terça-feira, 9 de outubro de 2012

Iluminação

 
Quando tratamos da temática do "Oculto" e da "Vida Espiritual" muito prontamente surgem assuntos que remetem a um vasto e misterioso universo de encantos que fascinam aos mais idealistas.
 
Este texto segue em complemento e continuidade à publicação intitulada "Iniciação", de modo que poderia se dizer que os 2/3 (dois terços) iniciais do conteúdo ali exposto seriam comuns aos dois temas, por tratarem do contexto no qual ocorrem tanto o fenômeno da "Iniciação" quanto o da "Iluminação", sendo o primeiro referente ao Caminho Iniciático e o presente trabalho voltado a uma abordagem mais específica do que chamamos de "Caminho Místico".
 
Neste caso estaremos resumidamente acrescentando que ambos os "Caminhos" ocorrem como abordagens diferenciadas sobre algo que consiste em uma realidade Natural própria da Condição Humana, no que se refere ao estágio que esta representa no processo de Desenvolvimento Espiritual dos diversos Reinos da Natureza.
 
Assim teremos que em um contexto mais amplo a Vida se manifesta através dos Reinos Mineral, Vegetal e Animal de tal forma que gradativamente se vê mais plena na manifestação terrena dos sentidos, de maneira que a condição humana já se vê envolvida justamente na prodigalidade destes atributos.
 
Enquanto no Processo Iniciático vimos a busca pelo isolamento como uma opção, um propósito para alcançar um fim, apartar-se da vida mundana se mostra para o Caminho Místico quase tal como uma "necessidade angustiante da alma".
 
Ao longo das vidas humanas, tendo-se repetidas vezes passado pela experiência de exercer seu Livre Arbítrio e buscar por um Desenvolvimento Individual, chegamos a que muitos indivíduos venham a nascer já dotados deste "desejo", mesmo que inconsciente.

Se por um lado no Caminho Iniciático vemos os indivíduos assumindo a "solidão" da busca espiritual, no Caminho Místico esta seria a condição inicial, geralmente se observando indivíduos que naturalmente se sentem inadequados e desconfortáveis na "pequenez de suas vidas cotidianas".

Mesmo dentro das Ciências Ocultas o processo Místico é pouco e mal compreendido, especialmente dada a sua natureza mais sutil e subjetiva, bem como a relevância dos processos subconscientes envolvidos.
 
Abordar esta temática exige um certo cuidado especialmente para definir as tênues fronteiras entre o Caminho Místico e o Processo Iniciático. Sendo que geralmente o primeiro costuma ser melhor trabalhado nas Escolas Orientais, enquanto o segundo nas Ocidentais.
 

É comum também certas distinções de gênero no que se refere a predisposições naturais, sendo que o Caminho Místico é frequentemente buscado mais por mulheres que homens. Da mesma forma, ao longo dos milênios as Escolas Místicas e Iniciáticas foram se distinguindo em suas práticas, doutrinas, direcionamentos, propostas e métodos. Assim foram se sedimentando certas características como vemos que o Caminho Iniciático se caracteriza especialmente pelo uso de uma linguagem simbólica e do uso da ritualística, enquanto o Caminho Místico lança mão de uma abordagem poética e sua literatura tem um propósito inspiracional, tendo a ritualística substituida por práticas devocionais e o exercício da "religiosidade".

Aqui deixo o termo religiosidade entre aspas não por tratá-lo com um sentido conotativo, mas sim pelo significado original ter se diluído em conotações particulares, ou seja, não estou me referindo como religiosidade à afiliação e frequência a templos religiosos, ou organizações religiosas, mas sim a assumir em seu modo de vida princípios tais como dedicação, constância, disciplina e respeito que atribuem "sacralidade" ao que se faz.

O processo em si raramente é abordado de maneira tão "técnica" como estou me propondo aqui, mas justamente por isso vejo aí a necessidade de tal abordagem. Assim como está a Iniciação para o Caminho Iniciático está a Iluminação para o Caminho Místico.

Tanto o Iniciado quanto o Iluminado serão indivíduos que vieram a alcançar um nível de consciência mais pleno por haver se "desenvolvido" (no sentido não ver-se mais envolvido) do domínio dos sentidos terrenos, com a diferença que o Iniciado é aquele que buscou por alcançar tal objetivo enquanto em muitos casos o Iluminado poderá ser alguém que já venha a nascer "Desperto".

Ambos alcançam seus prodígios graças ao uso de seu "Livre Arbítrio", como já foi explicado quanto ao Processo Iniciático, embora de maneira um pouco diferente quanto ao Caminho Místico, pois neste caso o indivíduo estará se valendo de um outro aspecto observado na Condição Humana em sua relação com os demais Reinos, que consiste na própria estrutura através da qual o ser se manifesta em sua existência terrena, de tal modo que se venha a distinguir o "ser em si" da entidade criada por sua manifestação.

Em outras palavras, aquilo que definimos como sendo o "Livre Arbítrio", característica esta que viria a distinguir o Reino Humano dos demais, veremos que este não apenas pode ser exercido como no Caminho Iniciático em uma empreitada de antecipar cada etapa do processo natural de desenvolvimento previsto para o Reino Humano, mas também o Livre Arbítrio dá ao Ser Humano condições de ter sua Consciência Desenvolvida de maneira direta e em alguns casos e um único evento no qual o indivíduo toma contato com sua própria condição essencial de um Consciência Plena e Livre, como uma vida que se veja assim não mais envolvida pelos próprios sentidos.

