quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Os Buscadores


Já vi muitos em nosso meio se definindo como "Buscadores" e a escolha deste termo traz em si uma definição bastante abrangente. De certa forma o termo tem sido utilizado para definir uma classe específica de estudiosos dos mistérios da natureza. No entanto a variedade de tipos de Buscadores é muito grande, a tal ponto de podermos dizer que cada Buscador será diferente e único.

Ainda assim, é possível estabelecermos definições mais específicas que permitam descrever melhor a condição na qual se encontra cada indivíduo, isto se nos perguntarmos e formos sinceros ao responder a seguinte pergunta:

- O que eu estou buscando?

Isto permite que possamos definir até que ponto aquilo que procuramos no estudo das Ciências Ocultas está tendo resultado. Claro que com isto podemos ser mais objetivos em nossa busca, sem considerar que aquilo não estejamos buscando não seja digno de ser buscado, pois poderá ser justamente o objetivo principal de outro buscador.

O Ocultismo, ou Ciências Ocultas, como conjunto de conhecimentos, é em si algo comparável a uma grande área plana, sem estradas, sem placas de sinalização, sem pontos de referência. Deste modo só encontra o que procura aquele que souber definir exatamente o que está procurando.

Infelizmente neste exemplo, o que vemos atualmente como buscadores, são indivíduos que vagam por esta planície seguindo uns aos outros e se alternando ora como seguidores, ora como líderes, sem no entanto estabelecerem uma rota definida através deste território tão amplo do Ocultismo.

As antigas e tradicionais Escolas Esotéricas se prontificavam a determinar rotas para serem seguidas, apenas a questão é que tais rotas pré-estabelecidas, muitas vezes não satisfaziam os interesses dos buscadores, que por vezes estariam buscando coisas bastante diferentes daquelas oferecidas por tal organismo.

Assim muitos começaram a buscar trilhar sozinhos seus próprios caminhos, mas infelizmente vemos muitos andando em círculos, ou sem uma direção definida apenas seguindo cada nova moda, ou cada nova promessa daquilo que estiverem buscando.

O que move os buscadores em suas buscas não é diferente daquilo que move todo e qualquer ser humano, sendo que somos naturalmente movidos por impulsos bastante primitivos e simples. A diferença ocorre apenas no grau de sofisticação e variação em torno de cada tema. Os interesses e necessidades humanas são bastante comuns e simples quando se analisa desconsiderando tais variações.

Podemos classificar tais interesses tomando por base uma interpretação menos ortodoxa de quatro personagens bastante conhecidos e comentados do enigmático livro do Apocalipse, onde encontramos descrições que definem de modo simbólico desafios básicos da vida humana nos mais diversos níveis, bem como aspectos de nós mesmos que frequentemente nos assombram.
 
 
Primeiro tomemos a figura do Cavaleiro montado no Cavalo Esverdeado, que foi identificado como a Morte. O desejo e a busca pela vida e por mantê-la e defendê-la a todo custo é muitas vezes um objetivo natural a ser buscado. A possibilidade de ter controle sobre algo tão inevitável e natural, muitas vezes se torna até mesmo uma obsessão para determinados indivíduos. Algumas vezes esta busca por obter tal nível de controle é movido por algo bem mais simples e primitivo, que seria justamente o medo de morrer, o medo de perder tudo que foi conquistado neste mundo.

Tal sentimento leva a um determinado tipo de Buscador, que muitas vezes não estará buscando apenas nas Ciências Ocultas mas em toda a forma de conhecimento que lhe pareça ser capaz de lhe fazer alcançar tal objetivo.

Alguns buscam se defender da morte, com tratamentos de saúde, com mudança de hábitos alimentares, buscando adquirir força física, e em outros casos procuram por forças "sobrenaturais", poderes, quer sejam espirituais, físicos, treinamentos, armas, dinheiro, autoridade, ou ainda há aqueles que acreditam na Morte como uma Entidade incorpórea a qual se possa agradar de tal forma que esta nos poupe.

Psicologicamente, em muitos casos há indivíduos que buscam assumir uma forma de "controle" da morte, determinando quando esta deverá ocorrer, buscando por ela voluntariamente como em alguns casos de suicidas.

Muitas vezes tais Buscadores encontram conhecimentos que os satisfaçam em locais onde o que esteja sendo oferecido seja uma promessa de "Poder". Muitos buscam o Satanismo, ou o Luciferianismo, com este sentimento. Como uma busca por compensar um sentimento de fragilidade frente à inevitabilidade da morte. Muitos assumem uma postura cética e materialista, buscando viver intensamente a vida material tanto quanto possa, vivendo intensamente cada dia como se fosse o último, usufruindo de todos os prazeres que teme perder com a morte.

Enfim, este Cavaleiro do Cavalo Esverdeado simboliza a realidade material em sua forma mais primitiva, a constatação de que no mundo físico tudo perece. Por mais que hajam diversos eufemismos e sofismas que se possa usar para nós mesmos, é preciso muita sinceridade para consigo mesmo para reconhecer que sua busca é movida por uma "fuga", por um sentimento de medo e fragilidade contra o qual nos revoltamos, por vezes violenta e irrefletidamente.
 
 
Vejamos o Cavaleiro do Cavalo Negro, ao qual por vezes chamam de "Peste", representando a Doença, a Fome, a Miséria, o Sofrimento, a Decrepitude, a Avareza, a Mesquinharia, enfim, muitas coisas das quais as pessoas naturalmente fogem, tudo aquilo que consideramos feio, desagradável, sujo, repulsivo, inferior. Esta fuga muitas vezes assume características vistas como positivas socialmente. Mas também aqui é preciso muita sinceridade para consigo mesmo para reconhecer que aquilo que move seus esforços e que motiva a sua Busca, é um sentimento de temor e repulsa, além de por vezes, preconceitos.

Alguns estarão buscando maneiras diversas de se manterem saudáveis, jovens e devidamente encaixados nos padrões de beleza impostos pela sociedade. Tal necessidade de adequação, muitas vezes nasce justamente de um sentimento de inadequação, de modo que isso leva a que tais Buscadores busquem por terapias alternativas, complementares, energéticas, quânticas, radiônicas e tantas outras que ainda forem inventadas.

A tendência geral ao lidar com as características simbolizadas por este Cavaleiro sombrio é a de buscar esconder as imperfeições, esconder as mazelas, a sujeira, a miséria, a avareza, os preconceitos, a mesquinharia, sob a capa preta da ignorância, negando tais coisas, fugindo destas, em procuras por realidades menos densas, menos materiais, buscando por luzes, cores e belezas que não são vistas neste mundo terreno.

Muitas vezes tais sentimentos levam a que Buscadores procurem por caminhos místicos, terapêuticos e mágicos, buscando em tudo aquilo que seja bonito, colorido, limpo, puro e inocente, para não precisar encarar os próprios sentimentos que lhe fazem se sentir sujos e impuros. É comum que encontrem a satisfação de sua Busca meio ao Movimento New Age.

