Quando tratamos da temática do
"Oculto" e da "Vida Espiritual" muito prontamente surgem
assuntos que remetem a um vasto e misterioso universo de encantos que fascinam
aos mais idealistas.
Este texto segue em complemento e continuidade à
publicação intitulada "Iniciação", de modo que poderia se dizer
que os 2/3 (dois terços) iniciais do conteúdo ali exposto seriam comuns aos
dois temas, por tratarem do contexto no qual ocorrem tanto o fenômeno da
"Iniciação" quanto o da "Iluminação", sendo o primeiro
referente ao Caminho Iniciático e o presente trabalho voltado a uma abordagem
mais específica do que chamamos de "Caminho Místico".
Neste caso estaremos
resumidamente acrescentando que ambos os "Caminhos" ocorrem como
abordagens diferenciadas sobre algo que consiste em uma realidade Natural
própria da Condição Humana, no que se refere ao estágio que esta representa no
processo de Desenvolvimento Espiritual dos diversos Reinos da Natureza.
Assim teremos que em um contexto
mais amplo a Vida se manifesta através dos Reinos Mineral, Vegetal e Animal de
tal forma que gradativamente se vê mais plena na manifestação terrena dos
sentidos, de maneira que a condição humana já se vê envolvida justamente na
prodigalidade destes atributos.
Enquanto no Processo Iniciático
vimos a busca pelo isolamento como uma opção, um propósito para alcançar um
fim, apartar-se da vida mundana se mostra para o Caminho Místico quase tal como
uma "necessidade angustiante da alma".
Ao longo das vidas humanas,
tendo-se repetidas vezes passado pela experiência de exercer seu Livre Arbítrio
e buscar por um Desenvolvimento Individual, chegamos a que muitos indivíduos
venham a nascer já dotados deste "desejo", mesmo que inconsciente.
Se por um lado no Caminho
Iniciático vemos os indivíduos assumindo a "solidão" da busca
espiritual, no Caminho Místico esta seria a condição inicial, geralmente se
observando indivíduos que naturalmente se sentem inadequados e desconfortáveis
na "pequenez de suas vidas cotidianas".
Mesmo dentro das Ciências Ocultas
o processo Místico é pouco e mal compreendido, especialmente dada a sua
natureza mais sutil e subjetiva, bem como a relevância dos processos
subconscientes envolvidos.
Abordar esta temática exige um
certo cuidado especialmente para definir as tênues fronteiras entre o Caminho
Místico e o Processo Iniciático. Sendo que geralmente o primeiro costuma ser
melhor trabalhado nas Escolas Orientais, enquanto o segundo nas Ocidentais.
É comum também certas distinções
de gênero no que se refere a predisposições naturais, sendo que o Caminho
Místico é frequentemente buscado mais por mulheres que homens. Da mesma forma,
ao longo dos milênios as Escolas Místicas e Iniciáticas foram se distinguindo
em suas práticas, doutrinas, direcionamentos, propostas e métodos. Assim foram
se sedimentando certas características como vemos que o Caminho Iniciático se
caracteriza especialmente pelo uso de uma linguagem simbólica e do uso da
ritualística, enquanto o Caminho Místico lança mão de uma abordagem poética e
sua literatura tem um propósito inspiracional, tendo a ritualística substituida
por práticas devocionais e o exercício da "religiosidade".
Aqui deixo o termo religiosidade
entre aspas não por tratá-lo com um sentido conotativo, mas sim pelo
significado original ter se diluído em conotações particulares, ou seja, não
estou me referindo como religiosidade à afiliação e frequência a templos
religiosos, ou organizações religiosas, mas sim a assumir em seu modo de vida
princípios tais como dedicação, constância, disciplina e respeito que atribuem
"sacralidade" ao que se faz.
O processo em si raramente é
abordado de maneira tão "técnica" como estou me propondo aqui, mas
justamente por isso vejo aí a necessidade de tal abordagem. Assim como está a
Iniciação para o Caminho Iniciático está a Iluminação para o Caminho Místico.
Tanto o Iniciado quanto o
Iluminado serão indivíduos que vieram a alcançar um nível de consciência mais
pleno por haver se "desenvolvido" (no sentido não ver-se mais
envolvido) do domínio dos sentidos terrenos, com a diferença que o Iniciado é
aquele que buscou por alcançar tal objetivo enquanto em muitos casos o
Iluminado poderá ser alguém que já venha a nascer "Desperto".
Ambos alcançam seus prodígios
graças ao uso de seu "Livre Arbítrio", como já foi explicado quanto
ao Processo Iniciático, embora de maneira um pouco diferente quanto ao Caminho
Místico, pois neste caso o indivíduo estará se valendo de um outro aspecto
observado na Condição Humana em sua relação com os demais Reinos, que consiste
na própria estrutura através da qual o ser se manifesta em sua existência
terrena, de tal modo que se venha a distinguir o "ser em si" da
entidade criada por sua manifestação.