Esta realidade essencial abordada no Caminho Místico é uma referência ao que verdadeiramente seria o "Ser em si" a despeito de sua condição transitória do Reino Humano, de modo que esta essência seria imutável e por tanto neste contexto não haveria nenhum tipo de progressão de etapas de desenvolvimento, pois esta realidade incorruptível preexistente não se vê alterada pela sua própria manifestação na realidade dos sentidos materiais.
 

Se trata de um estado consciencial de ser, comumente referido pela expressão "Eu Sou" como referência a quem somos em essência a despeito de qualquer condição manifestada, apenas e tão somente como consciência e vida, ou ainda, a figura tida como "O Observador", como uma realidade encontrada quando nos isolamos e abstemos de toda e qualquer referência externa, quer seja sensorial, emocional ou intelectual.

Tal estado de isolamento e neutralidade em algumas Escolas Orientais é referido com o termo "Samadhi", sendo um estado de plenitude e paz alcançado através daquilo que se chamaria de "Meditação Transcendental", ou ainda, "Silêncio Mental".

Este é um estado de consciência alcançado quando o foco de nossa atenção se restringe a um ponto neutro, central, no qual se reconhece como única realidade a própria condição de ser, situada no exato momento presente e espacialmente tomando-se o ser como centro, ao que se estabeleceu a expressão "Aqui e Agora", como uma referência a este ponto focal.

A princípio tal procedimento parece simples, e através de tal processo se tomaria um contato cada vez maior com esta essência e esta condição "paradisíaca" até chegar a um ponto em que esta Consciência perene de "Observador" viesse a se manifestar na realidade dos sentidos através do "despertar", como uma tomada de consciência na qual passamos a constatar a esta realidade transcendente como sendo mais propriamente nossa condição natural e verdadeira de existência, ao que então não mais estaríamos sujeitos às contingências da vida terrena, constatando assim sua transitoriedade e constituição ilusória, sendo em tese isto a que se poderia chamar de "Iluminação".

Na tradição do Caminho Místico temos como referências básicas textos com relatos e narrativas a cerca de Iluminados e sua trajetória até alcançar a Iluminação, no entanto esta trata-se de uma experiência tão absolutamente particular, que tais relatos servirão sempre apenas como material inspiracional, levando a robustecer a confiança e alimentar a dedicação neste processo de busca interior daquele que trilha o Caminho Místico, não servindo de modo algum como receita a ser seguida, pois os caminhos que levaram tal indivíduo à Iluminação só terão servido a ele e a mais ninguém, de modo que cabe a cada um encontrar seu próprio meio de lidar com sua própria personalidade de modo a alcançar o mesmo objetivo.

Em cada caso haverão fatores os mais diversos que acabarão por distinguir o progresso de cada um de maneira que haverão sempre aqueles que em muito pouco tempo venham a alcançar esta meta, e outros que mesmo após uma vida inteira de dedicação nunca virão a ter tal realização nesta etapa de vida terrena.

No entanto ocorre que a Iluminação em si, ao contrário do que é normalmente sugerido, não consiste em um fim, mas sim em um ponto marcante, um "divisor de águas", ocorrendo de que em alguns casos se venha a ter um ou mais destes eventos ao longo da vida, sem que nunca nenhum desses venha a ser uma experiência definitiva.
 

Tal ocorre de forma que podemos comparar com a expressão "Despertar", normalmente associada à Iluminação, sendo que podemos "Despertar" em determinado momento e após algum tempo sem que percebamos voltemos a "adormecer". Isto não representaria um retrocesso, pelo contrário, o "Despertar" cumpriu sua função, pois a vida passa a ser vivida de maneira diferente, pois por mais que se possa voltar a "adormecer" isto passaria a ser equivalente a vivermos um sonho agora sabendo conscientemente se tratar de um sonho, o que por si só já representaria uma diferença significativa à experiência terrena.
 
No processo do Caminho Místico, embora não se costume tratar disso também existem etapas, de modo que a Iluminação se daria em diferentes graduações. A experiência Mística tem como uma "primeira Iluminação" aquilo que algumas escolas chamam de "Revelação", esta seria uma experiência diferente para cada indivíduo, podendo ocorrer nos mais diversos tipos de situação, geralmente associada a um período de adversidades na vida comum e à ocorrência de um fato, não obrigatoriamente físico, que leva a pessoa a sofrer uma transformação de caráter e da maneira como encara a vida e lida com as adversidades.

A Revelação seria um primeiro "despertar" para a realidade espiritual do ser. Então uma vez vivida essa experiência transformadora o indivíduo passa a ter certas aptidões psíquicas despertas, variando sempre de uma pessoa para outra, além de uma visão mais esclarecida e uma maneira diferente de julgar e lidar com os fatos do cotidiano. Tais aptidões geralmente se manifestam na forma de Inspiração, Insights, Intuições, Sensitividade, Percepção Extra Sensorial.

