quinta-feira, 22 de maio de 2014

Lúcifer





Peço ao leitor apenas um pouco de atenção, paciência, tempo e boa vontade, pois o que tenho a dizer se encontra sutilmente colocado nas entrelinhas. Tratam-se de idéias e conceitos que fogem ao convencional e trazem uma abordagem mais subjetiva do tema em questão, trazendo muito mais perguntas do que respostas, apenas sugerindo associações de idéias para te levar a ver o assunto com uma mentalidade mais aberta e menos restrita que a maneira como o tema costuma ser abordado.


Procuremos a partir daqui fugir dos conceitos já estabelecidos quanto a esta personagem, não estamos aqui para falar da personificação do mal, nem tão pouco no "pai da mentira", mas sim numa leitura mais sóbria desse tema que por si só já é bem mais vasto, profundo e enigmático que geralmente se costuma considerar.


O termo Lux Ferrer, "Portador da Luz", já fazia parte dos estudos esotéricos de diversas escolas ocultistas desde muito antes da distorção feita dos sentidos deste termo por parte da Igreja Católica Romana. Alguns chegaram a atribuir este termo na antiguidade como sendo uma referência à própria figura do Cristo, até que vieram a associá-lo diretamente àquilo que as antigas tradições hebraicas vieram a chamar de Satan, "O Opositor".


No entanto tratam-se de três figuras distintas, que fazem parte de nossa Anatomia Oculta, bem como são encontrados nas chamadas Viagens Iniciáticas, sendo manifestações e em alguns casos podendo vir a ter até mesmo Personificações externas de qualidades internas de nossa Psique.


É dentro deste contexto que busco abordar esse termo, justamente no que se refere a nossa jornada de desenvolvimento espiritual. Não estarei tratando aqui de uma manifestação externa, ou as possíveis personificações que se encontra ao longo da história, mas sim do simbolismo interior e com isso propor e compartilhar associações e reflexões.


Todos os significados estão bastante entrelaçados e então abordaremos ponto a ponto tentando estabelecer os pontos de ligação. A começar por sua denominação Lúcifer, como dito, derivado da expressão Lux Ferrer, significando "Portador da Luz", tomaremos como ponto de partida as definições encontradas ao longo da Idade Média. Foi neste período que os estudiosos das Ciências Ocultas passaram a correlacionar a Cultura Greco-Romana com conceitos vindos de conhecimentos diferentes como no caso em questão a Astrologia, trazida pelos Árabes para a Europa nesta época.


Se convencionou atribuir dois nomes distintos ao Planeta Vênus, sendo um Lúcifer e outro Vésper. Sendo que de acordo com a época do ano a posição relativa ao Sol faz com que ele seja visto ou no período da manhã como Lúcifer, uma "estrela" bastante brilhante que surge no nascente de madrugada imediatamente antes do amanhecer, ou como Vésper, a "Estrela Vespertina", a mesma "estrela" vista no poente imediatamente após o pôr do Sol desaparecendo no horizonte depois de um tempo. Tradicionalmente já foi chamada de "Estrela Dalva" por ser a maior, mais clara e brilhante no céu noturno.





Por anteceder a manhã, este era chamado de "Portador da Luz" pois é como se este anunciasse o nascer do Sol, ou mesmo como se ele o trouxesse, carregasse. Até aqui isto segue o que se costuma mencionar a respeito de Lúcifer, mas não se costuma encontrar uma ligação direta entre a figura do "Portador da Luz" e a imagem que se tem de Lúcifer como a entidade folclórica que se conhece popularmente.


Se popularizou a estória de Lúcifer como sendo um "Anjo Caído", um Anjo que teria se rebelado contra Deus e buscado construir seu próprio Universo e então teria sido banido. Com isso se buscou dizer que ele era "do bem" e por vaidade e pretensão "caiu" e uma vez corrompido tornou-se "mau". Esta é uma visão simplista de um conhecimento bem mais profundo que foi adaptado pela Religião com o propósito de criar uma história que exaltasse qualidades morais de seus adeptos tais como humildade e confiança em Deus.


Essa visão da "queda" de Lúcifer é que foi o aproximando do conceito de Satan, sendo que boa parte dessa confusão se deu por interpretações menos esclarecidas dos textos bíblicos, em especial por termos que Lúcifer muitas vezes foi associado e simbolizado pela figura de uma Serpente.


