sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O Caminho da Mão Esquerda


O conceito de Esquerda surgiu a partir da contestação de métodos e regras pré-estabelecidas e sedimentadas de como a busca espiritual deveria ser vivenciada, de modo que este modelo vigente passou a ser chamado de Direita e tudo que viesse a questioná-lo e subvertê-lo seria visto como um princípio "renovador", "reformador", oferecendo assim uma alternativa para aqueles que não se adequavam ou não aceitavam se adequar às tradições institucionalizadas.

Para melhor compreender a Esquerda podemos nos valer de uma definição que serve de contra-ponto ao Dogmatismo da Direita, podendo se dizer que além de questionadora, revolucionária e contestadora, a Esquerda será em essência principalmente "Pragmática".

O Pragmatismo, neste caso se define como uma referência norteadora que deveria servir como um princípio capaz de manter o indivíduo focado em sua objetividade e suas prioridades. Na prática acaba se manifestando muito mais como um reconhecimento crítico da ineficácia e falta de propósito no cumprimento de regras Dogmáticas praticadas pela Direita. Ou seja, ao invés de se fazer o que esteja determinado como sendo o correto, se estará fazendo aquilo que se julgar mais prático e objetivo.

Esta visão questionadora do Dogmatismo se estende ao conceito de "Lei Divina", embora nem sempre esta venha a ser contestada pela Esquerda ainda assim se estará fazendo releituras e como hábeis advogados estarão reinterpretando as "Leis" desconsiderando os acordos e convenções dos Dogmas.

Aqui neste caso as representações das mãos do "Bode de Mendes" demonstram o foco ideal deste Caminho como fundamentalmente libertário, sendo assim simbolizada essa liberdade pelo simbolismo da Sephira Chesed, que denota o conceito de "Direitos Naturais" do Indivíduo, este como merecedor de toda Benevolência e concessões atribuídas pela própria Natureza.

O conceito de Mérito é bastante presente no pensamento da Esquerda, em que tais dádivas são merecidas por terem sido alcançadas por esforço pessoal, de modo que a idéia de liberdade é vista como resultado de uma conquista do indivíduo que se liberta das regras Dogmáticas da Direita que acabam permeando a própria visão que a sociedade terá dos valores que a norteiam.

Na Esquerda o "vício" que se observa conforme mencionei no texto "Os Dois Caminhos" seria a "busca pelo Poder". Neste caso o enfoque se observa na simbologia da Sephira Netzach, em que se vê a questão da superação, a "Vitória sobre a morte" de modo que o impulso inconsciente que se manifesta aqui é o da individualidade, do ser que se distingue e se destaca do seu meio, a tendência de buscar ser exclusivo e diferente dos demais. Assim é comum neste Caminho temas relativos ao quanto o Caminho é Solitário, bem como são enaltecidos os triunfos pessoais, realizações, além de avaliações e comparações entre níveis de desenvolvimento, ou conceitos de superioridade.

No que se refere ao Caminho da Mão Esquerda a passagem do Gênesis que citei no texto da Direita, em que "as águas foram colocadas em um só lugar criando-se assim o elemento árido", esta figura árida, como costuma ser colocada nos simbolismos do "Deserto" enfatizam o individualismo, o isolamento, a solidão, além das provas e desafios a serem superados por aquele que trilha este Caminho, proporcionando com isso um sentimento de orgulho e satisfação com sua própria capacidade de superar obstáculos e de se colocar acima dos demais.

Este "vício" pelo Poder acaba se refletindo em certos aspectos do comportamento, como a ênfase no individualismo as vezes acaba por enfatizar o egoísmo, orgulho e tendências a discriminação, por se considerarem uma classe de seres superiores aos demais. É muito comum que adotem simbolismos relativos a guerras, batalhas, guerreiros, atribuindo uma visão competitiva ao desenvolvimento espiritual. Desde modo os preceitos da Sephira Chesed não são plenamente vivenciados, pois a liberdade da qual se julgam merecedores não consideram que seja algo a ser concedido àqueles que não "fizeram por merecer". Dando ênfase aos aspectos de luta e superação simbolizados por Geburah.

O conceito de Justiça acaba sendo distorcido pelo excesso de rigor, tornando a Esquerda muitas vezes menos libertária do que seria seu ideal. Muitas vezes na busca pela contestação aos valores da Direita a Esquerda acaba perdendo o Pragmatismo na criação de novos Dogmas contrários aos da Direita e essa postura leva até mesmo a questionar o próprio conceito de Divindade, pois aqueles que não se destacam de seu meio, aqueles que não superam seus iguais, são vistos como indignos do Poder e portanto vistos como "fracos" e assim extrapolam e generalizam os conceitos de modo a considerar que uma Divindade que conceda suas benesses a quem não tenha feito esforços para conquistá-las será então uma Divindade "fraca".