Frequentemente tais experiências são acompanhadas de sonhos, visões, percepções diferenciadas, carregadas de simbolismos particulares cujos significados são desvendados com o tempo e através da concentração, meditação e silêncio da mente, por meio de intuições, podendo-se inclusive lançar mão de artes divinatórias e oraculares como maneira de obter um entendimento mais profundo do processo que se esteja vivenciando.

Um outro tipo de "Iluminação" ocorreria apenas depois da ocorrência de uma Revelação, podendo ser imediatamente após, ou depois de transcorridos alguns anos, ou podendo nunca vir a ocorrer, por mais que o indivíduo venha a passar por outras experiências transformadoras de natureza diversa. Me refiro aqui a uma experiência específica que ocorre apenas com alguns daqueles que se dediquem ao Caminho Místico, esta já foi referida como sendo um "Chamado", ou ainda, uma "Anunciação", trata-se de uma variedade de "Revelação" bastante específica cujas alterações na vida da pessoa acabam se mostrando bastante definidas naquilo a que alguns já se referiram como o exercício de uma "Profissão de Fé".

Tal processo de "Chamamento", é o que leva o indivíduo a se prontificar a trabalhar em prol do desenvolvimento de outros, tornando-se assim uma das figuras mais características do Caminho Místico que é o "Profeta". Tal experiência desperta aptidões distintas ao indivíduo tais quais "o dom da oratória", ou ainda, a capacidade de expressar, dar vazão e forma à realidade interna vivenciada em sua Revelação.
 

Esta condição torna a personalidade mundana um veículo de manifestação da realidade espiritual vivenciada por esta consciência interna do "Observador". O Profeta estará sempre expressando-se através do uso da intuição e por inspiração desta consciência interior. Geralmente serão conceitos completamente desvinculados dos condicionamentos estabelecidos em nossa sociedade e vida cotidiana, de modo que serão vistos algumas vezes como revolucionários, iconoclastas, de modo que sua visão mais descondicionada e libertária dificilmente será bem compreendida pelo senso comum, que o verá como excêntrico ou mesmo desajustado, como que contrariando aos "bons costumes".

Geralmente o Caminho Místico é também entendido como sendo "O Caminho da Santidade", e neste ponto é importante entender que o termo "Santo" significa apenas e tão somente "Puro" e esta pureza consiste não em uma adequação restrita a um conjunto de regras morais, mas sim a uma condição Natural de simplicidade. Este é um dos fatores que levam o Caminho Místico a ser mal compreendido, justamente por uma compreensão bastante destorcida do sentido das terminologias usadas.

Se observarmos o comportamento de um animal selvagem atacando, matando sua presa e a devorando, sua atitude não é de modo algum condenável, não há "maldade" em seu ato, pois o animal se expressa com pureza, de forma natural, e este é o conceito do que é puro. Ou seja, o Santo é alguém que expressa plenamente quem ele realmente é, mesmo que isso possa vir até a ferir os costumes de um determinado lugar e época.

No caso esta seria uma "terceira" Iluminação, ou a Iluminação propriamente dita, em que o indivíduo se torna aquilo que sempre foi e manifesta isto com plenitude por se ver livre dos condicionamentos sociais, culturais próprios de sua época e lugar em que vive, bem como livre do domínio e do envolvimento produzido pelos sentidos materiais.

Esta forma de Iluminação poderá até mesmo ocorrer antes ou independentemente da "Anunciação", podendo o Iluminado não "ouvir o chamado" para trabalhar pelo desenvolvimento dos demais. Poderá não aceitar discípulos ou seguidores.

Devido a esta natureza tão pouco objetiva do Caminho Místico é que se torna difícil se estabelecer estruturas, ou constituir organizações para o desenvolvimento, estudo e aprendizado deste Caminho, geralmente isto irá ocorrer através de "movimentos" ou grupos isolados que venham a se reunir e que compartilhem de uma mesma corrente ideológica, ou ainda, como geralmente se vê em escolas Orientais por meio do processo de discipulato.



Assista a Vídeo com tema relacionado:
 
 
 

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Iniciação


Existe algo de muito particular na condição humana que consiste na perspectiva de um indivíduo antecipar-se à Natureza e ao ritmo natural de sua própria experiência consciencial. Neste sentido, para que possamos compreender este processo é preciso que se considere o contexto no qual este fenômeno se dá.

Tomemos como ponto de partida o conceito de "Evolução". Tradicionalmente se considera que esta ocorre através dos Reinos ao longo de incontáveis milênios em que observamos "ondas de vida" se sucedendo desde o Reino Mineral, passando pelo Reino Vegetal e chegando ao Reino Animal, alcançando assim conquistas tais como Existência, Percepção, Expressão e sobretudo Consciência.

Este processo é impulsionado por Forças Invisíveis da própria Natureza que zela para que a vida venha a adquirir tais atributos tornando-se então mais e mais complexa em sua manifestação.

Em cada um destes Reinos a existência é vivenciada em condições próprias e específicas, tendo sua trajetória fracionada em fases e por meios próprios pelos quais, através da sucessão de experiências vividas, se venha a adquirir o nível de completude que permita superar aquela condição atinente àquele Reino em particular, avançando assim dentro desta grande "cadeia evolutiva" rumo a uma nova etapa.