Estes Buscadores buscam sinceramente conhecer a si mesmos, mas desde que não precisem encarar de frente este aspecto de suas personalidades que é simbolizado pelo Cavaleiro do Cavalo Negro.
 

Tomemos então o Cavaleiro do Cavalo Vermelho, conhecido como o Cavaleiro da Guerra. Tal guerra é travada constantemente dentro de nós mesmos e temos o costume de considerar que tal guerra seja travada entre o bem e o mal. No entanto ela é travada entre EU e o "Não-EU", e esta se estende e se reflete externamente em como interagimos em Sociedade. Neste caso estaremos apelidando o EU de Bem, e assim aqueles que estiverem favoráveis a mim, serão "do bem", e aqueles que me contrariarem serão "do mal".

Nesta guerra buscamos sempre estar do lado vencedor, mesmo que este nem sempre seja o que ganha as batalhas, mas sim aquele que heroicamente "faz a coisa certa", evidenciando o quanto o outro lado é mal e sem princípios. Esta guerra é alimentada por nossas Paixões e Aversões, por nossas emoções intensas, e por nossa busca por tais emoções.

Tais Buscadores estarão em busca de tudo aquilo que lhes dê razão, que lhes justifique as ações, que lhes dê a satisfação de estarem do lado certo, do lado do bem, do lado vencedor. Tais buscadores muitas vezes se satisfazem em manifestar seu extremismo, assumindo posturas passionais por suas convicções, levando ao fanatismo.

Muitas vezes encontram satisfação para sua busca em Igrejas Evangélicas, ou entre os Teóricos da Conspiração, ou ainda em Torcidas Uniformizadas, ou Partidos Políticos. Muitas vezes até mesmo o ceticismo e o ateísmo se tornam maneiras do indivíduo extravasar de maneira "justificada", "legitimada", ou ainda "oficializada", todos as suas aversões, preconceitos, paixões e extremismos.

É sempre desafiadora a condição de tais Buscadores, pois suas vidas são uma luta, na qual é preciso agir com rigor, pois os inimigos são "poderosos". Que nível de sinceridade não seria preciso para que tais Buscadores reconhecessem o que motiva sua Busca? Constatar que esta é movida por uma revolta interior, por intolerância e que esconde, sob um Manto Rubro de Virtude e Força, uma personalidade arrogante e beligerante, que não procura corrigir a si mesmo, mas sim, punir severamente a qualquer um que ouse revelar sua face rude.
 
 
Por fim, o Cavaleiro do Cavalo Branco, aquele que "veio vencedor e tornou a vencer", um rei coroado, em todo o seu esplendor, glória e soberba. Aparentemente nada do que se tivesse motivos para fugir, ou evitar. Mas, tais Buscadores não se satisfazem com Glória e Fortuna mundanas. Estes têm ambições mais elevadas e isso os leva frequentemente aos caminhos da espiritualidade, pois buscam por Glórias e Triunfos de proporções Divinas.

Tal indivíduo busca se mostrar verdadeiro, autêntico, simples, humilde, impessoal, altruísta, abnegado, e tantas outras qualidades que lhe enfeitam como uma coleção de medalhas brilhantes. Sua busca é movida por uma necessidade de reconhecimento, de que se evidenciem suas qualidades, em contraste a tudo o que eles condenam no mundo que os rodeia, luxos, riquezas, fama, tudo é tratado como algo menor, inferior, e o orgulho, a vaidade e a soberba são vistos como pecados mortais.

Em muitos casos o indivíduo assume uma postura de vítima, assume posturas servis que evidenciem seu "sofrimento", e usam cada lamúria como uma lâmina afiada que busca ferir acusando aos demais de seus "pecados". Que chances haveriam de alguém ser sincero o suficiente para consigo mesmo para reconhecer o teor de sua busca? Constatar que oculta sob uma Branca túnica de Pureza, uma personalidade extravagante, cuja soberba e a vaidade lhe dominam a tal ponto de, contrariando qualquer lógica, se martirizar na esperança de ter seu sacrifício reconhecido por Entidades Superiores e por elas ser glorificado.

De certa forma é bastante complicada a realização para tal tipo de Buscadores, pois o que eles buscam não é possível de ser encontrado neste mundo, e muitas vezes estes são indivíduos que já possuem conquistas consideráveis de riquezas, prestígio social, reconhecimento e ainda assim não se dão por satisfeitos. Muitas vezes é mais compreensível quem fuja de algo desagradável como nos outros casos, mas neste o indivíduo pode assumir uma postura contrária ao que é agradável, como uma busca por maior poder, ou por prazeres maiores do que os já conhecidos, pelo o que vale a pena qualquer sacrifício.

Muitas vezes eles estarão sujeitos a "delírios messiânicos", nem sempre iremos encontrar organizações que satisfaçam aos seus anseios, estarão procurando por coisas cada vez mais intensas e extravagantes, por vezes no consumo de alucinógenos, ou em cultos que envolvam o trabalho da mediunidade.
 

De modo geral vimos uma forma de classificar os Buscadores, embora existam muitos nuances, muitos indivíduos que por vezes se vêem motivados por mais de um destes estímulos. A descrição foi feita com base em casos mais extremos, de modo que a grande maioria vivencia condições menos nítidas dessas características.

Ainda que reconhecendo os impulsos primitivos que nos motivam inconscientemente, temos de levar em conta a nossa resposta consciente à pergunta. O que buscamos?

Vida? Prazer? Poder? Saúde? Riquezas? Prestígio? Superação? Afirmação? Transcendência? Pois inconscientemente a pergunta talvez devesse ser: De que fugimos?

Este entendimento está sendo compartilhado não como uma crítica, mas como uma proposta de reflexão, uma ferramenta de auto-conhecimento, pois nem sempre gostamos do que vemos quando olhamos pra dentro. Para isso é preciso um olhar imparcial para consigo mesmo, levando em conta que há em nós impulsos inconscientes, instintivos, primitivos, que movem nossas ações e que muitas vezes disfarçamos para nós mesmos e em prol do bom convívio social.
 
 

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Contemplando o Deserto


Contemplando o deserto, se vê ao longe uma forma difusa, misteriosa que se mistura com o bruxuleante entardecer, se vê uma luz indistinta que nos anuncia uma noite fria e solitária.

Não há explicação que descreva a profunda sensação de desolamento, de abandono, de solidão, que nos abraça em sua secura, em sua frieza indiferente, como quem nos conforta em silêncio apenas estando ao nosso lado frente à inevitabilidade dos fatos.

Uma noite fria, para um corpo cansado, fustigado pelo sol ardente, por um dia de lutas, por uma caminhada tão longa que já nos escapa à memória.

