Talvez você esteja se
perguntando: Por onde começo? A resposta padrão seria: Pelo começo. Mas no
Ocultismo não existe começo. Ao menos não como conhecemos. Nosso começo não
está em um lugar. Esta história não começa com alguém. Nem mesmo houve um momento
no qual tenha começado. O começo é impossível.
Tentemos imaginar a Existência,
ela em si não é passível de ser imaginada sem que se tenha um ente existente
para o qual a Existência seja uma qualidade que o defina. A Existência é o
Começo, ela surgiu em algum momento incerto e não sabido, talvez esse momento
tenha sido nunca. Mas continuemos pensando. Temos a Existência e o Ente
Existente como duas coisas impossíveis de serem separadas, pois sem um Ente
Existente não é possível se dizer que haja a Existência e sem a Existência não
se pode dizer que o Ente de fato de Exista. Mas isto ainda está vago, isso não
tem como ser tudo.
Só é possível definir a
Existência perante a Não Existência e do mesmo modo não há como se falar da Não
Existência sem nos referirmos a um Ente Não Existente. Algo tem que Existir,
Algo tem que Não Existir e só assim teremos como definir as grandezas de
Existência e Não Existência, ou do contrário não teríamos qualquer parâmetro
para definir o que quer que fosse.
Aí nos ocorre a pergunta: Porque
existe algo ao invés de nada? Porque a Existência Existe? Porque o Existente
Existe? Não seria mais natural a Não Existência? Seria esse o começo? A Não
Existência? Para tanto seria preciso que tenha havido um Ente Não Existente?
Algo teria de Não Existir para servir de base para algo que tivesse vindo a Existir
em um determinado momento?
Para que Algo pudesse Não Existir
este teria de ter Existido antes? Então a Não Existência não poderia ser o
começo. Bem como nos questionamos como poderia a Não Existência gerar a
Existência?
A Existência só existe quando
comparada com a Não Existência e isto tendo Algo Existindo para que esta o
defina e para tanto também se faz necessário que haja um Ente Não Existente.
Uma não é possível sem a outra. O Começo, o que quer que seja que deu Origem a
estas duas Grandezas, seria uma terceira coisa.
Uma coisa Impossível. Uma coisa
que ao mesmo tempo teria em si a Existência e a Não Existência. E este terceiro
aspecto seria uma condição que semelhante às outras duas só teria como ser
definida tendo-se Algo que se encontrasse nessa condição.
Estranhamente isto não nos é
estranho. Como é que nós somos capazes de conceber o conceito de Existência e
Não Existência? Se a Não Existência não se encontra no Universo Existente, como
assimilamos a ideia de Não Existir? Como é possível para nós entendermos a
Existência como algo oposto à Não Existência? Se eu estou dentro d’água e não
conheço o ar, como posso saber que há algo que não seja água? Não tenho nem
como dizer que a água exista, vou chamar a água de Nada ou nem lhe darei nome.
Para entender que exista água eu teria de já ter estado fora dela.
Isso é muito difícil de ser
explicado. Como podemos saber sobre a Não Existência? Em algum momento já
tivemos a experiência de Não Existir? Isso seria possível se considerarmos que
sejamos Algo, um Ente Existente que já foi um Ente Não Existente. Mas se Não
Existimos como poderíamos ter consciência disso? Ao Existir nos damos conta de
que antes de determinado momento não Existíamos, como isso é possível? Se tudo que
Existe é a Existência? Pois se o Ente Existente não Existe tecnicamente a
Existência também não. Então ou Existíamos e apenas não tínhamos consciência
disso, ou não existíamos e guardamos de alguma forma esta informação, o que é
essencialmente impossível.
Não é possível à Existência Não
Existir. Bem como não é possível à Não Existência Existir. Seriam então
Universos Paralelos? O Universo da Existência e o Universo da Não Existência,
como sendo duas Existências Contrárias. Nesse caso não haveria comunicação
entre esses Universos, como nos seria possível termos consciência de ambos?
Só estando numa Terceira
Realidade numa condição que não fosse nenhuma das duas e que nos fosse possível
estar ora numa ora noutra. Essa Terceira condição seria o Começo, a Origem, a
Fonte, a Raiz, a condição original antes de a Existência vir a Existir.
Imaginemos um começo, um início,
temos uma condição na qual o que há não é nem Existência e nem Não Existência,
mas algo que seria a junção de ambas numa mesma realidade. Ao mesmo tempo
teríamos necessariamente que Algo se encontrasse nessa condição, Existindo e
Não Existindo ao mesmo tempo. Esta é uma condição insustentável, não há como
manter ambas as realidades coexistindo, o que quer que fosse era uma terceira
coisa que não seria nenhuma das duas.