Quando falamos em "Evolução" é comum que se direcione a discussão para a análise do termo em seu contexto, tal como é empregado nas Ciências Convencionais. No entanto, esta expressão assume um viés diferenciado no estudo das Ciências Ocultas. Não que a evolução em sua visão Darwiniana seja negada, mas sim que não é desta definição de evolução que se está falando.

Neste contexto que abordamos aqui vemos que a evolução dos corpos físicos, bem como os processos de adaptação e sucessão de espécies, se especializando e se tornando complexas, seria em última análise um reflexo, como manifestação, de uma "evolução" que ocorreria à vida que habita tais corpos, de modo que o aperfeiçoamento dos corpos viesse a servir como uma adaptação por parte da Natureza no sentido de fornecer um melhor veículo que venha a atender as necessidades daquela vida que experimenta uma nova etapa de experiências.

Assim, ao falarmos em "Evolução" dentro do Universo das Ciências Ocultas estaremos nos referindo muito especialmente a um processo ocorrido à Vida que habita os corpos e não aos corpos propriamente ditos.

Então nos perguntaríamos em que consistiria este tipo de evolução. Embora de certa forma a pergunta mais relevante seria, o que estaria evoluindo?
 
 
Talvez, por entender que o termo evolução, ainda que frequentemente utilizado e tendo seu significado sub-entendido, não viria a definir claramente o processo em si, pois em muitos aspectos serviria para "resumir" o tema e não para defini-lo, que o apresentei até aqui entre aspas.

Pois o termo evolução nos dá a idéia de alguma coisa que venha a se transformar em algo superior, quando o processo como um todo é mais complexo que isto. Sendo assim, reavendo a questão de o que estaria evoluindo, chegamos a que nada estaria realmente se transformando em algo superior, mas sim que a etapa desta jornada referente aos "Reinos Ascendentes", sendo esses o Mineral, o Vegetal, o Animal e os que os sucedem, se caracteriza por uma sequência de eventos que poderia ser definida como um "Desenvolvimento Consciencial".

É importante para seguirmos nesta linha de raciocínio que nos detenhamos um pouco no conceito desta expressão, de modo que o termo desenvolvimento estará sendo utilizado aqui não como um sinônimo de evolução, mas sim como um termo que define mais literalmente o fenômeno em si.

Desenvolver-se consiste em livrar-se daquilo que o estaria "envolvendo". Neste caso a Vida se encontraria inicialmente no Reino Mineral com sua Manifestação envolvida, obliterada, como que coberta por um envoltório, de modo que as Forças da Natureza lhe impulsionam a romper com estas limitações a fim de que este venha a despertar em sua Existência Manifestada na condição de um Ser.

Normalmente este estudo nos leva a certos questionamentos comuns, justamente como resultado da sobreposição de terminologias que conceitos como "evolução" nos trazem. Pois dentro do estudo das Ciências Convencionais o Reino Mineral não é reconhecido como "portador de vida".

Em função disto é que fiz questão de ressaltar esta distinção entre os conceitos dos dois ramos de Ciências (Convencionais e Ocultas), de modo que cada qual possui uma abordagem e um sistema de classificação próprio. E mesmo que se empregue por vezes os mesmos termos, estes possuirão significados particularmente diversos.

Agora analisando esta condição de envolvimento no qual esta Vida se encontra, veremos que o "desenvolvimento" se dará por etapas, de modo a que o Ser venha a se despir destes envoltórios até alcançar uma manifestação cada vez mais ampla e completa de suas potencialidades.

Tomando-se por ponto de partida a natural plenitude na qual se concebe esta Vida e teremos em suas potencialidades parcelas de um todo que serão gradativamente, por assim dizer, "descobertas".

Assim teremos que a condição Mineral consiste em uma Vida cuja Manifestação de Existência se encontra obstruída de modo que não ocorre a Consciência de Existência por parte desta Vida. Em outras palavras, o Ser não está ciente da existência. Neste caso vemos o Ser mantendo-se envolvido em um estado de inconsciência análogo ao do sono.

 
Já uma vez em sua condição Vegetal, o Ser, a Vida ali presente ainda não é ciente de sua própria Percepção embora tenha noção de existência. Permanece esta Vida envolvida por sua própria noção de Existência, como um Ser recém desperto que teme voltar à inconsciência e evita o sono.

Enquanto a condição Animal se define por uma Manifestação na qual não há Consciência de sua própria Expressão. O que envolve o Ser quando nesta condição é justamente o fascínio dos Sentidos que lhe ocupam a atenção sufocando a Consciência em uma torrente contínua de sensações cada qual mais intensa e envolvente que a anterior.

Observemos então neste ponto que o conceito de "Evolução Espiritual", quando melhor explicado se nos apresenta como algo diferente do que poderia nos parecer a primeira vista.

Inicialmente temos que o processo consiste muito mais em um "desenvolvimento" do que em uma "evolução", pois não se trata de um ente que se torne algo além, mas sim de um elemento essencialmente pleno, que tendo sua manifestação restringida, gradativamente se livra daquilo que o tolhe.