Mas que nos deixa uma sensação de missão cumprida... Um sentimento irônico para quem não acredita ter feito coisa alguma. Mas é neste horizonte incerto que se vislumbra uma nova etapa, um novo desafio, agora tão diferente.

Já não nos parece mais que o cansaço nos seja tão pesado, tão duro, tão seco. Meio às areias que se movem ao vento, como um leve véu que flutua sobre as dunas lhes acariciando gentilmente, lhes vestindo de alguma luz pálida que se reflete do entardecer.

Nessa contemplação se vê o horizonte como um sonho distante, como se apenas nos fosse possível imaginar como seria estar naquela atmosfera que se move lentamente, de luzes que se refletem em nuvens frágeis, em um fundo que escurece pouco a pouco, de onde desponta um novo brilho solitário e longínquo.

Nos leves delírios de nossa visão turva, se vê naquele minúsculo luzeiro um reflexo de tudo aquilo pelo que se buscou em tão longa jornada. O que fica é só um sopro de esperança que não ousamos tomar como nosso, que julgamos ser algo grandioso demais para ser visto a menos que assim tão distantes.

Aí se reconhece o valor de tão pequenina expressão solitária meio ao manto rubro cinzento que nos cobre. Como um momento único que sem precedentes, que jamais passará, e que nada estaria à altura de sucedê-lo.

Nos faz ver que todo o esforço teve seu valor, mas que nossa força não poderia levar a viver tão enigmática e singela glória. Só nosso silêncio poderia nos compreender. Só nossa solidão poderia nos acompanhar. Somente o vasto vazio da noite poderia nos assistir.
 
 
Agora que tudo fez sentido, agora que todas as respostas estão ali, tão perto como nosso próprio coração... Nossa memória nos trai, como que por um momento não estivéssemos mais sob os domínios do passado, como se só nos restasse um sonho, sem perguntas e sem respostas, que não nos diria nada, apenas o valor daquele momento.

Aqui encontramos a vida, que sempre esteve ali, sem nunca termos percebido, até que finalmente tivéssemos parado por um instante, tão pequenino quanto a pequena luz nos contempla do horizonte sem nos fazer perguntas, mas de forma tão enigmática.

Com um olhar único como olho algum seria capaz, e neste vemos que tudo tem uma razão de ser. Uma verdade. Uma explicação. Da qual não precisamos, mas que guardamos conosco pela eternidade daquele momento.

Assim nos inspira a seguir adiante, agora não mais contra o tempo, não mais com nossas forças, mas com nossa esperança, nossa certeza da continuidade, uma luz misteriosa que se acende dentro de nós, ilumina nossos pensamentos, nos ensina sobre as coisas, sobre como são apenas o que são... E nada mais.

Toda a luta da jornada perde seu sentido, mas toda a jornada de lutas agora se justifica, só agora que a longa caminhada nos leva a encontrar o motivo pelo qual ela foi feita, todas as dúvidas foram esquecidas, trocadas por um mistério maior, que as torna tolas e frágeis, como a areia levada pelo vento.

Todos os castelos de dunas já se foram, carregados para longe, para o horizonte deste novo mar que nos separa e que nos liga. Que naquele momento vemos ser o mais próximo que poderíamos estar, pois nos tocou mais profundamente que a aspereza cortante do deserto.

Agora que cheguei à noite, tudo ficou mais claro.
 
 

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Ateísmo


Primeiramente quero deixar claro que este texto não expressa uma crítica a qualquer linha de conduta adotada por qualquer pessoa, especialmente pelo fato de que admiro pessoas que pensam por conta própria e que tenham suas próprias opiniões sobre o ser humano e o mundo que nos cerca. Muitas pessoas que admiro possuem uma orientação Ateísta, como outras tantas possuem uma orientação Teísta, bem como eu mesmo sempre ponderei sobre estas duas vertentes e trago esta reflexão como um forma de compartilhar meus pensamentos sobre o tema.

Sou um observador do cenário humano e relato coisas que observo, e tenho observado sobre tudo no meio Ocultista, Esotérico e Místico, e ultimamente isto tem estado cada vez mais evidente na realidade virtual da Internet. Aqui dou ênfase à análise do comportamento de alguns indivíduos que se auto-declaram como Ateus.

Tenho amigos e pessoas próximas tanto Ateus, quanto Religiosos, quanto aqueles que seguem linhas de pensamento, que como eu não se encaixam de maneira tão específica nestas duas classificações. Felizmente sempre mantenho contato com pessoas pensantes, de modo que tais observações não se aplicam a tais indivíduos. Mas aqui deixo um convite à reflexão. Pois, se nos apaixonamos por certas linhas de pensamento acabamos deixando escapar boa parte da lógica que só é possível na imparcialidade.

Antes de qualquer análise mais aprofundada vamos levar em consideração o contexto no qual este termo se aplica, para que se consiga delinear contradições que possam ser observadas entre o sentido do termo em si, que é bastante simples, e o comportamento daqueles que o defendem como ideologia.

Faz parte da Natureza Humana o desejo e satisfação de qualquer indivíduo se sentir superior a outro e neste caso não é diferente, pois isso ocorre sempre que se cria uma antítese para qualquer conceito.

O termo Ateísmo consiste em uma Antítese do termo Teísmo, que paradoxalmente na prática é muito mais utilizado pelos Ateus do que pelos Teístas, pois aqueles que acreditam em uma Divindade não costumam se classificar desta forma, especialmente por haverem diversas linhas filosóficas que incluem algum conceito de Divindade e o termo Teísta seria um termo genérico, e a maneira como ele é utilizado dá a entender um sentido conotativo de exclusão, como se o Teísmo fosse a Antítese do Ateísmo e não o contrário.
 

As contradições do tema não podem ser atribuídas a nenhum dos lados em questão. Mas, se analisarmos com isenção de ânimo sem tomar partido, veremos nitidamente que muitas abordagens de ambos os lados se apóiam em conceitos distorcidos que possuem sobre o lado contrário.

Muitos Religiosos empreitam verdadeiras cruzadas contra os Ateus como se estivessem reagindo à opressão de um poder maior. Sendo que Teístas são mais de 90% da Humanidade. Muitos Ateus passam a dedicar suas vidas a uma verdadeira militância missionária para despertar a todos os Teístas daquilo que eles consideram Ilusões Perniciosas. Mas, neste caso seria de se perguntar se mais de 90% da Humanidade estaria vivendo uma Ilusão Doentia enquanto somente esta pequena minoria pudesse ser considerada como "Normais". (?)

O problema está no conformismo da grande maioria da população, sendo que os hábitos religiosos são adotados na ausência de uma escolha, surgindo assim multidões de Católicos Não-Praticantes, Muçulmanos Não-Praticantes e assim por diante. De modo que na maioria dos casos o Ateu é alguém que optou por ser Ateu. Quando a lógica seria o contrário, pois alguém que não optasse pela crença em nenhuma Divindade então seria automaticamente Ateu.