Em outras palavras, aquilo que
definimos como sendo o "Livre Arbítrio", característica esta que
viria a distinguir o Reino Humano dos demais, veremos que este não apenas pode
ser exercido como no Caminho Iniciático em uma empreitada de antecipar cada
etapa do processo natural de desenvolvimento previsto para o Reino Humano, mas
também o Livre Arbítrio dá ao Ser Humano condições de ter sua Consciência
Desenvolvida de maneira direta e em alguns casos e um único evento no qual o
indivíduo toma contato com sua própria condição essencial de um Consciência
Plena e Livre, como uma vida que se veja assim não mais envolvida pelos
próprios sentidos.
Esta realidade essencial abordada
no Caminho Místico é uma referência ao que verdadeiramente seria o "Ser em
si" a despeito de sua condição transitória do Reino Humano, de modo que
esta essência seria imutável e por tanto neste contexto não haveria nenhum tipo
de progressão de etapas de desenvolvimento, pois esta realidade incorruptível
preexistente não se vê alterada pela sua própria manifestação na realidade dos
sentidos materiais.
Se trata de um estado
consciencial de ser, comumente referido pela expressão "Eu Sou" como
referência a quem somos em essência a despeito de qualquer condição
manifestada, apenas e tão somente como consciência e vida, ou ainda, a figura
tida como "O Observador", como uma realidade encontrada quando nos
isolamos e abstemos de toda e qualquer referência externa, quer seja sensorial,
emocional ou intelectual.
Tal estado de isolamento e
neutralidade em algumas Escolas Orientais é referido com o termo
"Samadhi", sendo um estado de plenitude e paz alcançado através
daquilo que se chamaria de "Meditação Transcendental", ou ainda,
"Silêncio Mental".
Este é um estado de consciência
alcançado quando o foco de nossa atenção se restringe a um ponto neutro,
central, no qual se reconhece como única realidade a própria condição de ser,
situada no exato momento presente e espacialmente tomando-se o ser como centro,
ao que se estabeleceu a expressão "Aqui e Agora", como uma referência
a este ponto focal.
A princípio tal procedimento
parece simples, e através de tal processo se tomaria um contato cada vez maior
com esta essência e esta condição "paradisíaca" até chegar a um ponto
em que esta Consciência perene de "Observador" viesse a se manifestar
na realidade dos sentidos através do "despertar", como uma tomada de
consciência na qual passamos a constatar a esta realidade transcendente como
sendo mais propriamente nossa condição natural e verdadeira de existência, ao
que então não mais estaríamos sujeitos às contingências da vida terrena, constatando
assim sua transitoriedade e constituição ilusória, sendo em tese isto a que se
poderia chamar de "Iluminação".
Na tradição do Caminho Místico
temos como referências básicas textos com relatos e narrativas a cerca de
Iluminados e sua trajetória até alcançar a Iluminação, no entanto esta trata-se
de uma experiência tão absolutamente particular, que tais relatos servirão
sempre apenas como material inspiracional, levando a robustecer a confiança e
alimentar a dedicação neste processo de busca interior daquele que trilha o
Caminho Místico, não servindo de modo algum como receita a ser seguida, pois os
caminhos que levaram tal indivíduo à Iluminação só terão servido a ele e a mais
ninguém, de modo que cabe a cada um encontrar seu próprio meio de lidar com sua
própria personalidade de modo a alcançar o mesmo objetivo.
Em cada caso haverão fatores os
mais diversos que acabarão por distinguir o progresso de cada um de maneira que
haverão sempre aqueles que em muito pouco tempo venham a alcançar esta meta, e outros
que mesmo após uma vida inteira de dedicação nunca virão a ter tal realização
nesta etapa de vida terrena.
No entanto ocorre que a
Iluminação em si, ao contrário do que é normalmente sugerido, não consiste em
um fim, mas sim em um ponto marcante, um "divisor de águas",
ocorrendo de que em alguns casos se venha a ter um ou mais destes eventos ao
longo da vida, sem que nunca nenhum desses venha a ser uma experiência
definitiva.
Tal ocorre de forma que podemos comparar com a
expressão "Despertar", normalmente associada à Iluminação, sendo que
podemos "Despertar" em determinado momento e após algum tempo sem que percebamos voltemos a
"adormecer". Isto não representaria um retrocesso, pelo contrário, o
"Despertar" cumpriu sua função, pois a vida passa a ser vivida de
maneira diferente, pois por mais que se possa voltar a "adormecer"
isto passaria a ser equivalente a vivermos um sonho agora sabendo conscientemente
se tratar de um sonho, o que por si só já representaria uma diferença
significativa à experiência terrena.