Obrigatoriamente a Existência
teria de vir a Existir e a Não Existência deveria deixar de Existir, por assim
dizer. Nesse caso essa condição insustentável, o que quer que seja não pode nem
mesmo ter Existido, por não fazer parte da Existência e nem mesmo pode não ter
Existido, pois não faz parte da Não Existência.
E o Ente desta Terceira Condição,
teria condições de “ver” a Existência e a Não Existência. Assim como nós. O que
é que definimos como sendo Eu, a nossa Auto-Consciência é a capacidade de
constatar a nossa condição como um Ente Existente, só que somos Conscientes
também da possibilidade da Não Existência, então teríamos duas possibilidades para
nós enquanto Consciências.
Isso tudo parece muito confuso. E
de fato o é. Mas pensemos, sigamos essa linha de raciocínio, ela serve
perfeitamente para nos levar ao tipo de entendimento necessário para se
compreender o Ocultismo, para se entender tudo que se encontra para além da
Realidade Material Física.
Entendendo o Começo, o Princípio,
o Início, como uma condição Primordial, absolutamente desvinculada de tempo e
espaço. Temos então A Consciência e o Ente Consciente, a Existência e o Ente
Existente, e a Não Existência e o Ente Não Existente.
Estas são as Seis Entidades
Primordiais. Derivadas das Três Grandezas, Três Condições Primordiais. Em cada
Cultura e Época se deu diferentes nomes e explicações para este Conhecimento.
Brahma, Vishnu e Shiva; Deus Pai, Deus Filho e Divino Espírito Santo; Osíris,
Hórus e Ísis. Assim como as Seis Entidades já foram chamadas nas Tradições
Hebraicas como Elohim, tendo-se inclusive nos textos originais do Gênesis uma
referência a eles na passagem: “E os Seis fizeram os Céus e a Terra”.
Assim temos também a relação
entre Macro Cosmos e Micro Cosmos. Consciência, Existência e Não Existência
compondo as realidades que dão sustentação aos seres. E o Ente Consciente, Ente
Existente e Ente Não Existente, que dão justificativa às próprias Condições
Primordiais.
Aqui encontramos aquilo que
algumas escolas chamam de Ternário Superior. Se considerarmos que o Ente
Consciente é aquele que contempla a Existência e a Não Existência, sendo esta
uma condição que não costumamos vivenciar no cotidiano, não se aplicando as
questões simples, de modo que temos uma forma de Consciência mais objetiva que
é representada pelo próprio Ente Existente, já que somos Conscientes de Nossa
própria Existência, tendo-se aí algo como Superconsciente, Consciente e
Inconsciente. Em outros termos, Eu Superior, Eu Inferior e Não Eu, ou ainda O
Outro.
Então vemos aqui o Começo, tudo
teria começado com a Consciência, esta primeiramente só teria vindo a surgir ao
se ter o Ente Consciente, por sua vez O Ente Consciente ao tomar contato com a
Existência teria a si mesmo numa condição de Não Existência, enquanto que ao
tomar contato com a Não Existência é que se tornaria Existente. Nesse sentido
teríamos ao Ente Consciente como aquele que contempla a um espelho.
As Três Realidades teriam seu
começo em um mesmo exato momento de Tempo, só seria possível o surgimento
simultâneo dessas realidades já que são interdependentes. Deste modo também não
teria como se definir um momento no Tempo no qual este evento poderia ter se
dado a menos que se tivesse como definir em termos de espaço.
O que nos traz por sua vez outro
desafio. Se tudo que veio a surgir foi unicamente um único e mesmo Ente em três
realidades possíveis e impossíveis, não teríamos então como distinguir o Ser
daquilo que o rodeia, não sendo possível definir localização no Espaço, ou
seja, este ser seria todo o Espaço e também todo o Tempo. Então quando se deu
esse processo, a resposta seria: Nunca, em momento nenhum. E onde se deu e para
a questão de onde isto se deu, a resposta seria: Em toda a parte.
Temos então três Universos vazios
e sem forma, sem formas no espaço e sem formas no tempo, um espaço e um tempo
impossíveis de serem medidos. Não se tem como definir se é um evento que se deu
numa fração infinitesimal de segundo, ou num período absurdamente longo de
milhões de incontáveis Eras. Não tem como se definir se essa condição
primordial abrangia a vastidão cósmica de incontáveis Universos ou se
corresponderia a um ponto diminuto perdido em meio ao vácuo Quântico.