Esta condição por si só já é no mínimo estranha. Imaginemos que alguém se diga um seguidor da Filosofia de Platão, então ele seria um Platônico, e neste caso todos os demais seriam Aplatônicos? Ou seriam apenas pessoas normais que não se encaixariam na classificação de Platônicos? Assim, um Aplatônico seria então um Antagonista, alguém que assume uma postura contrária, de oposição aos conceitos de Platão.

Neste caso parece haver uma intolerância generalizada, pois quem não é a Favor terá de ser Obrigatoriamente Contra?!

Então o que seria um Ateu? Alguém que é um Opositor de Deus (?), ou alguém que é Contra o Teísmo?

Que alguém seja contrario a algo pontual é compreensível, mas que alguém seja contrario a uma generalização parece algo dificílimo de conceber.

Vejamos um argumento frequentemente usado por Ateus mais veementes, que quando alguém diz acreditar em Deus ele lhe pergunta: "Em que Deus você acredita? Existem tantos. Allah, Brahma, Odin..."

Então neste caso seria de se perguntar: "Você é Contrário a que Deus? Existem tantos. Allah, Brahma, Odin..."
 

A maioria dos Ateístas são pessoas pensantes, intelectuais, que fizeram uma opção filosófica, diferente da grande massa de religiosos e neste caso é bastante comum que por terem pensado no assunto e chegado às suas conclusões lógicas, passem a considerar que qualquer um que afirme algo contrário seja apenas um religioso acomodado que nem se deu ao trabalho de parar pra pensar no assunto.

Tais discussões fazem parte do convívio social, especialmente na atualidade com as oportunidades que a Internet proporciona de veicular conceitos e filosofias, como também de promover debates sobre temas que de outras formas não seriam debatidos com tanta frequencia. Não vejo nada de recriminável na conduta de nenhum dos lados.

Apenas analisando com imparcialidade, Ateísmo seria uma postura filosófica como é uma postura filosófica cada uma das diversas vertentes religiosas. Se o Ateísmo é contrário a todas as outras correntes de pensamento, assim também são cada uma das correntes de pensamento de cada uma das diversas filosofias religiosas. Então não se poderia afirmar que houvessem apenas dois lados.

Tal postura é meramente política e estratégica, tanto poderíamos falar em Ateus e todo o resto (Não-Ateus), como poderíamos falar em Budistas e todo o resto (Não-Budistas), sendo que isto incluiria todas as outras filosofias religiosas e o Ateísmo em um mesmo pacote comum.

Até este ponto, tudo segue tendências humanas naturais, pois é da natureza humana esta busca pelo conforto psicológico de se estar do lado "Vencedor", ou do lado do "Bem", ou do lado que está "Certo", ou do lado da "Verdade". Os argumentos são os mesmos na maioria das vertentes filosóficas, pois todos se consideram defensores da "Verdade", independente de serem Pentecostais, Aristotélicos, Kardecistas, Junguianos, ou o que sejam.

A tendência a simplificar as coisas é comum a todos, pois é mais fácil lidar com um mundo que se divida apenas em dois lados. Fica mais fácil definir conceitos de Certo e Errado, ou seja, o lado no qual eu estou é o Certo, o outro lado é Errado. Simples assim.

Esta forma de ver a vida se estende às qualidades humanas. O meu lado é mais bonito, o meu lado é mais inteligente, mesmo que com isso estejamos desconsiderando todo o restante da humanidade. E isso se aplica não apenas aos Ateus como também a cada vertente religiosa, sendo que apenas estamos dando destaque ao Ateismo por ser o tema escolhido para esta reflexão.

De certo modo há uma tendência comum de que as diversas vertentes filosóficas vigentes, deixem suas diferenças de lado quando o assunto é Ateísmo. Justamente por terem em comum aquilo que é Combatido pelo Movimento (?) Ateísta, se podemos chamar assim, pois acabam aceitando o rótulo genérico de Teistas.

Este rótulo de Teísta costuma trazer embutido o conceito de "Imbecil", enquanto o rótulo de Ateu costuma trazer embutido o conceito de "Maléfico". E isto é algo que se encontra subentendido nas entrelinhas de discursos de ambos os lados. Tal disputa birrenta sobre quem tem razão é aceitável na sociedade, pelo fato de ser algo natural da condição humana, mas o tema só se torna relevante neste Espaço Virtual pelo fato de surgirem muitas informações desencontradas envolvendo o tema até mesmo em nosso meio.
 
 
 
O meio Ocultista se distingue tanto das vertentes filosóficas religiosas quando das vertentes filosóficas laicas. Pois trata-se de um conjunto de conhecimentos humanos que toma por base critérios formadores de filosofias, de modo que cada Ocultista se caracteriza por ser alguém com uma filosofia de vida própria, podendo adotar como referência filosofias de figuras ilustres do passado, mas não precisando com isso se submeter a agrupamentos partidaristas e nem entrar em disputas conceituais ao mesmo nível que a grande massa religiosa e descrente se presta.

Trata-se de um caminho solitário no qual acima de tudo nos é exigido a reflexão, que pensemos por nós mesmos, tomemos nossas próprias decisões, nos levando assim a ter nossas próprias convicções. Justamente pensando na vida e chegando às nossas próprias conclusões. Desta forma podemos observar em nosso meio grande número de indivíduos que se auto-intitulam Ateus, ou Agnósticos.

Isto cria uma certa confusão, pois para a maioria dos religiosos somos classificados na mesma categoria de "Maléficos" que os Ateus, enquanto que para os Ateus (Céticos e Descrentes, ou seja, que não sejam Ocultistas) somos classificados na mesma categoria de "Imbecis" que os religiosos.

A questão que levanto aqui não é a relevância da existência ou não de algo chamado Deus, podendo esta questão vir a se abordada em outro texto. O que analiso nesta reflexão é até que ponto as pessoas pensantes são sinceras consigo mesmas em seus julgamentos.

A lógica usada é realmente imparcial, ou está sujeita às paixões partidaristas dos intelectuais?

O estudo das Ciências Ocultas exige de nós uma capacidade de pensar com clareza sem nos deixar levar por tendências filosóficas às quais não estejamos conscientes. Vemos que para este caminho estão mais preparados aqueles que pensam por si mesmos e fazem suas escolhas como é o caso de muitos Ateus, do que aqueles que simplesmente se acomodam e aceitam passivamente as conclusões dos pensamentos de outros como as grandes massas religiosas.

Então não vemos mais uma distinção entre Ateístas e Teístas, e sim, uma distinção entre aqueles que pensam por si mesmos, (Sejam eles Ateístas, Teístas ou algo diferente) e aqueles que não pensam por si mesmos e se deixam levar por conceitos de lideranças filosóficas, políticas, sociais ou científicas (Sejam eles Ateístas, Teístas ou algo diferente).

