Com os recentes acontecimentos
envolvendo o atentado terrorista ao jornal Charlie Hebdo em Paris, os temas
terrorismo e fanatismo, mais uma vez são associados à prática do Islamismo.
Noto que mesmo em nosso meio ocultista, onde seria de se esperar haver uma
visão um pouco mais esclarecida sobre o assunto, vemos que ainda ocorre uma
certa dificuldade em distinguir ou dissociar as coisas. Igualmente em outro
meio em que seria de se esperar uma visão mais esclarecida, como no caso dos
céticos, ateus e livres pensadores, ainda vemos igualmente visões deturpadas e
distorcidas, tendenciosas e preconceituosas. De modo que a cada vez que nos
deparamos com o tema as opiniões se dividem automaticamente entre os favoráveis
e contrários e ferozmente se contestam mutuamente, se mantendo cegos à visão do
outro.
Da maneira tendenciosa que as
notícias são colocadas na imprensa e repetidas pelas redes sociais, dá a
impressão de que só existam terroristas muçulmanos e que estes só são
terroristas por serem muçulmanos. Se isso fosse uma realidade e não apenas uma
visão delirante que só visa produzir a discriminação, seria o caso de se
perguntar se realmente nas cabeças pensantes dos contestadores, céticos e
anti-religiosos, faria algum sentido buscar resolver esse problema por meio do
escárnio e do deboche.
É muito importante que fique
claro aqui, que este texto não visa justificar, nem legitimar, nem apoiar, nem
mesmo fazer apologia à qualquer tipo de prática violenta, desproporcional,
cruel ou covarde, seja ela praticada por quem for. O que estamos tratando aqui
é de compreender o assunto de forma mais sóbria e sem todas as paixões
partidaristas envolvidas no tema. E sem aquela postura de repúdio, choque e
consternação produzida por atos violentos. Todos sabem que atos violentos são
condenáveis em toda sociedade. Só são aceitos quando justificados por meio de
conceitos que aceitemos. Se não aceitamos os conceitos então será para nós algo
injustificado e injustificável.
Não vamos tratar aqui do ato terrorista
em si, mas sim de suas alegadas motivações. O primeiro ponto relevante é quanto
aos autores do ato. Os adjetivos atribuídos a eles são sempre de extremistas
fanáticos. Antes de falar das motivações nos detenhamos no conceito do que
seria um extremista fanático. Essa é uma condição psicológica encontrada
estatisticamente em todos os povos, grupos sociais, sociedades e culturas.
Sempre haverá um certo número de extremistas fanáticos.
O objeto de obsessão do fanático
poderá ser uma equipe esportiva, um partido político, um movimento social, uma causa de algum grupo
social, ou mesmo uma organização, entidade ou grupo específico, uma corrente
filosófica, ou ainda a obsessão do fanático pode ter como objeto uma linha de
pensamento pessoal, particular, um conjunto de valores pessoais e não apenas
organizações religiosas como parece que querem que se acredite. E dentro das
organizações religiosas, bem como entre grupos dedicados a questioná-las e
contestá-las, como no caso de movimentos em prol da laicidade da sociedade,
veremos fanáticos extremistas dentro de todas as organizações e em todos os
setores em igualdade de condições e em mesma proporção.
O indivíduo que é fanático,
extremista e violento, é alguém que vive intensamente suas convicções e irá reagir
agressivamente a qualquer contestação e ele será assim independente do objeto
de sua obsessão. Assim vemos pessoas das mais diversas crenças e descrenças
cometendo atos violentos e desproporcionais, muitas vezes covardes, contra
alvos que são legitimados em sua forma de pensar de acordo com seus valores e
convicções. Quer seja ele ateu, cristão, muçulmano, judeu, comunista,
reacionário, revolucionário, ou o que for, ele é apenas alguém com uma visão de
realidade distorcida e que não se encaixa nos padrões civilizatórios atuais. Em
diferentes épocas, contextos e culturas, esses indivíduos, que sempre existiram
em todos os meios, já foram considerados heróis, enquanto em outras condições
são tidos como aberrações.