Isto porque todas as nossas
referências são posteriores a este evento e este por sua vez não tem como ser
situado em momento algum do passado, pois se trata de algo absolutamente
impossível, alheio ao nosso Universo Físico.
Então se nesse ponto temos três
Universos e ao mesmo tempo também sabemos que nenhum deles é este nosso que
julgamos conhecer bem. Três Universos sem formas, para os quais temos corpos
sem forma. Assim essas Realidades e Corpos receberam diferentes nomes e aqui
podemos defini-los como Planos de Existência, em que se tem o Plano Espiritual,
ou Plano Primordial, onde se possui o Corpo chamado de Espírito, correspondendo
ao Universo da Consciência e ao Ente Consciente. Convencionou-se classificar
como o próximo passo lógico a Não Existência, pois para se abandonar a condição
Primordial, por esta ser impossível e insustentável, o mais natural seria que
se criasse a Não Existência, pois é mais fácil para algo impossível vir a Não
Existir do que vir a Existir. Apenas a questão é que ao se criar a Não
Existência a Existência passa a ser uma realidade inevitável, como o reflexo
que surge no espelho assim que se acende uma luz.
Assim a origem da Existência é a
Não Existência, e temos no Universo da Não Existência uma Realidade Transcendente
na qual encontramos nossa Essência. Sendo muitas vezes uma realidade à qual já
se referiram como Plano Búdico, ou Plano da Iluminação, Nirvana, Devakan, uma
realidade alcançada em estados de meditação profunda chamado de Samadhi,
tendo-se para este Plano Transcendente o corpo chamado de Alma, que por fazer
parte de uma realidade de Não Existência teria de ser criado, sendo este um dos
grandes paradoxos desse Universo.
Enquanto o Universo da Existência
seria basicamente a origem de tudo que veio a surgir a partir de então. Tudo
aquilo que é passível de existir. Alheio a tempo e espaço. Um lugar em que o
infinitamente grande se encontra com o infinitamente pequeno. Em que passado e
futuro fazem parte de uma mesma realidade. Onde encontramos tudo existiu,
existe, existirá, não existiu, não existe e não existirá. Como um reflexo de um
reflexo que se estende se multiplicando infinitamente criando-se padrões
fractais de formas primordiais.
A este Universo se convencionou
chamar de Universo Mental, pois nele a Consciência toma contato com a
Existência. Aqui encontramos uma primeira raiz para a estrutura de tempo e
espaço que conhecemos. Pois passamos a conceber uma sequência lógica, na qual
no Universo Primordial o Espírito é dotado apenas e tão somente de sua
capacidade de Ser, seguindo para o Universo Transcendente se adquire a
capacidade da Alma de Perceber, até que no Universo da Mente este Ente
Consciente adquire a capacidade da Expressão, tomando seu lugar em meio à
diversidade de formas e reflexos elegendo a algum deles como sendo seu próprio
Corpo Mental, embora ainda numa condição Abstrata, subjetiva, fazendo parte de
tudo, estando em toda a parte e em todo o tempo, ao mesmo tempo em que a tudo
observa de fora, mesmo não havendo um dentro.
Chegamos rápido demais até aqui?
Não há muitas maneiras de se tratar o assunto. Esqueça referências. Não pense
em quem disse isso. Não estamos tratando das leituras e sim da análise das
coisas em si. Não estamos falando das formas, não estamos falando de nosso
Universo Físico, Material. Estamos falando de outra coisa. Estamos falando de
algo impossível, que nunca aconteceu e que constitui nossa Origem Consciencial.
Essa é uma história de antes do
tempo e de fora do espaço. Não se trata da Origem de nosso Universo Físico e
sim da Origem dos diversos Universos do qual este nosso é apenas mais um. Estamos
tratando dos Universos que deram origem ao que nós somos. Embora
paradoxalmente, ao se analisar isto comparativamente a nossa Realidade Física,
jamais tenha ocorrido, ou ainda estaria no Futuro.
Ainda nos falta ver tudo que
existe entre este nosso Universo estes dos quais tratamos até aqui. De modo que
disso tudo se trata o Ocultismo e se queríamos um começo aqui está, saber como
as coisas começam nos permite entender o que são e como funcionam, pois a
Natureza segue basicamente algumas mesmas regras para quaisquer realidades com
as quais venhamos a tomar contato. Se nós entendemos essas questões fica mais
fácil entender tudo o mais que se nos apareça e nos permite julgar melhor o que
é real e o que não é. Embora a realidade seja bastante relativa quando se trata
de outros Universos.
