terça-feira, 11 de maio de 2010

A Pedra Filosofal


Este Mistério Alquímico é encontrado a partir da expressão: V.I.T.R.I.O.L.

Esta sigla é a abreviação da frase em latim: Visita Interiora Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem

Costuma ser traduzida como: Visita o Interior da Terra Retificando Encontrarás a Pedra Oculta.

Sendo assim essa "Pedra Oculta" uma referência à "Pedra Filosofal".

Se fazendo uma análise comparativa entre os seus relatos e os simbolismos iniciáticos, veremos que sua experiência traz vários simbolismos relativos ao que é estudado nas chamadas "Escolas de Mistérios", como eram conhecidas na Grécia o Culto de Mitra, os Mistérios de Eleuses, no Oriente Médio o Colégio dos Essênios, e o Colegiado dos Magos do Antigo Egíto.

Tudo tem por base este princípio da "Interiorização", sendo o V.I.T.R.I.O.L. uma referência semelhante ao "Conhece-te a ti mesmo e conhecerás a Deus e ao Universo".

Nessa busca pelas Profundezas do Ser estaremos encontrando figuras como Hecate e Physis, que são de modo geral representações de nossa porção Inconsciente, o OUTRO em nós, que em muitas ritualísticas é representada pela figura de Isis, Maria, Maia, sendo a presença da Natureza em nós, os aspectos femininos de Deus, ou Deus Mãe. Assim, também a relação com Sophia, como eu também gosto de comparar com a figura de Perséfone, que é uma mesma divindade em condições diferentes, com um aspecto mais sombrio e misterioso, associado à Morte quando em sua morada no "Interior da Terra", e como a vívida e florida Deusa Primaveril quando na superfície, sendo fonte de vida e juventude para a Manifestação da Natureza em sua irradiante pureza.

Essa analogia me remete a uma afirmação que define bem esta condição enfrentada por aquele que ousa buscar o que há em seu interior: Para que os galhos da árvore alcancem o céu, suas raízes terão de alcançar o inferno.

A medida que nos aprofundamos no conhecimento de nós mesmos, vamos tomando contato com nossa realidade infernal, sendo que os verdadeiros infernos só existem dentro de nós mesmos, o "Reino dos Mortos" guardado por figuras como Perséfone e Hades, onde está trancada a Sabedoria dos Tempos, como no Mito de Saturno trancafiado no Tártaro por Júpiter, que deixou Plutão a lhe vigiar.

Ao Retificar-se como diz no V.I.T.R.I.O.L. estaremos fazendo o trabalho de purificação e limpeza de nosso passado, de nossas memórias de tudo aquilo que haviamos deixado sepultado, mágoas, ressentimentos, que acabam vindo a tona durante o processo, até que se consiga finalmente chegar a encontrar a Pedra Filosofal.
 

É a partir dessa Pedra que se obtém o Elixir da Longa Vida, quando nos deparamos com a imortalidade da Alma. E se observarmos a palavra Latina usada para Pedra "Lapidem", vemos também a origem da palavra Lápide, a pedra que guarda o sepulcro, encontramos a nós mesmos, encontramos onde estamos "sepultados", contemplamos a Lápide, e pela contemplação de nossa própria finitude, "Filosofando sobre esta Pedra" é que constatamos a Eternidade da Alma.

Para a pessoa que vive uma vida comum, voltada para a realidade exterior, aquilo que está no seu interior lhe assombra, como uma ameaça constante a lhe fungar o cangote. Para aquele que busca se aprofundar, ele se volta para o que está a lhe assombrar e vê que "O Diabo não é tão feio quanto se pinta".

Esse efeito ocorre pelo fato de que não nos é possível temer o que conhecemos, só tememos aquilo que não vemos, e a partir do momento em que tomamos contato com esta nossa realidade mais profunda, somos capazes de "Retificá-la", isto corresponde ao "Arrependei-vos! Endireitai Vossas Veredas pois está próximo o Reino de Deus", o Batismo das Águas de João Batista. Que na tradição Grego-Romana é representado pelo trabalho de Hércules lavando as Estrebarias.