Ao mesmo tempo que o termo "espiritual" igualmente não define claramente o evento, pois não se trata de um "desenvolvimento" do Espírito em si, mas sim da Manifestação Consciencial do Ser.

Vimos até aqui que nesta longa trajetória através dos Reinos da Natureza a Vida se desenvolve passando gradualmente por distintas "condições" nas quais venha a se encontrar.

Ou seja, consiste em uma mesma e única Vida, que a cada etapa vivencia experiências próprias que definem o estado no qual se encontra, quer seja ele Mineral, Vegetal ou Animal.

Após esta Vida adquirir Consciência de Existência, de Percepção e de Expressão esta virá a adquirir Consciência de Si Mesma, ou por outra, vir a se tornar ciente de sua própria consciência. Isto caracteriza a condição Humana, e assim esta etapa é chamada de Reino Humano, ou "Reino Hominal".

Nesta etapa em particular ocorre uma alteração marcante no que se refere ao processo como um todo, pois até então a Vida se via obstaculizada por elementos que vinham a tolher sua Manifestação e agora, não mais tendo o que lhe restrinja a sua Consciência de Existência, Percepção e Expressão, o "desenvolvimento" ocorre no sentido de que a própria Manifestação em si torna-se algo que restringe a plena Consciência de Si Mesmo, ou ainda, sua Auto-Consciência.

Por sua vez a Auto-Consciência em si, para que se Manifeste, tem por pré-requisito a existência de uma "unidade individual". Ou seja, para que se tome ciência de si mesmo, é preciso que exista tal entidade específica como, a um só tempo, autora e objeto da ação.
 

Assim ocorre que a transição do Reino Animal para o Reino Humano se dá por um mecanismo natural conhecido como "Individualização", no qual a Vida deixa de ser vista como um todo e se transfere o foco para o Ser Vivente.

Este fenômeno distingue o Reino Humano dos demais Reinos que o precedem, criando assim uma nova figura consciencial chamada de "Individualidade", ou em termos mais simples, poderíamos dizer que a partir do Reino Humano se torna possível ao Ser definir-se como uma entidade única distinta de todas as demais, um indivíduo, capaz de se auto-denominar "eu".

Isto posto, retomemos a afirmação inicial de nossa análise sobre o tema:

"Existe algo de muito particular na condição humana que consiste na perspectiva de um indivíduo antecipar-se à Natureza e ao ritmo natural de sua própria experiência consciencial."

Ou seja, ocorrem dois fenômenos neste caso, sendo o primeiro a questão de que as Forças Invisíveis da Natureza às quais nos referimos, uma vez que estas nos impulsionam à Manifestação de nossas Potencialidades e a Condição Humana consiste no "desenvolvimento" ou desenlace, das limitações à Auto-Consciência que estas mesmas Manifestações nos trazem, veremos que o desenvolvimento humano, diferente ao dos demais Reinos, se dá num sentido contrário a estas Forças da Natureza.

Já o segundo consiste em que, uma vez sendo o Humano um Indivíduo, uma unidade particular, e não mais um todo, ou uma Vida em Manifestação plena, este terá seu desenvolvimento igualmente entregue ao seu próprio encargo como indivíduo e não mais coletivamente como ocorre aos demais Reinos que o precedem.

Assim se dá o que foi referido na afirmação inicial, em que a condição humana propicia a que um indivíduo venha a, voluntariamente, de modo independente, acelerar o seu desenvolvimento, sem que para isso seja necessário que toda a massa humana venha a acompanhá-lo.

A isto pensadores do passado vieram a chamar de "Livre Arbítrio", sendo tal atributo um diferencial absoluto do Ser Humano que o distingue de todos os demais Reinos e condições anteriores.

Até este ponto o que fizemos foi elucidar o contexto de tudo aquilo que envolve o processo conhecido como Iniciação, sendo que sem termos uma noção clara destes conceitos preliminares o tema acabaria ficando bastante obscuro e de difícil compreensão.

Deste modo fomos definindo o foco de nossa análise, buscando desde um cenário mais amplo até chegarmos ao contexto puramente humano e seu desenvolvimento consciencial particular. Assim chegamos apenas até aquilo que define a condição humana em sua natureza básica e nesta ainda nos deteremos um pouco mais para se conceituar em que ponto encontramos a Iniciação neste contexto específico.
 
 

É possível então, observando no mundo fenomênico a manifestação da Natureza física, constatar que esta se dá através de ciclos que se sucedem. Desta forma rítmica suas forças nos impulsionaram desde os Reinos anteriores até a nossa condição Humana e como resultado desde impulso inicial, já dentro de nossa realidade humana, ainda por alguma porção de tempo, viemos a seguir na mesma "direção" enquanto não assumimos as "rédeas" de nosso próprio desenvolvimento.

Assim, a humanidade como um todo tem seus indivíduos vivenciando um mesmo momento de seus desenvolvimentos. Da mesma forma que em larga escala observamos etapas distintas de desenvolvimento identificadas aqui pelos Reinos, assim também para cada condição em que nos encontramos, como no caso da condição humana, teremos também etapas que subdividem tal vivência em fases.
 
