quinta-feira, 11 de junho de 2009

Bruxaria


Esta terminologia não é de cunho técnico, não servindo como critério de avaliação. O termo Bruxaria surge como uma atribuição ao que é feito por uma Bruxa ou Bruxo, sendo que tais denominações tiveram como origem uma definição atribuída justamente por quem ignorasse suas ações. A expressão “Bruxa”, originalmente não possuía um sentido pejorativo, a palavra em si tem um sentido de “Sombrio”, não algo absolutamente escuro, mas algo “mal iluminado”, tendo uma conotação de “misterioso”.

Assim, as pessoas comuns que não compartilhassem de suas práticas, desconheciam suas atividades e diziam que tal pessoa era misteriosa, ou seja, Bruxa. Com o tempo, na Idade Média na Europa, a Igreja Católica por se ver perdendo terreno para Religiões mais tradicionais e antigas, cujos cultos costumassem ser praticados com certa discrição, começaram a associar o que é misterioso ao que é mau. Assim o próprio termo Bruxa se tornou pejorativo.

Dentro do pensamento Católico, como pode ser exemplificado pela obra de Santo Agostinho, temos um sentido de “mal” como sendo a ausência do “bem”, e tal associação sendo feita comparada à relação entre luz e sombra, ou seja, se algo é “bruxo”, ou pouco claro, é que ali falta a luz.

Já tais pessoas às quais tradicionalmente era atribuído o título de Bruxa, eram pessoas que se considerava terem “poderes sobrenaturais”, sendo que quaisquer habilidades que fugissem da média eram vistas como misteriosas e assim não poderiam ser naturais, sendo que na antiguidade era comum recorrer a tais pessoas em busca de prodígios, curas, orientações, pois a crença popular levava a supor que se não sei sobre o que ela sabe, então ela deve saber muitas coisas que eu desconheço. Assim foi se mistificando a imagem das Bruxas.

O termo foi se tornando extremamente abrangente e generalizante, muitos casos diferentes foram rotulados com esta mesma definição, e com o tempo começou-se a associar a “Bruxaria” às práticas de “Feitiçaria”.

Feiticeiro é aquele realiza um “Feitiço”, ou “Feitio”, o termo em si, está ligado ao ato de Fazer, a manufaturação de objetos, produtos, seja com quaisquer fins, sendo que na linguagem técnica o Alfaiate realiza o Feitio de uma roupa, sendo assim poderia se dizer que um Alfaiate seria um Feiticeiro.

No entanto, o uso geral desta expressão foi sendo abolido em prol de um uso específico, em que os “Feitiços” eram associados ao que era feito por “Bruxos”, pois muitos dos que eram atingidos por esta denominação, eram pessoas que se dedicavam à manipulação de utensílios e produtos diversos, tais como a produção de Fitoterápicos, medicamentos, ou mesmo atividades diversas ligadas a ritos e práticas específicas.

Neste caso, podemos ainda hoje estabelecer uma distinção entre os termos Bruxaria e Feitiçaria, como uma forma de desambiguação. Realizar o Feitio de algo, pela manipulação de utensílios e produtos não é privilégio de quem tenha “poderes sobrenaturais”, sendo que se encaixa no contexto da prática de “Feitiçaria”, aquilo que atualmente é conhecido como “Simpatias”, sendo que um “Feiticeiro” é um atributo funcional.

Podemos comparar com a atividade de um Cozinheiro, pois, se eu sei preparar um prato, enquanto eu estiver realizando este procedimento estarei sendo o Cozinheiro, sendo que não preciso ser um Chef profissional para isto. Já o mesmo prato sendo preparado por um profissional poderá ter um resultado final muito diferente de acordo as habilidades que este indivíduo possua, tendo-se aí um algo a mais que não seja conhecido, o que chamariam de “o segredo do Chef”.

No entanto tal Chef de Cozinha poderá não ter nenhuma habilidade excepcional. Podendo ser apenas alguém que faz tal prato com freqüência e qualquer um que não tenha a mesma prática, mas que “leve jeito” para a culinária, mesmo que não exerça profissionalmente, poderá preparar o mesmo prato de maneira mais saborosa.

Assim temos que o que diferencia um Feiticeiro de um Bruxo seria justamente que um Bruxo é um indivíduo que possui um “algo a mais”, que costuma ser classificado como um “dom sobrenatural”. Sendo que não há distinção entre o que é feito por um ou por outro.

Um Feiticeiro poderá ou não ser um Bruxo, ou seja, poderá ou não, ter habilidades especiais, o que o caracteriza é a realização de Feitiços. Já um Bruxo poderá ou não realizar Feitiços, o que o caracteriza são seus “poderes especiais”.