A partir do momento em que nos voltamos para nós mesmos, nos livramos de nosso peso do passado, purificando nossas emoções e pensamentos, nós alcançamos a pureza. A partir daí vemos o simbolismo de que Jesus (O Salvador) nasce de Maria (A Pureza). O Renascimento do Ser, o Salvador que há em cada um de nós, é despertado quando alcançamos a Pureza, assim encontramos o nosso Mestre Interior, que nos guia em nossa jornada em busca de nossa origem.

O Ser, o Indivíduo é representado nas mais diversas culturas pelo Sol, como vemos pela palavra Grega Krestus (Deus Solar), ou seja, nós assumimos esta condição "luminosa", de esclarecimento, o despertar de uma nova consciência a partir desta jornada para o nosso interior.

Mas esse não é um ponto final, pois buscamos a nossa Origem (Deus Pai), figura essa que transcenderia o próprio Sol. Neste caso um dos simbolismos encontrados é uma associação ao Centro da Galaxia, e outros já trataram do assunto como uma referência ao chamado "Sol Central", um Sol em torno do qual o nosso Sol se poria. Mas a localização deste Sol Central é principalmente simbólica, pois ele não tem como ser encontrado no Espaço Exterior. Seria o que os Místicos Nazistas chamavam de Sol Negro, um Sol invisível do qual viria toda a vida, inclusive para o nosso Sol.

Se considerarmos a figura de Jesus Cristo como uma representação do Ser Humano, do Indivíduo como SER, teremos uma interpretação distinta para a frase: Ninguém vem ao Pai senão por mim.

Neste caso para encontramos a nossa Origem só o faremos pela Interiorização, e somente após o despertar desta Auto-Consciência, o reconhecimento de nossa Individualidade, de nós como Centros de tudo que nos rodeia, a relação entre o Sol e o EU. 
 
Ao se ultrapassar essa experiência é que estaremos verdadeiramente nos "Iniciando nos Mistérios", ou seja, assumindo a nossa condição de Deus Filho, passamos a tomar contato com Deus Mãe e após isso com Deus Pai, o Criador, ou como os Maçons o chamam o G.A.D.U. (O Grande Arquiteto Do Universo), assim passaremos a trapalhar para a realização da "Grande Obra", ou seja, Teurgia.

A fonte de inspiração para a realização da Grande Obra (Teurgia) é extraída deste impulso original, deste ponto central do nosso Universo Interior, de onde tudo vem e para onde tudo vai, representado pela Pedra Filosofal, que pode ser tanto a Pedra Fundamental para construção da Obra, como pode ser a Lápide para se Sepultar o que foi terminado.

O Mistério da figura tripla de Hecate, é diretamente relacionada com a figura do Arcano XVIII do Tarô, que chamado de "O Crepúsculo" ou "A Lua". Vemos 3 faces de Hecate e supomos uma 4ª, assim como vemos a Lua em 3 de suas fases e supomos sua presença na Lua Nova.

A Lua é vista como uma contraparte do Sol, um Espelho que o reflete, sendo o Sol o EU e a Lua o OUTRO em nós. A questão é que ao vermos no espelho a face não é outro ser que não nós mesmos invertidos, e neste caso na figura de três faces de Hecate a quarta face realmente não existe, é um vazio, correspondendo à ausência do espectador, que está na posição de observador, e "O Olho não pode ver a si mesmo".

É este vazio que nos assombrava enquanto não tínhamos coragem de encará-lo, é este vazio que contemplamos ao encontrar a Lápide, é este vazio que sentimos quando contemplamos a morte e finitude, sendo este mesmo vazio que nos move, nos leva a buscar fazer por nós mesmos, pois não há ali ninguém mais além de mim para realizar a Grande Obra, é este vazio que nos dá estas ferramentas para a realização do trabalho.