Diferente do que ocorre ao nível dos Reinos, estas fases, embora se sucedam e aparentem se tornar mais complexas, não irão obrigatoriamente representar uma graduação de sucesso, mas sim uma variedade de experiências, que uma vez vivenciadas vêm a contribuir com o desenvolvimento como um todo.
 
Não mais podendo contar com o impulso daquelas Forças Primordiais da Natureza para o nosso "avanço", a trajetória deverá ser cumprida a partir de nossas próprias Forças enquanto Indivíduos. Mas isso não significa que a condição humana consista em uma situação de abandono por parte da Natureza, pois esta ainda irá nos dispor da "trajetória" em si.

Tal ocorre pelo próprio modo como a Natureza e os Reinos vieram a se manifestar desde as realidades mais sutis até a realidade física, tendo as Forças que nos impulsionaram moldado, ou aberto, uma "trilha" que nos indica "o caminho de volta".

Devido aos próprios ciclos da Natureza é que se deu que a nossa humanidade atual viesse a surgir, com a "Individualização" massiva das incontáveis entidades que a compõe, tendo tais indivíduos sua recém conquistada Auto-Consciência em uma experiência tal que, nos seus primórdios, estes vieram a percorrer uma trajetória de desenvolvimento que reproduziria um percurso inverso ao dos Reinos anteriores.

Em outras palavras poderíamos dizer que as experiências de Auto-Conscientização se deram inicialmente ao se tomar consciência de sua própria Expressão, para então constatar sua própria Percepção, até vir a se ver ciente de sua Existência Manifestada. Mais especificamente em nossa Realidade Material. Etapa esta, aliás, na qual a grande massa humana, em sua maioria se encontra na atualidade.

A questão é que até este nível de desenvolvimento as experiências foram vividas em uma condição de passividade, ainda tirando proveito do impulso primordial herdado das experiências anteriormente vividas pelos Reinos anteriores.

Teoricamente, podemos especular que, mesmo levando alguns milênios ou mais, na massa humana se terá um abandono desta condição inercial presente, de modo que sua maioria de indivíduos venham a assumir seus próprios caminhos de "desenvolvimento espiritual".
 

Se tal não ocorre, não significa que não esteja ao alcance dos indivíduos buscarem por tal objetivo de forma independente. E assim se deu que ao longo dos últimos milênios, nos quais a humanidade como um todo se manteve "envolvida" na própria manifestação de suas potencialidades terrenas e cientes apenas de suas existências, alguns indivíduos vieram a buscar o seu próprio "desenvolvimento" de modo independente.

Nesta busca, tais indivíduos se dedicaram ao estudo e à transmissão do conhecimento aos que lhe sucedessem nesta empreitada, compondo assim aquilo que mais tarde viria a ser chamado de Ciência (Conjunto de tudo aquilo do que se é ciente) e dentre estes estudos, através de conhecimentos hoje tidos como "Ciências Ocultas" vieram a constatar tal estrutura da Natureza em sua sucessão de Reinos e com isto vieram a descobrir a existência de um padrão neste processo.

Com base neste padrão foi possível observar, situar e definir a Condição humana, a trajetória de desenvolvimento seguida até então e a partir disto projetar perspectivas e ter um vislumbre das etapas seguintes pelas quais a humanidade deveria vir a passar, para que se cumpra a etapa humana dentro deste processo, descobrindo com isto a existência de Reinos posteriores ao nosso.

Assim foi possível definir que haveria, a grosso modo, três etapas básicas de desenvolvimento pelas quais o indivíduo humano deveria passar para se ver pleno em sua Auto-Consciência. Para só então, depois disto, poder vir a almejar superar a condição humana e "despertar" para um novo Reino.

Tais descobertas sobre esta realidade e perspectivas quanto ao viver humano foram feitas por diversos estudiosos em várias partes do mundo, nas mais diversas culturas e cada qual por sua vez buscou estabelecer critérios e meios, não apenas de promover tal desenvolvimento como também de avaliar que etapa estaria sendo vivenciada por cada um.

Com isso surgiram diferentes modos de buscar este propósito, sendo que basicamente é possível distinguir dois ramos de doutrinas, que podem nos servir como referência por suas abordagens e maneiras de se alcançar as realizações deste aprimoramento humano, sendo que um podemos chamar de "Caminho Místico" e o outro de "Caminho Iniciático".

Para que se compreenda a distinção que existe entre estas duas maneiras de percorrer este "Caminho de Desenvolvimento Espiritual" é preciso que se observe que, na condição humana, ou seja, na condição de indivíduos auto-conscientes, se chegou à constatação, por meio do estudo das "Ciências Ocultas", da existência de uma realidade dupla na individualidade humana. Esta dualidade consiste em uma porção Consciente e outra Inconsciente na constituição do ente vivente.

E então esta distinção ocorreu pela maneira dos indivíduos que buscavam este desenvolvimento lidarem com estes dois aspectos de sua constituição consciencial, de maneira que o ramo "Místico" teria como característica básica a busca do praticante por estabelecer uma afinidade e concordância consciente de modo a se permitir "guiar" pela sua porção inconsciente.
 

Como estamos tratando aqui do "Processo Iniciático" não nos deteremos nas razões e princípios que definem o "Caminho Místico" nem como se daria este processo, tendo sido mencionado aqui apenas para que se pudesse situar e definir com mais clareza o ramo "Iniciático".