Vemos naturalmente a grande massa humana se sentindo superior a seus semelhantes por compartilharem de uma mesma bandeira ideológica, pois se houveram grandes pensadores Xintoístas isso não faz com que alguém que é Xintoísta apenas por tradição familiar se iguale a tais figuras. Assim também se houveram grandes pensadores Ateistas isso não faz com que alguém que é Ateu seja comparável a tais figuras apenas por compartilhar deste Conceito Específico.

Não estou aqui defendendo nenhuma bandeira ou conceito, nem mesmo atacando qualquer vertente filosófica. Estou apenas expondo certas considerações sobre o comportamento de alguns indivíduos que vejo, especialmente na Internet, que assumem posturas e fazem afirmações com base no conceito de que todo aquele que não pensar como ele e não chegar às mesmas conclusões é um "Idiota Completo".

Já vi afirmações que são repetidas pelos defensores do Ateísmo, como sendo um argumento bastante lógico para o surgimento das Divindades.

Afirmações tais como: "Na antiguidade o hominídeo primitivo não havia desenvolvido o conhecimento científico necessário para compreender os fenômenos da Natureza, de modo que se assustavam com eles, temendo o anoitecer, as chuvas e o sol que passavam a ser vistos como coisas assombrosas mais poderosas do que eles próprios e em suas mentes primitivas e limitadas passaram a fantasiar explicações para aqueles fenômenos, de modo que lhes confortassem e lhes fizessem se sentir seguros, imaginando assim, que havia alguém em algum lugar fora de suas vistas controlando tais fenômenos".
 
 
Os seres humanos hoje possuem a mesma conformação Cerebral que possuíam a 20.000 anos atrás. A mesma capacidade de raciocínio que possuímos hoje, já se encontrava à nossa disposição naquela época. Neste meio tempo encontramos construções baseadas em cálculos complexos de engenharia, alinhadas a pontos de referência astronômicos datados de mais de 10.000 anos.
 
Temos obras filosóficas que tratam de pensamentos abstratos complexos com até 10.000 anos. Seria o cúmulo da pretensão acreditarmos que todos os que nasceram antes da chamada "Ciência" (que não tem mais de 200 anos) eram "Imbecis" ao ponto de ficarem "Assustados" com o anoitecer. Pois nem mesmo os animais mais atrasados possuem tais "Temores".

Tal dificuldade em aceitar a existência de "Vida Inteligente" a mais de 200 anos, só se justifica pelo intolerante pensamento de que se eram inteligentes então só poderiam pensar como eu. A humanidade já teve várias fases diferentes, com Civilizações Diferentes, com Culturas Diferentes, com Ciências Diferentes, com Tecnologias Diferentes, com Filosofias Diferentes e acima de tudo, com Objetivos, Interesses e Prioridades Diferentes.

Hoje nossa Civilização busca o desenvolvimento Tecnológico, Prático, voltado ao uso da capacidade mental do Raciocínio, buscando através dele encontrar respostas para os Fenômenos da Natureza e como tirar proveito deles.

Outras Civilizações do passado não tinham condições de fazer a mesma coisa se quisessem? Pois tinham a mesma conformação Cerebral que temos hoje, as chances de ter nascido um Einstein a 7.000 anos atrás eram as mesmas de hoje. E ainda assim, muitos preferem insistir no argumento ilógico de que: "Se não buscaram tais objetivos é porque não foram capazes disso".

Somente a nossa ilimitada Soberba nos faz acreditar sermos tão mais especiais que nossos antepassados ao ponto de considerarmos esse pensamento válido. Uma vez que sendo um pouco menos pretensiosos poderíamos levar em consideração que: Eles não Quisessem, Não tivessem os mesmos Objetivos, Não tivessem os mesmos Interesses e não estivessem preocupados em se desenvolverem nas mesmas coisas que buscamos hoje.

Vemos que as Civilizações Antigas não tinham no desenvolvimento Tecnológico, Prático o mesmo interesse que temos hoje, não viam como sendo a coisa mais importante a ser desenvolvida. Como também não viam que o uso da capacidade mental do Raciocínio fosse mais importante que a capacidade mental da Intuição por exemplo.
 

É perceptível que Civilizações Antigas buscaram muito mais conhecer a Natureza Psicológica do Ser Humano do que os Fenômenos da Natureza. Tanto que na nossa Civilização Atual, existe tão pouca atenção voltada para a Compreensão da Natureza Psicológica do Ser Humano que para conseguirmos algum conhecimento a respeito precisamos recorrer a escritos de Civilizações Anteriores, com 500, 1.000, 2.000, 5.000 anos ou mais.

E se vamos analisar uma Civilização cujo o foco da atenção esteja no Ser Humano e nos mistérios de sua Mente, nas sutilezas de suas Emoções, é preciso levar em consideração que tipo de linguagem é necessária para se tratar destes assuntos.

Pois hoje pra tratarmos deles, nos valemos de Metáforas, usando como exemplo aquilo que conhecemos bem, como os próprios Fenômenos da Natureza, como quando se diz que alguém está de mau humor é como se tivesse uma nuvem negra sobre sua cabeça. Seria verdadeiramente absurdo imaginar que isto fosse uma referência literal à existência de uma nuvem negra sobre a cabeça de alguém.

Assim, também eram esses outros povos, que escreviam sobre a Natureza Humana e para isso se utilizavam de Metáforas, usando como exemplo aquilo que Eles Conheciam Bem, como os próprios Fenômenos da Natureza.

Pois se alguém menciona ter recebido um raio na cabeça e despertado para uma realidade, se isto fosse escrito hoje seria entendido como figura de linguagem, e somente o nosso profundo preconceito nos leva interpretar que a mesma coisa escrita na antiguidade fosse uma referência fantasiosa de mentes primitivas à possibilidade absurda de alguém receber um raio na cabeça e sobreviver a isso. Seria o mesmo que imaginar que alguém escrevendo sobre relacionamentos mencionasse a expressão "Metade da Laranja" e fossemos interpretar que isso fosse uma referência a uma fruta cítrica.

No estudo das Ciências Ocultas lidamos justamente com essa Natureza Humana, lidamos com a própria Estrutura Psicológica do Ser. Encontramos ao nos aprofundar nestes conhecimentos distinções Claras entre Personalidade, Individualidade, Mente, Consciência, coisas que já eram conhecidas pelos Povos da Antiguidade de maneira abrangente e profunda, enquanto os estudos científicos modernos só muito recentemente e com dificuldade vão assimilando, ainda assim graças a interpretações menos tendenciosas dos escritos antigos.

Quando se observa a Existência e se ilustra esta análise com imagens da Natureza, não se está se referindo a um sujeito barbudo que fica em cima de uma nuvem brigando e colocando umas pessoas contra as outras. Pois alguém que acredite em algo assim, infelizmente gera dúvidas sobre suas faculdades mentais.