Com a criação desses conceitos de mera "oposição" à Direita a Esquerda perde a objetividade e acaba abrindo mão do Pragmatismo, desviando o foco daquilo que deveria ser a meta para todo aquele que buscasse combater um conceito que é a busca pela Verdade. Que na prática acaba sendo substituída pelo impulso de repelir conceitos cristalizados.

A nível supra-físico é possível se observar que diferentemente da Direita a Esquerda não costuma formar grupos de iguais. Não há o interesse em conforto, muitas vezes vemos entidades da Esquerda estabelecidas em "Castelos", "Fortalezas", "Quartéis", "Acampamentos", sempre assumindo uma postura defensiva, como se temessem se acomodar, como se com isso pudessem ser suplantados por oponentes.

Mesmo havendo influência do Caminho Iniciático na Esquerda, tanto no Oriente quanto no Ocidente veremos que o Pragmatismo leva a que se busque primeiramente a prática, muitas vezes desconsiderando-se completamente a teoria. A questão é que sem o embasamento teórico a prática muitas vezes deixa de se tornar tão eficaz quando almejariam aqueles que seguem por este Caminho. Acabam buscando principalmente por "receitas prontas" de como mover as forças da Natureza de acordo com sua "Vontade", que na maioria dos casos não se trata de Força de Vontade propriamente dita, mas sim a satisfação de caprichos e gostos pessoais. Há a ênfase no uso de ritualísticas mas não na prática do Sacerdócio.


Existe um enorme interesse por parte da Esquerda por Magia, sobre tudo nutrem grande simpatia pelos preceitos da Magia Negra, que por propor a manifestação no sentido do espírito para a matéria leva a falsa impressão de se tratar de algo mais "forte". No entanto, o enfoque individualista leva a que se negligencie requisitos fundamentais para a prática da Magia de modo geral e muitas vezes acabam se restringindo à prática do que alguns chamam de Magia Amarela, por negligenciarem valores como a Autoridade do Mago e o reconhecimento desta pelos seus pares para o exercício da Magia Negra propriamente dita. Na busca por triunfos e vitórias pessoais e por ter o enfoque apenas no indivíduo e na liberdade de seu isolamento acaba limitando o alcance de sua influência sobre aqueles que estejam ao redor.

Esse conceito da Magia Negra como algo que traz do espiritual para o material é visto com bastante interesse pela Esquerda, de modo que ocorre a tendência de buscarem por uma densificação, tornando-se menos sutis, menos espirituais, para assim vivenciarem melhor os Poderes da Natureza.

Existe a busca pelo reconhecimento, por alcançar um nível de superação e triunfo incontestável, de conquistar tamanho Poder que não haveria como ser negada sua superioridade. Mas aí surge um dilema, pois como poderia ser reconhecido senão por seus iguais e se toda a trajetória for pautada na repulsa por iguais jamais se alcançará esse nível de reconhecimento tão desejado.

Como resultado vemos uma tendência a ocultar seus prodígios, feitos e triunfos, como que negando querer reconhecimento e evitando igualmente a comparação com seus iguais, por não considerá-los como tal e por ver a todos como concorrentes, de modo que acabam se contentando apenas com a satisfação pessoal de quebrar seus próprios paradigmas sem se expor à opinião pública.

Mesmo que a princípio pareça haver muita hostilidade por parte da Esquerda, isto acaba por ocultar tendências protecionistas que frequentemente vêm a se manifestar, a partir do momento que o indivíduo se coloca acima dos que lhe rodeiam esta superioridade leva à se desenvolver um protecionismo um tanto vaidoso, por considerar que os que lhe rodeiam não são tão capazes quanto eles próprios de modo que dependeriam de sua "proteção". Não são considerados iguais, mas sim diferentes e justamente estariam sendo protegidos daqueles que lhe fossem iguais, pois na sua visão competitiva alguém que tivesse o mesmo potencial seria uma ameaça direta.

Isso gera um comportamento análogo ao da Direita em converter, que no caso da Esquerda poderia se considerar uma tendência a submeter, atrair para junto de si, para de baixo de suas "asas protetoras" aqueles que lhe sejam diferentes, que no caso são vistos como menos afortunados em seus triunfos, mas que estariam sob sua proteção, quando não a seu serviço, tornando-o com isso comparativamente superior e fazendo-o sentir ainda mais "poderoso".

A tendência ao desenvolvimento de Orgulho e Vaidade é presente tanto na Esquerda quanto na Direita e assim também em ambos haverão aqueles que conseguirão superar essas limitações, mas como já havia dito anteriormente o mérito será do indivíduo e não das tendências e impulsos aos quais esteja sujeito.