De fato, existe essa ligação, de modo que Lúcifer teria sido representado pela Serpente no "Jardim do Éden", aquela que teria tentado "a Mulher" a tomar do "Fruto do Conhecimento do Bem e do Mal". A Serpente ali foi descrita como "a mais astuta das criaturas", sendo que desde a antiguidade as Serpentes foram vistas como símbolo de astúcia, inteligência e também sabedoria, não apenas nas tradições Judaicas como em outras culturas ao longo da história.


Aqui conseguimos estabelecer um paralelo direto com a Cultura Egípcia, na qual tínhamos a figura de Apófis, "A Serpente do Caos", esta corria ao longo da noite até ser morta por Rá a cada manhã. Sendo uma alusão ao que vemos no caso da Estrela da Manhã que desaparece ofuscada pelo Nascer do Sol.


Sendo que a Serpente teria sido juntamente com o Homem e a Mulher (Adão) expulsos do Éden para assim encontrarem a Vida (Eva), como uma alusão ao despertar dos Sentidos através dos quais se tornou possível a vida nos Planos Manifestados.


Simbolicamente podemos considerar que somente através da Luz da Razão se torna possível o Alvorecer de uma Nova Consciência. Lúcifer é a Inteligência, a Luz que se acende na escuridão da noite e arrasta consigo o Sol para que tudo se ilumine.


Nos conhecimentos Herméticos temos que a Inteligência é um elemento a ser conquistado para que enfim se possa ascender para um nível superior de Consciência. Como podemos ver em imagens do Antigo Egito em que Apófis é representada como que formando uma ponte entre duas plataformas, servindo assim para que através desta Serpente de atravesse o Abismo.


Na tradição Egípcia temos que há duas montanhas sustentando o céu, tendo-se no nascente Bakhu e no poente Manu e aqui encontramos a expressão Ankh Bakhu, significando "A Vida no Nascente", ou ainda, com uma livre tradução "A Estrela do Oriente", ou seja, a Estrela da Manhã, Lúcifer.





Aqui essa expressão traz como sentido uma referência à própria Percepção dos Sentidos, como uma forma de somatória dos nossos sentidos, compondo o que alguns já vieram a chamar de "As 50 Portas da Percepção", ou ainda, uma forma de "Sétimo Sentido", sendo algo que se poderia considerar como um "Senso de Realidade".


Assim teremos que o "Fruto do Conhecimento do Bem e do Mal" é muito mais como um Sentido que nos permite distinguir o que é Real do que é Ilusório. Neste caso a ligação entre Lúcifer o Raciocínio se dá por ser o meio pelo qual atualmente conseguimos distinguir os contrários.


Dentre os nossos Sentidos o que mais traz uma associação com a Luz é a Visão e esta é tradicionalmente associada ao que seria a Clarividência, ou a "Vidência Esclarecida", "Ver com Clareza", ou ainda, "Ver o que é Claro, ou Iluminado", aproximando esse conceito ao que se estuda no Budismo como sendo uma referência à "Clara Luz".


Esse Sentido em especial costuma ser associado ao Chakra Frontal que se encontra entre os olhos, sendo chamado de "Terceiro Olho" e era tradição que no Antigo Egíto o Faraó utilizasse um ornamento no qual saía deste ponto a cabeça de uma Serpente, representando o domínio sobre o mundo espiritual.


Existem outras associações que podem ser feitas, como por exemplo relacionar a figura de Lúcifer como representativo de inteligência e astúcia à figura de Loki do panteão Nórdico, onde teremos associações igualmente com conceitos como o Caos, o Abismo, a Loucura e até mesmo o título de "Pai da Mentira".


Vemos aqui sua relevância e profunda e fundamental importância dentro dos estudos Iniciáticos e o quanto essas questões nos levam a analisar de maneira diferente alguns dos conceitos aqui apresentados, nos levando a refletir sobre suas implicações, quem sabe até encontrando novas associações envolvendo a "Estrela do Oriente".


Enfim, trouxe aqui estes elementos relativos a culturas diferentes, com simbolismos muito próximos que descrevem uma realidade espiritual bastante distinta daquela que se poderia conceber apenas com os conceitos populares que se tem da figura de Lúcifer.


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