Mas podemos considerar a possibilidade de que para haver movimento em todas as partículas subatômicas que compõem todos os corpos e coisas é necessário que haja uma força impulsionadora, que se mantém como um moto-contínuo e que quando vemos esta força que anima os seres vivos chamamos de vida, quando vemos o movimento e ação de corpos considerados inanimados chamamos de energia cinética, mas quando analisamos a atividade imaterial de nossas mentes chamamos de Consciência, chamamos de "EU".
 
 
Algumas das Civilizações Antigas se dedicaram tanto ao Estudo e Conhecimento da Consciência Humana quanto nós nos dedicamos hoje ao Estudo e Conhecimento dos Fenômenos da Natureza. Assim, é natural que saibamos mais do que nossos antepassados sobre isso, assim como é natural que eles soubessem mais do que nós sabemos hoje sobre nossa própria Mente.

Muitos pensadores antigos chegaram à Conclusão de que aliada à Vida, à Energia Cinética em nós havia uma Consciência, e da mesma forma haveria algum tipo de Consciência, mesmo que não lúcida como a nossa, talvez mais ou talvez menos, acompanhando toda Vida e Energia que existisse em cada Ser ou Coisa da Natureza.

Assim também chegaram a conclusões como a de que se era possível haver uma somatória de inteligências humanas formando uma sociedade, como é possível a somatória de inteligências animais formando uma colônia de formigas ou abelhas, assim também seria possível a existência uma somatória de inteligências que abarcasse todos os seres.

Para tal fenômeno Consciencial deram um nome genérico e técnico, isso quando conseguiram conceber um termo que definisse tal coisa. Especialmente por não terem como definir o que seria tal Força, que até então se tratava de um Conceito, que só podia ser perceptível para as sutilezas do sentir humano. Nem mesmo se tinha como definir como tal elemento atuaria na realidade exterior, mas se observava a relevância da interação entre a Consciência Humana e essa Somatória na qual parecia estar mergulhada.

O Ser Humano como Consciência se via como algo distinto desta totalidade, que para ele era como que Inconsciente, não tinha fronteiras, era coletivo, não tinha como determinar até onde a sua própria Consciência era particular e não uma série de recortes de outras Consciências, outras Inteligências.

Não havia nome para isso, então alguns pensadores criaram nomes diferentes para diferentes aspectos dessa realidade Mental, houveram aqueles que compararam à própria Natureza, dizendo ser como o Vento ou como o Mar. Outros compararam esta realidade ao Ser Humano, como se fosse alguém que agisse assim ou assado.

Eram justamente as tentativas de se explicar o vazio e o silêncio com o qual a Mente tomava contato quando parava de movimentar pensamentos, pois nestas condições a Consciência se encontrava em seu estado natural de neutralidade e nestas condições se constatava que havia limites para a Consciência Humana, que não havia referência de Individualidade ou de tamanho, ou mesmo de tempo, só existia o "EU" e esta apenas se percebia existindo, mesmo não sendo nada, mesmo não sendo diferente do vazio que lhe rodeava.
 

A nossa Civilização Atual é tão assombrosamente carente deste nível de conhecimento que encontramos multidões de indivíduos lendo as antigas obras dos pensadores do passado e interpretando literalmente suas Parábolas e Metáforas, insistindo insanamente que tais "estorinhas" fossem uma realidade física e fenomênica. E ainda assim, tais interpretações "imbecis" não são questionadas, pois do alto de nossa Arrogância acreditamos realmente que os pensadores do passado não passassem de criaturas primitivas e delirantes que realmente estivesse descrevendo eventos literais.

Assim ficam infindáveis debates em que um afirma que existe sim uma nuvem negra na cabeça de fulano, e outro argumentando ferozmente que tal nuvem negra não existe, quando esta era na verdade apenas uma figura de linguagem de quem escreveu a respeito.

Se por um lado não faz o menor sentido a atitude supersticiosa e irrefletida da grande massa religiosa em agir como se tal coisa fosse realmente alguém com atitudes humanas, ou que fosse realmente o vento, a tempestade, o sol ou a noite, também não faz o menor sentido questionar a existência de algo que nem se sabe o que é. Ou seja, para contestar uma tese, para propor uma antítese, eu preciso conhecer a tese com profundidade. Ou estarei sendo tão supersticioso e irrefletido quanto os que defendem a tese sem nem mesmo conhecê-la.

É caso de se pensar: Eu Acredito no que? Ou ainda: Eu Não Acredito no que?

Se substituirmos o termo Deus pelo termo Vazio, então um Teísta acredita no Vazio, enquanto o Ateísta Não acredita no Vazio. Mas, afinal o Vazio é algo para ser ou não acreditado? Devo me opor aos que acreditam no Vazio? Devo me opor aos que não acreditam no Vazio? Faz diferença se o Vazio existe ou não?

Há muito para se refletir sobre essas questões. E reflexão é que nos faz conviver bem em sociedade sem ficarmos nos acusando mutuamente de Maléficos e Imbecis.

Mais sobre esses conceitos relativos à mente e ao vazio foram expostos no texto "A Mente e a Existência", em que o assunto é tratado com mais profundidade.
 
 

terça-feira, 11 de maio de 2010

A Pedra Filosofal


Este Mistério Alquímico é encontrado a partir da expressão: V.I.T.R.I.O.L.

Esta sigla é a abreviação da frase em latim: Visita Interiora Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem

Costuma ser traduzida como: Visita o Interior da Terra Retificando Encontrarás a Pedra Oculta.

Sendo assim essa "Pedra Oculta" uma referência à "Pedra Filosofal".

Se fazendo uma análise comparativa entre os seus relatos e os simbolismos iniciáticos, veremos que sua experiência traz vários simbolismos relativos ao que é estudado nas chamadas "Escolas de Mistérios", como eram conhecidas na Grécia o Culto de Mitra, os Mistérios de Eleuses, no Oriente Médio o Colégio dos Essênios, e o Colegiado dos Magos do Antigo Egíto.

Tudo tem por base este princípio da "Interiorização", sendo o V.I.T.R.I.O.L. uma referência semelhante ao "Conhece-te a ti mesmo e conhecerás a Deus e ao Universo".

Nessa busca pelas Profundezas do Ser estaremos encontrando figuras como Hecate e Physis, que são de modo geral representações de nossa porção Inconsciente, o OUTRO em nós, que em muitas ritualísticas é representada pela figura de Isis, Maria, Maia, sendo a presença da Natureza em nós, os aspectos femininos de Deus, ou Deus Mãe. Assim, também a relação com Sophia, como eu também gosto de comparar com a figura de Perséfone, que é uma mesma divindade em condições diferentes, com um aspecto mais sombrio e misterioso, associado à Morte quando em sua morada no "Interior da Terra", e como a vívida e florida Deusa Primaveril quando na superfície, sendo fonte de vida e juventude para a Manifestação da Natureza em sua irradiante pureza.