No processo do Caminho Místico, embora não se costume
tratar disso também existem etapas, de modo que a Iluminação se daria em
diferentes graduações. A experiência Mística tem como uma "primeira
Iluminação" aquilo que algumas escolas chamam de "Revelação", esta seria uma
experiência diferente para cada indivíduo, podendo ocorrer nos mais diversos
tipos de situação, geralmente associada a um período de adversidades na vida
comum e à ocorrência de um fato, não obrigatoriamente físico, que leva a pessoa
a sofrer uma transformação de caráter e da maneira como encara a vida e lida
com as adversidades.
A Revelação seria um primeiro
"despertar" para a realidade espiritual do ser. Então uma vez vivida
essa experiência transformadora o indivíduo passa a ter certas aptidões
psíquicas despertas, variando sempre de uma pessoa para outra, além de uma
visão mais esclarecida e uma maneira diferente de julgar e lidar com os fatos
do cotidiano. Tais aptidões geralmente se manifestam na forma de Inspiração,
Insights, Intuições, Sensitividade, Percepção Extra Sensorial.
Frequentemente tais experiências
são acompanhadas de sonhos, visões, percepções diferenciadas, carregadas de
simbolismos particulares cujos significados são desvendados com o tempo e
através da concentração, meditação e silêncio da mente, por meio de intuições,
podendo-se inclusive lançar mão de artes divinatórias e oraculares como maneira
de obter um entendimento mais profundo do processo que se esteja vivenciando.
Um outro tipo de
"Iluminação" ocorreria apenas depois da ocorrência de uma Revelação,
podendo ser imediatamente após, ou depois de transcorridos alguns anos, ou
podendo nunca vir a ocorrer, por mais que o indivíduo venha a passar por outras
experiências transformadoras de natureza diversa. Me refiro aqui a uma
experiência específica que ocorre apenas com alguns daqueles que se dediquem ao
Caminho Místico, esta já foi referida como sendo um "Chamado", ou ainda,
uma "Anunciação", trata-se de uma variedade de "Revelação"
bastante específica cujas alterações na vida da pessoa acabam se mostrando
bastante definidas naquilo a que alguns já se referiram como o exercício de uma
"Profissão de Fé".
Tal processo de
"Chamamento", é o que leva o indivíduo a se prontificar a trabalhar
em prol do desenvolvimento de outros, tornando-se assim uma das figuras mais
características do Caminho Místico que é o "Profeta". Tal experiência
desperta aptidões distintas ao indivíduo tais quais "o dom da
oratória", ou ainda, a capacidade de expressar, dar vazão e forma à
realidade interna vivenciada em sua Revelação.
Esta condição torna a
personalidade mundana um veículo de manifestação da realidade espiritual vivenciada
por esta consciência interna do "Observador". O Profeta estará sempre
expressando-se através do uso da intuição e por inspiração desta consciência
interior. Geralmente serão conceitos completamente desvinculados dos
condicionamentos estabelecidos em nossa sociedade e vida cotidiana, de modo que
serão vistos algumas vezes como revolucionários, iconoclastas, de modo que sua
visão mais descondicionada e libertária dificilmente será bem compreendida pelo
senso comum, que o verá como excêntrico ou mesmo desajustado, como que
contrariando aos "bons costumes".
Geralmente o Caminho Místico é
também entendido como sendo "O Caminho da Santidade", e neste ponto é
importante entender que o termo "Santo" significa apenas e tão
somente "Puro" e esta pureza consiste não em uma adequação restrita a
um conjunto de regras morais, mas sim a uma condição Natural de simplicidade.
Este é um dos fatores que levam o Caminho Místico a ser mal compreendido,
justamente por uma compreensão bastante destorcida do sentido das terminologias
usadas.
Se observarmos o comportamento de
um animal selvagem atacando, matando sua presa e a devorando, sua atitude não é
de modo algum condenável, não há "maldade" em seu ato, pois o animal
se expressa com pureza, de forma natural, e este é o conceito do que é puro. Ou
seja, o Santo é alguém que expressa plenamente quem ele realmente é, mesmo que
isso possa vir até a ferir os costumes de um determinado lugar e época.
No caso esta seria uma
"terceira" Iluminação, ou a Iluminação propriamente dita, em que o
indivíduo se torna aquilo que sempre foi e manifesta isto com plenitude por se
ver livre dos condicionamentos sociais, culturais próprios de sua época e lugar
em que vive, bem como livre do domínio e do envolvimento produzido pelos
sentidos materiais.
Esta forma de Iluminação poderá
até mesmo ocorrer antes ou independentemente da "Anunciação", podendo
o Iluminado não "ouvir o chamado" para trabalhar pelo desenvolvimento
dos demais. Poderá não aceitar discípulos ou seguidores.
Devido a esta natureza tão pouco
objetiva do Caminho Místico é que se torna difícil se estabelecer estruturas,
ou constituir organizações para o desenvolvimento, estudo e aprendizado deste
Caminho, geralmente isto irá ocorrer através de "movimentos" ou
grupos isolados que venham a se reunir e que compartilhem de uma mesma corrente
ideológica, ou ainda, como geralmente se vê em escolas Orientais por meio do
processo de discipulato.
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