Muitos questionamentos surgem ao
se expor essas questões, em geral quem busca pelo Ocultismo o faz a procura de
respostas para algumas perguntas mais objetivas, relativas a questões bem mais
terrenas e quando não referentes à experiência de vida pela qual se está
passando. Então é algo natural que se considere tal conjunto de informações
absolutamente irrelevante, pois não possui teoricamente nenhuma aplicação
prática.
O que é preciso entender é que o
Ocultismo é como um mapa, um mapa tão completo e com tantos detalhes que ele
acaba tendo o mesmo tamanho que o próprio terreno mapeado. O que estou fazendo
aqui é definindo a extensão do mapa, esse é o começo, é apenas um conjunto
mínimo de informações iniciais, apenas para que se consiga entender do que se
trata o Ocultismo.
Então é algo que se tem como aprender
em duas semanas? Dois meses? Dois anos? Vinte? Não... É algo tão grande quanto
a própria vida e podemos estudar a vida inteira e com a mais absoluta certeza
não bastará para aprender tudo. Simplesmente porque o Ocultismo é aquilo que se
convencionou chamar de Ciências Ocultas e estas são mais abrangentes que as
Ciências Convencionais, pois isto seria como querer aprender tudo sobre tudo,
pois Ciência é o conjunto de tudo que a Humanidade aprendeu ao longo de todos
os tempos sobre tudo.
Então como é que se começa a
aprender algo assim? Onde é o começo? Por onde se começa? Aqui eu coloquei uma
sugestão de começo, respondendo onde tudo começou. Respondendo as mais
clássicas perguntas: De onde viemos. Quem somos. Para onde vamos. Somos o Ente
Consciente que nunca existiu e se encontra em toda a parte. Para onde vamos não
respondi, mas podemos dizer que termina onde tudo começou, pois nessas
realidades abstratas o começo e o fim são uma coisa só.
Então por onde começar? Por onde
você está, comece por você, por entender quem é você, o que é você. E a partir
daí segue-se o mesmo caminho que nos trouxe desde o Começo até o momento em que
estamos. Os passos são: Ser, Perceber e Expressar. Seja você, perceba a si
mesmo, se expresse, seja o que te rodeia, perceba o que te rodeia, expresse o
que te rodeia. Seja a Consciência, Seja a Existência, Seja a Não Existência,
Perceba e Expresse cada um deles.
Como? Isso é o Ocultismo, o
conjunto de tudo que se sabe sobre como fazer isso. Como ser quem somos, como
ser quem temos de ser, como ser quem queremos ser, tudo isso aprendendo e
entendendo como foi chegamos do começo até aqui para entender em que parte do
trajeto estamos e definir quais são os passos seguintes.
Quando queremos algo prático
estamos querendo o passo a passo de para onde ir a partir de onde estamos.
Quando rejeitamos a teoria é porque não queremos saber como foi que chegamos
até aqui.
Se soubermos um pouco que seja da teoria entenderemos porque não faz
sentido o tipo de prática que estamos querendo. Pois para onde ir é uma decisão
nossa, pois foram nossas decisões que nos trouxeram até aqui, não há quem possa
te dizer o que você quer fazer, que rumo você quer seguir.
Tudo que se pode
fazer é dizer: Como provavelmente você chegou até onde está; O que está a sua
volta; Qual foi a trajetória que eu pessoalmente fiz até aqui e que rumo eu
pretendo tomar. Isto tudo será para você nada além de Teoria e se tomar algo
como sendo prática estará cometendo um erro, pois não cabe a você seguir o meu
caminho, pois este é só meu. Assim devem ser entendidas as obras de Ocultismo e
Magia, o autor está te relatando como Ele fez e não que você deva copiá-lo e sim
entender como foi esta experiência do autor e adaptar à sua realidade os
conceitos para definir o que você irá fazer.
O que se tem de prática é relatos
que nos levam a entender como as coisas funcionam e como funcionaram para
outros antes de nós, para nos servir de referência do que estaria ao nosso
alcance fazer, reproduzir exatamente receitas e fórmulas usadas por outros
serve como experiência, como algo que estará sendo acrescentado ao seu método e
ao seu caminho. A completude é alcançada quando unimos a Teoria e a Prática, se
buscamos apenas uma das duas não chegamos a compreender quem somos, o que
estamos vivendo e o que deveríamos fazer a seguir.