Essa analogia me remete a uma afirmação que define bem esta condição enfrentada por aquele que ousa buscar o que há em seu interior: Para que os galhos da árvore alcancem o céu, suas raízes terão de alcançar o inferno.

A medida que nos aprofundamos no conhecimento de nós mesmos, vamos tomando contato com nossa realidade infernal, sendo que os verdadeiros infernos só existem dentro de nós mesmos, o "Reino dos Mortos" guardado por figuras como Perséfone e Hades, onde está trancada a Sabedoria dos Tempos, como no Mito de Saturno trancafiado no Tártaro por Júpiter, que deixou Plutão a lhe vigiar.

Ao Retificar-se como diz no V.I.T.R.I.O.L. estaremos fazendo o trabalho de purificação e limpeza de nosso passado, de nossas memórias de tudo aquilo que haviamos deixado sepultado, mágoas, ressentimentos, que acabam vindo a tona durante o processo, até que se consiga finalmente chegar a encontrar a Pedra Filosofal.
 

É a partir dessa Pedra que se obtém o Elixir da Longa Vida, quando nos deparamos com a imortalidade da Alma. E se observarmos a palavra Latina usada para Pedra "Lapidem", vemos também a origem da palavra Lápide, a pedra que guarda o sepulcro, encontramos a nós mesmos, encontramos onde estamos "sepultados", contemplamos a Lápide, e pela contemplação de nossa própria finitude, "Filosofando sobre esta Pedra" é que constatamos a Eternidade da Alma.

Para a pessoa que vive uma vida comum, voltada para a realidade exterior, aquilo que está no seu interior lhe assombra, como uma ameaça constante a lhe fungar o cangote. Para aquele que busca se aprofundar, ele se volta para o que está a lhe assombrar e vê que "O Diabo não é tão feio quanto se pinta".

Esse efeito ocorre pelo fato de que não nos é possível temer o que conhecemos, só tememos aquilo que não vemos, e a partir do momento em que tomamos contato com esta nossa realidade mais profunda, somos capazes de "Retificá-la", isto corresponde ao "Arrependei-vos! Endireitai Vossas Veredas pois está próximo o Reino de Deus", o Batismo das Águas de João Batista. Que na tradição Grego-Romana é representado pelo trabalho de Hércules lavando as Estrebarias.

A partir do momento em que nos voltamos para nós mesmos, nos livramos de nosso peso do passado, purificando nossas emoções e pensamentos, nós alcançamos a pureza. A partir daí vemos o simbolismo de que Jesus (O Salvador) nasce de Maria (A Pureza). O Renascimento do Ser, o Salvador que há em cada um de nós, é despertado quando alcançamos a Pureza, assim encontramos o nosso Mestre Interior, que nos guia em nossa jornada em busca de nossa origem.

O Ser, o Indivíduo é representado nas mais diversas culturas pelo Sol, como vemos pela palavra Grega Krestus (Deus Solar), ou seja, nós assumimos esta condição "luminosa", de esclarecimento, o despertar de uma nova consciência a partir desta jornada para o nosso interior.

Mas esse não é um ponto final, pois buscamos a nossa Origem (Deus Pai), figura essa que transcenderia o próprio Sol. Neste caso um dos simbolismos encontrados é uma associação ao Centro da Galaxia, e outros já trataram do assunto como uma referência ao chamado "Sol Central", um Sol em torno do qual o nosso Sol se poria. Mas a localização deste Sol Central é principalmente simbólica, pois ele não tem como ser encontrado no Espaço Exterior. Seria o que os Místicos Nazistas chamavam de Sol Negro, um Sol invisível do qual viria toda a vida, inclusive para o nosso Sol.

Se considerarmos a figura de Jesus Cristo como uma representação do Ser Humano, do Indivíduo como SER, teremos uma interpretação distinta para a frase: Ninguém vem ao Pai senão por mim.

Neste caso para encontramos a nossa Origem só o faremos pela Interiorização, e somente após o despertar desta Auto-Consciência, o reconhecimento de nossa Individualidade, de nós como Centros de tudo que nos rodeia, a relação entre o Sol e o EU. 
 
Ao se ultrapassar essa experiência é que estaremos verdadeiramente nos "Iniciando nos Mistérios", ou seja, assumindo a nossa condição de Deus Filho, passamos a tomar contato com Deus Mãe e após isso com Deus Pai, o Criador, ou como os Maçons o chamam o G.A.D.U. (O Grande Arquiteto Do Universo), assim passaremos a trapalhar para a realização da "Grande Obra", ou seja, Teurgia.

A fonte de inspiração para a realização da Grande Obra (Teurgia) é extraída deste impulso original, deste ponto central do nosso Universo Interior, de onde tudo vem e para onde tudo vai, representado pela Pedra Filosofal, que pode ser tanto a Pedra Fundamental para construção da Obra, como pode ser a Lápide para se Sepultar o que foi terminado.

O Mistério da figura tripla de Hecate, é diretamente relacionada com a figura do Arcano XVIII do Tarô, que chamado de "O Crepúsculo" ou "A Lua". Vemos 3 faces de Hecate e supomos uma 4ª, assim como vemos a Lua em 3 de suas fases e supomos sua presença na Lua Nova.

A Lua é vista como uma contraparte do Sol, um Espelho que o reflete, sendo o Sol o EU e a Lua o OUTRO em nós. A questão é que ao vermos no espelho a face não é outro ser que não nós mesmos invertidos, e neste caso na figura de três faces de Hecate a quarta face realmente não existe, é um vazio, correspondendo à ausência do espectador, que está na posição de observador, e "O Olho não pode ver a si mesmo".

É este vazio que nos assombrava enquanto não tínhamos coragem de encará-lo, é este vazio que contemplamos ao encontrar a Lápide, é este vazio que sentimos quando contemplamos a morte e finitude, sendo este mesmo vazio que nos move, nos leva a buscar fazer por nós mesmos, pois não há ali ninguém mais além de mim para realizar a Grande Obra, é este vazio que nos dá estas ferramentas para a realização do trabalho.
 


 

sábado, 20 de março de 2010

Ano Novo Astrológico


Atualmente com a globalização da cultura ocidental, temos a tendência a desconsiderar, ou até mesmo ver como excêntricas, algumas culturas mais antigas e os significados de seus ritos. Os calendários existentes no mundo são diversos, a exemplo do calendário judaico, árabe, chinês, entre outros.

A comemoração do "Ano Novo" varia de acordo com o calendário empregado. Alguns possuem um simbolismo mais voltado para a religiosidade, enquanto outros com um sentido apenas tradicional e popular. Datas como as mudanças das estações do ano, por exemplo, eram vistas com um significado mais profundo na antiguidade, por diversos povos tanto no Oriente quanto no Ocidente.