Ambas as definições são fruto da ignorância popular, ou seja, não são termos técnicos de quem realiza tais feitos e sim como aqueles que desconhecem tais procedimentos se referem a eles. E com isso se inclui toda sorte de preconceitos (Conceitos pré-concebidos) que se expressam no sentido pejorativo destes termos.

Os indivíduos aos quais foi atribuída originalmente a definição de “Bruxo”, e os talentos que foram considerados como sendo sobrenaturais, são de vários tipos e para o Ocultista não possuem nada de misteriosos.

De modo geral estes tinham em comum um determinado grau, natural ou desenvolvido de Sensitividade, sendo que esta poderia se manifestar de diversas formas. Assim teríamos indivíduos dotados de Magnetismo, Hipnólogos, pessoas identificadas e afinizadas com forças da natureza, Médiuns e Oráculos, podendo tais indivíduos possuírem uma ou mais destas características, sendo que estes que no passado eram classificados genericamente como “Bruxos”, hoje são genericamente classificados como “Paranormais”.

Outra classe de indivíduos também assim classificados era a de praticantes de determinadas religiões cujas atividades fossem de caráter restrito, mesmo que tais indivíduos não possuíssem quaisquer destas habilidades. Tal associação era feita especialmente se fizesse parte da prática religiosa a manipulação de utensílios e produtos, caracterizando assim a prática de algum tipo de Feitiçaria. Sendo que tais definições sempre foram atribuídas a partir de um ponto de vista “externo”, ou seja, por parte de quem não estivesse envolvido em tais práticas, de modo que estas aos seus olhos pareceriam misteriosas, e freqüentemente consideradas de conteúdo maléfico.

Assim também ocorria de serem taxados como “Bruxos”, indivíduos que apresentassem algum desenvolvimento “Místico”, quer fosse este natural ou conquistado, tais indivíduos se destacavam por demonstrarem habilidades de persuasão, além de habilidades intuitivas, premonitórias, freqüentemente dotadas do dom da Oratória, sendo que também eram classificados como “Profetas”.

Outros que também acabavam recebendo tal classificação eram os estudantes de Ordens Esotéricas, ou Sociedades Secretas, não importando se estes organismos eram voltados ao desenvolvimento de habilidades especiais, ou não. Assim, também se misturou o conceito de “Magia”, com a prática da “Feitiçaria”, justamente pela atribuição leiga do rótulo de “Bruxaria” a tudo aquilo que não entendessem.

Também ocorreu de que por razões políticas, pelo interesse em conquista de território e público, a Igreja Católica começou a lançar mão do fato de que o conceito de Bruxaria já fosse tão abrangente, para inserir na Cultura do povo a idéia de que Filosofias e Religiões diferentes estariam ligadas diretamente às práticas de Feitiçaria e, portanto, seus praticantes seriam classificados como Bruxos.

Como na antiguidade, as Religiões que existiam na Europa se caracterizavam pelo culto a elementos da Natureza, estas passaram a ser classificadas genericamente como Religiões “Pagãs”, sendo que o termo “Pagão” vem da expressão “Paganus”, do Latim, que tem o sentido relativo a aquilo que vem do campo ou camponeses.

Aproveitando-se desta classificação, a Igreja Católica começou a fazer uso desta definição com o fim de distinguir tais práticas Religiosas, atribuindo um sentido pejorativo relativo à Bruxaria. Como argumento justificador, se valeram do Rito do Batismo, que era característico da prática do Catolicismo, para atribuir um novo sentido para o termo Pagão, uma vez que nenhuma destas outras Religiões possuía tal procedimento ritualístico, passou-se a definir que “Pagão” era aquele que não havia sido Batizado.

Modernamente, com o aumento da diversidade cultural e religiosa que foi sendo adquirida após a Renascença na Cultura Ocidental, e com o aumento de Ordens Esotéricas na Europa até o começo do Século XX, foi surgindo um movimento a princípio Cultural, e depois se sedimentando como de caráter Religioso, que teve por objetivo reaver os conhecimentos das antigas Religiões Européias de interação com a Natureza.

Algumas chegaram a sobreviver à perseguição Católica, mas outras, uma vez fragmentadas, tiveram seus elementos remanescentes reunidos formando um corpo único, e tal grupo começou a autodenominar “Paganista”, e como já havia uma ligação entre o termo Pagão e Bruxaria, tais indivíduos passaram a atribuir um novo sentido ao termo, como sendo uma definição específica de suas práticas religiosas, se identificando como sendo Bruxos.

O que podemos considerar para o estudo do Ocultismo, é que os termos Bruxaria e Feitiçaria são abrangentes demais para que se possa definir uma atividade específica, especialmente pelo fato destes termos não terem sido criados com este fim. Pois de certa forma estes termos já foram usados para rotular e estigmatizar as Ciências Ocultas como um todo.