma finalidade
diferente.
Por exemplo há quem crie porcos
não para alimentação mas sim para companhia, bem como eles também podem ser
criados para a realização de experimentos. Da mesma maneira de acordo com o
local e a cultura cães também estarão sendo criados para alimentação e não
apenas para companhia e da mesma forma se cria cães para a realização de
experimentos.
De todos os males que fazemos aos
animais só nos cabe considerar causar o mínimo de impacto negativo e extrair o
máximo proveito da função à qual os destinamos. E dentre essas diversas funções
quer me parecer que poucas seriam tão nobres quanto sua utilização para
garantir a segurança, saúde e bem estar do ser humano no consumo de
medicamentos e outros bens de consumo.
Enfim vemos que os simpatizantes
das causas protetoras dos animais devem com certeza se colocar em campo na
vigilância de que estes seres não estejam sofrendo em vão, que tenham o máximo
de bem estar possível no limite de sua utilização. Não cabendo a estas
organizações o trabalho de redefinir a utilização atribuída ou ao que se
destina a criação de cada espécie ou animal em particular.
Assim vejamos que utilizar um
animal que foi criado para nos servir de companhia para alimentação seria algo
inadequado, como também seria inadequado utilizar para companhia um animal que
tivesse sido criado para servir de alimento, e isto se aplica igualmente ao
desvio de função de um animal que tenha sido criado para a realização de testes
clínicos, não servindo esse nem como alimento e nem como animal de estimação,
sendo que isto sim se caracterizaria como um mau desnecessário. Da mesma forma
que não deveriam estar sendo utilizados para nenhum desses fins animais
selvagens, que tivessem sido retirados de sua condição natural.
Normalmente aplicamos esta lógica
pragmática a todos os contextos, mas nos eventos recentes organizações de
proteção aos animais estiveram deixando essa lógica de lado e tomando atitudes
com base em sentimentalismos, por considerar que, no caso cães, só deveriam
servir como companhia, deixando de levar em conta que em diversos povos e
culturas eles são criados também para alimento e aqueles que estivessem
servindo para a realização de testes clínicos teriam sido criados justamente
com essa finalidade única.
Mas o caro leitor questionaria
que este espaço se destina a assuntos atinentes às Ciências Ocultas e desta
forma vou então trazer aqui alguns conceitos a serem levados em consideração
dentro deste contexto.
Embora para as Ciências
Convencionais o ser humano venha a ser considerado como uma espécie animal,
este só é considerado assim por se estar considerando apenas e tão somente sua
realidade física e corporal, de modo que de fato, os corpos humanos são corpos
animais, embora no entanto, no estudo das Ciências Ocultas, que leva em
consideração não apenas os corpos como também a entidade que o habita aí
veremos uma distinção entre humanos e animais.
Pode parecer confuso, mas a
questão não é de todo complexa, sendo que levamos em consideração a existência
de diversos "Reinos", assim como conseguimos distinguir boa parte das
vezes seres do Reino Animal de seres do Reino Vegetal, por possuírem corpos
diferentes, assim também distinguimos seres do Reino Humano de seres do Reino
Animal, embora essa distinção não seja feita pela observação dos corpos, mas de
sua essência consciencial.
Assim o Reino Humano, mesmo sendo
composto por seres de natureza consciencial distinta ainda assim se utilizam de
corpos essencialmente animais. Assim observamos que há uma sensível diferença
entre aquilo que seria benéfico ao ser Humano em essência daquilo que seria
benéfico para os Animais como seres vivos.
Como utilizamos corpos animais,
muito do que serve aos corpos de diversos animais também servirá para o corpo
humano e em razão disto é que se torna possível para as Ciências Convencionais
a realização de testes com corpos animais para se ter uma análise aproximada de
como seria a reação dos corpos humanos naquelas mesmas condições.
Aí entraria a questão ética de se
seria aceitável que pertencendo a um Reino se fizesse uso dos seres de outro,
mas isso é observado na Natureza o tempo inteiro, de modo que Animais, assim
como Humanos se utilizam de seres Vegetais, para Alimento, para Abrigo e outros
fins, da mesma forma que seres Vegetais se utilizam de Animais e de Humanos em
muitos casos para reprodução por exemplo.
Todas essas interações são
Naturais e apenas a moral Humana é que nos leva a questionar tais questões.
Especialmente por transferir aos demais seres características que lhe são
particulares, tais como a maneira como lidamos com a dor e o sofrimento, que
não é a mesma maneira com que os demais Reinos lidam.
Podemos levar em conta conceitos
como sofrimento moral, que seria quase que exclusivamente humano. Animais por
exemplo são capazes de sentir emoções, mas não vinculam nenhuma emoção
específica à dor, a dor é simplesmente sentida fisicamente. No máximo se
observa reações comportamentais instintivas, tais como medo por exemplo,
criando-se assim o efeito traumático de se buscar evitar sentir aquela dor
novamente.
Isto é diferente de uma decisão
humana por não querer mais passar por tal situação, eles não tomam decisão
nenhuma, trata-se de uma reação inconsciente, que aliás também possuímos. Deste
modo é preciso que se leve em consideração que diferentemente dos Humanos os
seres Animais não lidam de maneira emocional com a Morte, eles lidam de maneira
mais natural como nós também deveríamos, sendo que a Morte em si não nos obriga
a nenhuma resposta emocional específica e esta apenas se mostra como um
condicionamento cultural que varia de acordo com a época e o povo em questão.
Outro ponto importante a ser
observado na relação entre Humanos e Animais é que muitas escolas
reencarnacionistas tratam do tema da reencarnação de Humanos em condições
Animais e este é um processo que embora ocorra caberia se estabelecer uma
distinção no uso do termo reencarnação, pois nestes casos não seria exatamente
o mesmo processo de quando se retorna a uma encarnação Humana.
Este outro processo é conhecido
como Metempsicose, que trata de aspectos um pouco mais obscuros de nossa
constituição oculta consciencial. Nossa consciência tem como veículo de
manifestação não apenas os corpos sutis como também a consciência e a memória
dos átomos que compõem os corpos mais densos. Assim temos que certos
conglomerados atômicos, veículos de consciência, que componham um corpo humano
na hora de sua morte, poderá ocorrer destes migrarem e serem absorvidos e
utilizados na constituição de corpos de Animais, ou mesmo de Vegetais, ou ainda
outros Humanos.
Assim observa esse fenômeno no
qual por vezes acessamos a memórias, tidas como reencarnatórias de experiências
vividas nessa condição distinta de ter uma porção de si habitando outros
corpos, de modo que isso demonstra que o processo reencarnatório é ainda mais
complexo do se poderia supor.
Dentro dessas memórias
encontramos também as sensações vividas, de modo que nos seria possível muitas
vezes reviver a experiência, como dores, sofrimentos, emoções, pensamentos
exatamente como ocorreria numa encarnação propriamente dita. Assim ocorre que
em determinados meios se utiliza deste recurso da natureza para realizar
"correções kármicas" submetendo o ser a experiências que de outra
forma não teria como passar por elas, como de compartilhar de momentos de
agonia de animais por exemplo.
Alguns se utilizariam disto como
argumento para que abandonasse toda forma de utilização dos animais para evitar
que "espíritos humanos" também sofram com eles, no entanto não só a
morte como a própria dor fazem parte da natureza e apenas nossa postura
anti-natural nos leva evitar tais coisas. Talvez tudo que precisemos seja
realmente o conforto psicológico de que nosso mal é necessário.