Nisto o ramo Iniciático se distingue por consistir numa busca em disciplinar sua porção inconsciente através do "fortalecimento" da porção consciente. Nesse sentido teríamos, dentro do Processo de Desenvolvimento Espiritual como um todo, através do meio Iniciático o propósito de adquirir atributos que permitam ao indivíduo galgar os degraus das etapas previstas para o avanço do ser humano.

Dentro daquilo que mencionamos, desta subdivisão das experiências vindouras do ser humano em três etapas básicas, teríamos nelas aquilo que poderíamos chamar de "Graus Iniciáticos Naturais" que corresponderiam a sucessão de atributos inversa àquela vivida pela humanidade em seus primórdios.

Começando por superar a consciência simples de Existência mundana buscando se tornar um ente ativo e capaz de Manifestar sua Auto-Consciência para além desta experiência terrena em direção ao "desenvolvimento" de sua Percepção, agora não mais na direção a uma Manifestação externa, ou aos mundos fenomênicos mais densos, mas voltando-se para uma forma de Percepção Interior que busca abarcar planos mais sutis.

Este "desenvolvimento" dentro do "Caminho Iniciático" é buscado por meio da busca e aprimoramento de atributos tais quais disciplina e força de vontade, com o propósito de promover uma capacidade de domínio próprio a ponto de não se permitir envolver pelas percepções e manifestações do cotidiano comum da vida material.

Assim, ao longo do tempo os antigos estudiosos destes processos foram se aprofundando, através das técnicas criadas para este fim e a medida que alcançavam estes níveis de desenvolvimento, superando cada uma dessas etapas, ou "Graus", foram se deparando com realidades conscienciais e experiências cada vez mais desafiadoras e que levavam a que se buscasse para cada etapa conquistada o desenvolvimento de novos atributos.

Nesta jornada rumo a estes misteriosos horizontes de conhecimentos e experiências, não apenas os primeiros, mas até a atualidade, sempre se pôde contar com o auxílio daqueles que já passaram por este processo e já superaram a condição Humana, sendo que, salvo raras exceções, não vivem entre nós a níveis físicos.

Sempre houve aqueles que uma vez começada esta "jornada", quiseram transmitir este conhecimento e compartilhar suas experiências, mas quanto mais estes indivíduos avançavam maior se tornava a dificuldade em exprimir claramente o que era vivido, só sendo compreendidos por aqueles que igualmente tivessem vivenciado os mesmos fenômenos.

Assim esses conhecimentos passaram a ser tratados apenas entre aqueles que viessem a praticar tais técnicas, transmitindo somente àquele que estivesse dedicado e engajado em desenvolver os atributos necessários para cada etapa deste auto-desenvolvimento, de modo que se formavam grupos e escolas dedicadas a este fim e se tornou inevitável que tais fossem "Esotéricas" (no sentido mais literal do termo, de algo restrito e reservado).


O conhecimento de tais processos da Natureza e do ser humano, dentre aqueles que seguiam um direcionamento mais próprio do ramo Iniciático, passaram a ser tratados apenas de maneira reservada. Embora não consistissem em segredos, já tendo sido melhor definidos como "Mistérios", como na antiguidade se encontrava na Grécia as chamadas "Escolas de Mistérios", dentre as quais talvez a que tenha ficado mais conhecida tenha sido a de Eleusis.

Uma vez que tais conhecimentos se fossem divulgados se mostrariam apenas e tão somente infrutíferos, por não serem compreendidos por quem não estivesse se dedicando a este propósito, a idéia e o interesse dos praticantes em transmiti-los às gerações futuras tinha de ser apreciado com cautela. Deste modo se passou a estabelecer critérios de avaliação sobre o nível de desenvolvimento no qual cada indivíduo naturalmente se encontrava para só então convidá-lo a compartilhar suas experiências com aqueles que também as vivessem e igualmente ter acesso àquilo que até então aquele grupo já tivesse amealhado em termos de conhecimento e experiência no assunto.

Com isto foram surgindo procedimentos mais formalizados e mais rigorosos através dos quais se aceitava ao novo membro dentro do grupo, instituindo-se uma forma ritualística de representação do que seria o primeiro passo dentro desta escalada de graus de desenvolvimento pessoal, que consiste em superar a vida comum de existência mundana, para se dedicar ao auto-conhecimento.

Assim, se dizia que tal indivíduo havia sido "Iniciado nos Mistérios da Natureza". Da mesma forma que isto ocorria nesta etapa inicial, também era constatava uma certa distinção de compreensão e de experiências em cada nova etapa vivida dentro deste processo de "interiorização" do ser.

Igualmente se observava nestes casos uma crescente dificuldade em especificar o nível de desenvolvimento no qual aqueles que já estivessem adiante estariam vivenciando e o modo encontrado de se sistematizar os estudos, práticas e técnicas de desenvolvimento, foi definindo uma classificação por "graus" que simbolizassem ritualisticamente o nível de "progresso" na jornada de cada um.

