quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Aborto-Política-Ocultismo






Por tudo que vemos hoje o senso comum nos leva a considerar que um espiritualista não poderia ter outra posição sobre o tema que não aquela adotada pelos religiosos, que passam a demonizar os opinião contrária. Fica realmente difícil abordar o tema com sobriedade sem cair nos estereótipos impingidos a cada opinião expressada.

 

O Ocultismo é de um período da história da humanidade no qual religião e política eram uma coisa só e ainda hoje se pode recorrer ao que elas têm em comum que é a filosofia, em sua interpretação mais primária, ou seja, como a própria concepção do termo, "amor à sabedoria".

 

Ambos se apresentam como sendo coerentes, lógicos e sábios em seus argumentos, mesmo sendo contrários. Temos aqui dois pontos que ficaram bastante claros nos discursos políticos favoráveis e contrários ao tema do aborto, sendo que um lado propõem que nem se quer se discuta a questão e mantenha a prática como sendo crime, por ser algo anti-natural, enquanto outros querem propor que se faça um plebiscito.

 

Primeiro vamos considerar o argumento do que seja mais natural. O ser humano se encontra distante do que é natural, nem tudo que é natural realmente lhe serve. Consideremos que na natureza é prática corrente entre animais das espécies mais avançadas, no caso os mamíferos, o hábito do infanticídio, filhotes são devorados pelos próprios pais.

 

Tal procedimento foi adotado em diversas culturas humanas, como poderíamos ver na Grécia antiga, na China e entre os índios do Brasil e alguns povos Africanos, indivíduos nascidos com sexo diferente do desejado, com má formação, ou mesmo em alguns casos um dos nascidos gêmeos, ou ainda nascidos albinos.

 

Esta prática, por estranha que nos pareça é natural e no entanto nem de longe nos serve como referência. Ou seja, não é porque algo é natural que será correto para o ser humano. Outro equívoco é o conceito de se levar em consideração a opinião da maioria. Pois no período em que se praticava a escravidão esta era considerada algo normal pela grande maioria das pessoas.

 

Se tivesse sido feito um plebiscito na época ao invés de se tomar a decisão de extinguir essa prática nós teríamos isto até hoje, de forma institucionalizada e não clandestina como ainda ocorre. Aquilo que a maioria considera certo ou errado não obrigatoriamente será algo que nos sirva ou que se devesse tornar lei.

 

A grande maioria pode não praticar o aborto e considerar uma prática condenável, mas as leis são definidas pelos costumes do povo, e essa é uma prática recorrente, mesmo que atualmente na clandestinidade e é praticado por aqueles que não consideram como sendo condenável.

 



O fato de ser uma minoria esta deverá ser ignorada, ter seus direitos negados, ser banida, punida, repudiada? Então imaginemos que a maioria da população mate animais para se alimentar, os vegetarianos deveriam ser considerados criminosos? Então a maioria é de vegetarianos, os que comem carne deveriam ser considerados criminosos?

 

Se basear na opinião da maioria é uma armadilha lógica que pode levar a grandes injustiças. Embora o poder da maioria também seja algo Natural e no entanto mais uma vez, nem tudo que é Natural nos serve. Podemos ver isso em nossa história, passada e atual. Aí vemos que a maioria é germânica, então os judeus deverão ser banidos. [?] Aí vemos que a maioria é israelense, então os palestinos deverão ser banidos. [?]

 

Muitos argumentos existem a favor e contra em todos esses temas polêmicos e o que mais vem a tona é a questão da vida, esse é o grande apelo nas discussões, como se não matássemos constantemente para viver. Os vegetarianos argumentam que eles não matam animais para viver, no entanto usam produtos não alimentícios também de origem animal. Sem contar que ao ingerirmos alimentos vegetais esses vegetais que também são seres vivos estarão sendo mortos.

 

Aí a discussão muda de contexto. Ou seja, se torna lícito matar, desde que haja necessidade para isso e que não se provoque dor. Até aí tudo bem, segundo as Ciências Convencionais, ao menos fisicamente as plantas não sentem dor. Assim como um feto que ainda não tenha seu sistema nervoso formado e funcional também não sentiria.

 

Nesse caso a questão volta para o tema da vida e se argumenta se tratar de uma vida humana. Mas o que nos distingue dos animais? Segundo as Ciências Convencionais podemos dizer que ao menos fisicamente nada nos distinguiria de outros animais.

 

Então onde encontramos aquilo que por definição faria de nós humanos? Certamente que não é algo físico, mas sim algo psico-social, um senso de identidade, a auto-consciência. Ou seja, nesse caso enquanto o indivíduo não dispõe dessas características ele ainda é um animal, como poderíamos classificar a condição de um feto.

 

Ainda que se considere que ali haveria uma promessa de vida humana, mas isto apenas a partir de um determinado estágio da gestação e como é da natureza humana, ainda assim, não haverá garantia nenhuma de até quando essa vida transcorrerá naturalmente, pois desde que se esteja vivo se estará predisposto a morrer.

 

Ou seja, fisicamente não há maiores discrepâncias éticas neste tema do que em qualquer outro. Pela visão ética da questão, levando-se em conta o sentido mais básico do termo, ou seja, ethos, ou "o mais próximo da perfeição", podemos dizer que já existem tantas outras imperfeições em nossa estrutura social que este viria a ser apenas mais um tema como qualquer outro, sendo justificado por diversos precedentes.

 





Assim entra em questão o apelo a questões espirituais e assim como fisicamente quem tem a palavra são as Ciências Convencionais, nas questões espirituais temos as Ciências Ocultas. Segundo as quais trabalhamos com elementos de distinção entre os seres Animais e os seres Humanos.

 

Segundo as Ciências Ocultas temos que o espírito humano só sentirá dor a partir do momento em que este esteja conectado ao sistema nervoso do corpo físico e isto só ocorre depois do sexto mês de gestação, de modo que tecnicamente até esse momento se poderia dizer que a experiência da morte nem será vivida com mesma intensidade que quando já se está realmente encarnado.

 

Outro aspecto é a questão Kármica, pois se faz parte do destino do indivíduo passar por uma experiência reduzida de encarnação, isto irá acontecer, quer seja naturalmente, ou por intervenção de alguém. Se considerarmos a vida material como Maia, ilusão, esta seria equivalente a um sonho, e já que assim como é embaixo é em cima, é mais importante o sono que o sonho. Ou seja, não faz diferença para o desenvolvimento do espírito se sua encarnação dura 6 meses dentro de um útero ou 120 anos. Ele de qualquer forma vivenciará aquilo que tem para vivenciar naquela experiência terrestre.

 

Enfim, vemos que por quaisquer argumentos que usemos, estes não nos forçam a qualquer posição maniqueísta, pois certo e errado são conceitos pessoais que nós atribuímos as coisas e não existem por si.

 

Então o que cabe a sociedade não é discutir sobre o aborto ser ou não algo correto, pois existirão aqueles que consideram que sim e os que considerarão que não e ambos estarão com razão de acordo com o ponto de vista. A discussão a ser feita é se aqueles que consideram correto, sendo uma minoria, deverão ser considerados criminosos.