Essa parcela da população que
possui tendências ao fanatismo, ao extremismo, é formada por indivíduos cuja
sua natureza é esta e seus argumentos e justificativas são elegidos
aleatoriamente, podendo por vezes até mudar para extremos opostos ao longo da
vida, mantendo sempre as mesmas características e extremismo, violência. Por
vezes motivados por fatores ambientais e sociais, por não se enquadrarem nos
modelos convencionais de convívio e comportamento na sociedade. Por isso vão
buscar justificativas e contextos nos quais possam se inserir e nos quais o seu
extremismo seja tolerado.
Existem graus e níveis de
fanatismo em uma escala na qual boa parte não chegam ao ponto de realizar atos
violentos, nem de atentar contra a vida de alguém. De modo que muitos níveis
são tidos como plenamente aceitáveis dentro da sociedade e até mesmo conquistam
a simpatia daqueles que não compartilham do mesmo grau de comprometimento, mas
se encantam quando o objeto de obsessão do fanático é também um objeto de
admiração do seguidor menos convicto.
O que costuma criar tanta
polêmica é quando um deles parte para uma ação violenta e isso choca a opinião
pública que se escandaliza com o ato bárbaro, como se diariamente não ocorresse
uma infinidade de mortes violentas ao redor do mundo, sem qualquer
justificativa. Quando ocorre uma cuja a justificativa seja uma convicção
ideológica isto assume um status e uma dimensão enormes e automaticamente se
vincula a ideologia ao ato como se todos aqueles que sejam simpatizantes da
ideologia fossem também simpatizantes do ato, ou fossem igualmente capazes de
cometer a mesma ação.
Nem todo fanático é um assassino
em potencial, mas entre os fanáticos existem aqueles que também são por
natureza violentos e estes sim são capazes de tais atos. Mas se assim são não é
em razão da ideologia que adotaram. As ideologias são usadas e manipuladas
pelas pessoas extremistas, fanáticas e violentas de modo a justificarem suas
ações, sendo que elas manipulam a ideologia e não o contrário. Pois toda
ideologia tem igual força e poder de encantar e fanatizar, não há uma que seja
mais capaz disso que outra, tudo dependerá de inúmeros outros fatores,
circunstanciais, sociais, culturais etc.
Em geral, essas pessoas
extremistas e violentas, possuem um fascínio paralelo, independente e as vezes
alheio à ideologia adotada, pelas armas, pelo militarismo, pela luta, pelo
conflito e combate físico, de modo que sua verdadeira adoração é pela violência
e usará qualquer ideologia que tenha para justificar e lhe dar oportunidades de
extravasar, exteriorizar e vivenciar essa paixão.
De modo que tudo será uma questão
oportunidade. Uma pessoa violenta poderá usar como argumento, justificativa
para a agressão física a disputa entre dois clubes esportivos, ou dois partidos
políticos, ou movimentos sociais e não apenas religiosos, e ainda menos uma
religião específica. Ou seja, uma coisa é o indivíduo violento e seus atos.
Outra coisa são as ideologias e a maneira como elas são tratadas que podem vir
a dar oportunidade para que pessoas violentas de ambos os lados manifestem este
seu lado mais selvagem.
Assim, voltando ao caso do jornal
francês, eles foram vítimas de indivíduos violentos porque deram a eles
oportunidade e justificativa ao ferirem a ideologia que eles adotavam, ou seja,
não faz sentido atribuir à ideologia nem mesmo à todos aqueles que dela
partilham a autoria do ato violento. A qualquer grupo ou ideologia que se venha
a ferir, havendo oportunidade os indivíduos violentos que deste grupo fizerem
parte irão aproveitar para realizar atos violentos. Não importando qual seja o
grupo, pois todos terão alguma porcentagem de pessoas violentas, que se tiverem
oportunidade irão promover a barbárie e partirão para a bestialidade praticando
crimes violentos.