Neste caso, antigos Astrólogos da Europa Medieval, influenciados por estes significados, estabeleceram uma relação entre o chamado Ano Novo Astrológico, em 21 de Março e entrada da Primavera no Hemisfério Norte. Considerando assim uma analogia com o Signo de Áries que tem seu período iniciado nesta ocasião, como correlato a este impulso de vida florescente da Primavera.

No entanto, estes significados são modernamente discutidos por se tratar de uma circunstância regional, restrita ao Hemisfério Norte, havendo aqueles que até pleiteiam uma possível Astrologia específica para o Hemisfério Sul, justamente por haver esta inversão das estações do Ano e nesta ocasião estarmos iniciando o Outono.

A questão é que de certo modo este tipo de significado não era especificamente a base para que a Astrologia primitiva determinasse o Signo de Áries como Primeiro Signo do Zodíaco. Esta data específica corresponde à entrada do Sol no Signo de Áries e é este o evento que se considera como sendo o Ano Novo Astrológico, ou seja, a um recomeço da contagem dos 12 Signos, tendo-se Áries como ponto de partida, como Primeiro Signo, independente da Estação do Ano que esteja se iniciando em cada Hemisfério.

Então a questão a ser levantada é:

Porque Áries é considerado o Primeiro Signo do Zodíaco?

O que alguns julgam é que esteja relacionado às suas características de simplicidade e objetividade, em analogias que nos remetem à juventude e sua irrefletida impulsividade natural. Estando em contraste com toda a rebuscada complexidade do Signo de Peixes que lhe precede, em sua subjetividade e toda a riqueza de conhecimentos intuitivos próprios deste signo, que costuma ser visto como um ideal a ser alcançado, como um Ponto Alto da Roda Zodiacal.

Todavia, ao levarmos em conta a relação existente entre a Astrologia e as demais Ciências Ocultas, podemos fazer uma análise mais ampla, se levarmos em consideração outros fatores envolvidos neste conhecimento. Fatores estes, que atualmente costumam ser desconsiderados, ou apenas mantidos como algo Folclórico pelos Astrólogos da atualidade.

Em termos gerais podemos considerar a Astrologia como um processo de reconhecimento de correlações, a princípio entre os movimentos dos Corpos Celestes e as Estruturas Formadoras das Personalidades Humanas. Entretanto estas correlações frequentemente foram muito além, de modo a se estabelecer uma especialidade conhecida tradicionalmente como Astrologia Médica, na qual se passou a estabelecer uma correlação entre os Corpos Celestes e nossa própria Anatomia.
 
 
A partir deste estudo se estabeleceu uma relação direta entre os Signos e determinadas partes do corpo humano. Sendo que podemos destacar que o Signo de Áries corresponde à Cabeça, sendo seguido pelos demais signos, cada qual com sua parte do corpo até chegar a Peixes representado pelos pés.

Esta relação foi sendo mais aprimorada durante a Idade Média Européia, tendo a Astrologia naquela época sofrido influências da Alquimia, havendo inclusive um compartilhamento de simbolismos e significados, através do qual, boa parte dos símbolos passaram a ter correspondentes mais diretos quanto a nossa estrutura mais sutil.

Uma das constatações mais significativas nos estudos ocultos neste caso, foi quanto maneira como a Consciência do Indivíduo se relaciona com o nosso Corpo. Para muitos é considerado como plausível que a Consciência se encontre diretamente relacionada à Cabeça, ou mais propriamente ao Cérebro. Mas, o que passou a observar foi uma presença bem menos específica da Consciência no Corpo, sendo que ela não teria como ser localizada em um lugar específico da nossa anatomia.

Assim, ao se estabelecer o paralelo simbólico da Consciência no Indivíduo, com o Sol em sua jornada aparente ao longo da Roda Zodiacal, também se passou a observar a Consciência, mesmo que não sediada em um ponto específico, mas com uma ênfase especial na parte do corpo correspondente à cada Signo pelo o qual o Sol passasse.

Deste modo se passou a considerar que quando o Sol deixa o Signo de Peixes e ingressa no Signo de Áries, isso corresponderia a que o foco de atenção de nossa Consciência deixasse os Pés após ter atravessado o corpo todo ao longo do ano, e retomasse sua jornada a partir da Cabeça.

Esse foco de Atenção específico em cada parte do Corpo pode ser constatada por uma maior sensibilidade daquela parte do corpo para indivíduos nascidos com o Sol no Signo Zodiacal correspondente. Tal sensibilidade costuma ser estudada quando se analisa as chamadas Zonas Astro-Erógenas, sendo este também um estudo, de certo modo, considerado folclórico no meio astrológico, por se tratar de tema muito próximo de crenças populares.

Outra correspondência estabelecida em estudo mais antigos, é quando se relaciona os Signos com as Casas Zodiacais. De certo modo as Casas são muito mais uma medida de tempo do que de espaço, tendo como referência o próprio movimento da Terra ao longo do dia, designando assim a cada espaço de tempo a visualização de um diferente Signo no Horizonte em direção ao Nascente. Sendo assim este signo chamado de Signo Ascendente, para aquele que nascer naquele período de tempo. Sendo então este Signo o "Governante" da Primeira Casa.
 

Costuma-se estabelecer uma relação direta entre o Signo de Áries e a Primeira Casa, e assim temos uma relação entre o Signo e um determinado período de tempo do dia, e neste caso o Período da Primeira Casa corresponde justamente à Alvorada, o Nascer do Sol.

Assim também foram estabelecidas diversas analogias entre o Signo de Áries e a Jornada Iniciática, que por muitas vezes foi chamada de "Busca pela Aurora da Juventude", onde se encontra igualmente uma correlação com Áries como a figura do Herói Épico, do Ser Humano que supera as adversidades, de um Sol (Consciência) que vem a Nascer no Oriente.

Nesta data do ano, na qual o Sol adentra ao Signo de Áries, corresponderia à uma Aurora daquele Ano. E a partir deste preceito se estabeleceu igualmente características que identificassem aquele ano que "Nascia" naquele momento, em que se passou a atribuir uma "Regência Planetária" para cada Ano.

Formaram-se ciclos de 36 Anos, durantes os quais 7 Planetas (Astrológicos), se sucediam, havendo um a cada ano, a partir do dia 21 de Março. Como vemos nesta data atual em 2010, passamos do Ano de Sol, para o Ano de Vênus.

Independente da relevância que tais conceitos tenham para o Astrólogo moderno, ainda assim para aquele que se dedica ao estudo das Ciências Ocultas é algo para ser levado em conta, dada a riqueza de significados simbólicos relativos esta data.

Enfim, com isso concluo desejando que possamos refletir sobre este Renascimento da Consciência em nós!

Desejo a todos um Feliz Ano Novo!