Assim surgiram diversas subdivisões, que sempre variaram de acordo com o grupo ou escola, compondo assim os chamados "Graus Iniciáticos", cabendo para cada um deles uma Cerimônia de admissão, ou como ficou mais conhecido um "Ritual de Iniciação".

A princípio, para aqueles que vissem "de fora", pareceria mera formalidade simbólica, no entanto existem outros aspectos envolvidos que dizem respeito à própria natureza daquilo a que tais grupos se propõem a desenvolver, pois algumas destas "Sociedades Iniciáticas" se dedicam a promover o estudo teórico, enquanto outras buscam proporcionar um desenvolvimento a nível prático do indivíduo.
 

Tais "Escolas Iniciáticas" surgiram pela agremiação de estudantes dos "Mistérios da Natureza", ou ainda das "Ciências Ocultas", que não se restringem apenas a este fenômeno da condição humana no que se refere à conquista de plenitude de sua Auto-Consciência, mas também a outros processos mais complexos com os quais este se vê ligado, bem como ao estudo de diversos conhecimentos tais como Alquimia, Teurgia e Magia, que dotavam ao "Iniciado" recursos e condições de até mesmo servir como elemento capaz de "despertar" a um indivíduo para esta "outra realidade" diferente da vida comum, fazendo com que a ritualística simbólica acabasse por precipitar uma real mudança de consciência por parte do novo estudante.

Esta capacidade também se buscou aprimorar dentro das "Ordens Iniciáticas" de modo a que determinados "graus" visavam tornar ao "Iniciado" também um "Iniciador".

Essa possibilidade de se alcançar um Desenvolvimento Espiritual "Real" por meio das técnicas e práticas criadas em determinadas Ordens, levou a que se estabelecesse um conceito mais abrangente do termo "Iniciado", que tanto viria a definir aquele que recém passou pela primeira Cerimônia de Admissão, como aquele que já alcançou um dos "Graus Naturais" superiores ao Primeiro.

Com isto se estaria querendo dizer que um "Iniciado" seria alguém que verdadeiramente estivesse "adiante" espiritualmente da grande massa humana. Sendo capaz de compreender Mistérios e realizar "prodígios" que outros não compreenderiam e não seriam capazes de realizar.

Nesse sentido mais amplo, a "Iniciação" não seria apenas e tão somente a uma Cerimônia de Admissão, mas sim uma referência à toda uma trajetória de Desenvolvimento Espiritual. Os simbolismos geralmente associados à Iniciação são em geral a Morte, o Isolamento, ou mesmo a clausura como referência ao abandono do antigo estilo de vida, bem como a perspectiva de um Renascimento e um novo mundo que se descortine para além deste recolhimento.



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sexta-feira, 16 de março de 2012

O que aprendi...

 
 
Com o passar do tempo inevitavelmente aprendemos e muitas vezes as lições aprendidas jamais foram lidas, nem tão pouco escritas por alguém...

Aprendi que mestre não é aquele que nos ensina e sim aquele com quem aprendemos e que o aprendizado não acaba quando passam a aprender conosco, pois muitas vezes só neste momento é que verdadeiramente começamos a aprender.

É possível que nos tornemos um mestre a partir do momento em que nos dispomos a aprender com tudo e com todos, até consigo mesmo.

Nada ou ninguém é grande o bastante a ponto de abarcar o saber, pois tudo que há para se saber é rigorosamente tudo que existe, o que é grande demais para qualquer criatura.

Tudo que se possa dizer sobre o saber ainda é pouco, nada é tão grandioso quanto aquilo que sei que há para se saber.

Nem só aprendemos o que exista a saber, mas também e muito especialmente aquilo que há para ser vivido, aquilo que ao saber nos tornamos e há coisas que não nos basta aprender.

As grandes maravilhas desconhecidas que fogem ao alcance de nosso saber e mesmo de nosso aprender são como vidas que partilhamos vivendo junto, sendo estas vidas por um breve instante de tempo algum, mas são vidas tão extraordinárias que nos deixarão uma marca profunda e indelével.

Este é um saber imensurável que só nos é dado compreender por meio de uma subjetiva impressão de profundo vazio que a falta destas vidas verdadeiras nos fazem.

Nem o encantamento residual que este contato nos deixa a iluminar nosso espírito de júbilo e euforia silenciosa, nem a escuridão cinzenta e angustiante da constatação de impossibilidade de partilhar ou mesmo de reter tal experiência, são capazes de nos dar a mais frágil idéia da grandiosidade e beleza do que há para saber e a falta que nos faz sabê-lo.

Palavras não são suficientes para descrever as misteriosas engrenagens que se escondem por de trás da condição humana, nem são realmente concebíveis como imagem, mas apenas como sensação, uma convicção quase palpável de que há um "peixe" muito maior do que jamais foi pescado, ou mesmo visto e não há nada que possamos dizer que não pareça mentira, como pareceria para nós mesmos se nos dissessem.

Só a certeza como a impressão de ter tido um sonho, do qual não nos lembramos, mas nos marcou para toda a nossa vida, com o sentimento saudoso quase insuportável que nos dá uma certeza absurda de ter visto algo verdadeiramente magnífico, cuja a ausência faz sentir tudo o mais algo pequeno, sombrio e cinzento.

O que aprendi... Talvez nunca venha a saber...