O jornal em questão tinha como
linha editorial uma posição laica e anti-religiosa, usando como arma o deboche,
a sátira e o escárnio, dirigido às mais diversas ideologias religiosas. Se
outros indivíduos violentos de outras das ideologias atacadas não reagiram da
mesma forma foi apenas por não terem tido oportunidade. Porque encontramos
pessoas violentas em todos os grupos e ideologias.
Tirando de foco o infeliz
incidente e nos detendo apenas à questão puramente ideológica, temos a relação
do jornal para com as religiões em geral, que sob a bandeira do humor,
satirizavam figuras marcantes, ídolos e entidades simbólicas e representativas
em especial das religiões de presença mais marcante na Europa, sendo no caso o
Islamismo, o Cristianismo e o Judaísmo.
É uma discussão bastante atual a
questão da existência ou não de limites para o humor. Na cultura ocidental de
origem européia o humor teve sempre uma relação muito próxima com a
comunicação, com saltimbancos encenando comédias em praças públicas na idade
média e renascença, satirizando membros das cortes, ajudavam a divulgar
informações sobre a nobreza para o povo que de outra forma não obteria.
Com o tempo foi se tornando mero
entretenimento, com o fim de divertir as pessoas. No caso desses cartunistas
franceses a questão é qual seria o público alvo, de modo que é esse público
alvo que se estaria buscando divertir. E para tanto os humoristas ao longo da
história sempre se valeram dos estereótipos sociais, preconceitos, ofensas,
deboche e escárnio de grupos em prol do entretenimento de outros. Mas vejo que
no caso eles cometeram um erro grosseiro de estratégia, pois ao atacar as
religiões eles restringiram seu público alvo, já que ao menos 80% da população
mundial está ligado a alguma religião.
Se trata no caso não de uma
empresa visando lucro, ou do contrário estariam buscando um público alvo cada
vez maior. Quer parecer que eles próprios estão externando suas próprias
convicções ideológicas anti-religiosas. Em se tratando de uma convicção
ideológica e sendo essa a de que haja intolerância e rigidez por parte das
ideologias religiosas, não vai ser desqualificando essas ideologias que irão
torná-las menos rígidas ou menos intolerantes. E se eles possuem a convicção de
que religião é uma abstração fantasiosa e essa convicção tem valor para eles,
seria de se esperar que compreendessem que outras pessoas possuem outros
valores e que estes são igualmente importantes para cada um. Não ter essa
compreensão é justamente uma forma de intolerância.
A sociedade francesa foi muito
marcada pelos valores da liberdade, igualdade e fraternidade. Mas os pensadores
de hoje só têm se detido no princípio da liberdade, no caso a liberdade de
expressão, só que esta não garante a concórdia, não garante a paz, não inibe a
violência, podendo até mesmo produzi-la, em especial se quem se propor a exercer
sua liberdade for alguém fanático, extremista, violento, intolerante etc.
A igualdade é vista de forma
distorcida, pois igualdade não significa que todos sejam ou tenham de ser
iguais a você, mas sim que a pesar das diferenças ninguém é superior a outro,
sendo assim iguais. E onde está a fraternidade se todos estiverem lutando entre
si pela sua liberdade de querer forçar os outros a serem iguais a eles
próprios?
Hoje vemos esses sagrados
princípios tão sábios e importantes para o Ocultismo sendo banalizados e
utilizados para justificar a desunião, promover a discórdia e abrir espaço e
oportunidade para a violência.
A CH é sionista, não é laica.
ResponderExcluirA Al Qaeda é da CIA, tudo que eles fazem é suspeito de conspiração, basta lembrar do Bin Laden.
Os terroristas (europeus pobres fáceis de manipular) são laranjas!
A opinião pública francesa agora apoia as ações de seu exército no oriente médio.
Isso explica tudo!
Os franceses há muito esqueceram os nobres ideais de sua revolução, lá a xenofobia impera e o consumismo cega.
Je suis Amarildo!