Em contra partida aos simbolismos da Direita, enquanto essa se associa à Luz a Esquerda é normalmente ligada aos simbolismos da Escuridão, que tradicionalmente teria significados relativos à Sabedoria e aos Mistérios, embora na prática o que costumo ocorrer seja a tendência da Esquerda em se opor aos preceitos da Direita, veríamos então conotações pelas quais se veria a Divindade dentro dos conceitos da Direita como uma manifestação "destituída de Poder" de modo que se buscaria por uma outra forma de Divindade oposta, oculta na Escuridão detentora de "Grande Poder". Ou seja, acabariam incorrendo nas mesmas distorções que a Direita com os conceitos de Luz, pois acabam por se contentar em sentirem-se poderosos por ter contato com uma fonte de Poder. Seria semelhante a quem se sinta forte por estar sob uma cachoeira e por sentir a força da água a lhe golpear, sem se dar conta de que essa força não é sua.

No caso da Esquerda é menos comum que se encontre grandes instituições, sendo que muitas vezes encontraremos ramos mais radicais, ou reformadores dentro das instituições da Direita, em outros casos veremos movimentos isolados, pois em muitos casos a partir do momento em que a instituição assume uma posição de destaque e reconhecimento na sociedade, esta acaba assumindo um direcionamento e uma estrutura que melhor seria definida como sendo de Direita.

Ainda assim veremos movimentos e instituições de Esquerda ligadas ao Satanismo, Caoismo, ordens mais extremistas da Igreja Católica como seria o caso da Opus Dei, seitas isoladas dedicadas à práticas de feitiçaria, alguns ramos do paganismo, xamanismo e asatru; alguns Terreiros dentro da Umbanda, do Candomblé, Quimbanda, Hudu entre outros; Escolas Esotéricas dedicadas à práticas de mentalismo; Ramos isolados de Yoga, ou tais como a Bon Po Tibetana; Alguns ramos rosa-cruz como a AMORC, ou mesmo ramificações como Thelema etc.

Por mais que possam haver instituições e movimentos alinhados com a conduta da Esquerda o mais comum é que se encontre indivíduos isolados com essa conduta muitas vezes não vindo a se organizar em grupos. Ou ainda encontrar movimentos de contra cultura, como o caso dos "Teóricos da Conspiração" por assumirem uma postura de contestação às instituições estabelecidas.

Aqui mais uma vez ressalto que o que foi classificado como "vícios" da Direita não implica em uma crítica à indivíduos ou instituições, mas sim apenas uma forma de analisar as tendências e impulsos inconscientes que nos levam a tal ou qual conduta.

domingo, 22 de dezembro de 2013

O Caminho da Mão Direita


A partir do momento em que se pôde observar a existência de formas distintas de busca espiritual, no qual se via uma estruturada, formalizada e estabelecida em uma sociedade e época e outra forma menos usual, por vezes contestadora e subversiva, se passou a definir a forma mais tradicional e universalmente aceita como sendo a "correta" e a outra como sendo "estranha". Sendo assim a Direita passou a existir por sua relatividade com a Esquerda.
 
Certas características ficaram mais claras ao se definir com termos mais específicos cada Caminho, de modo que o Caminho da Mão Direita passou a ser visto como conservador, reacionário por ser acima de tudo essencialmente "Dogmático".
 
O termo Dogma, mesmo que de origem anterior, teve seu significado mais definido pelo uso feito deste termo por parte da Igreja Católica Apostólica Romana. Em que definiu como sendo assuntos inquestionáveis aqueles que por convenção, votação e eleição da maioria se tivesse chegado a um consenso. Ou seja, a partir do momento em que a maioria decidiu a cerca de determinado tema este não mais seria debatido e passaria a constituir um Dogma.
 
Assim temos que mesmo que não sob a influência da Igreja Católica, o Caminho da Mão Direita buscará como meta e ideal um conceito inatacável, inquestionável de "Lei Divina", conceitos dogmáticos, rígidos daquilo que é considerado correto, bem como do que não seja aceitável.
 
Nesse sentido o simbolismo das mãos do "Bode de Mendes" como representando os ideais a serem buscados por cada Caminho se mostra bastante acertado no que se refere a essa postura encontrada nesse Caminho, em que se busca trilhar sob conceitos de Justiça e Lei, simbolizados pela Sephira Geburah.
 
É natural ao ser humano se considerar como estando do lado correto, do lado vencedor, do lado "do bem", mas no Caminho do Mão Direita isto se mostra especialmente importante, pois por influência e associação ao Caminho Místico uma das metas ideais passa a ser a busca pela "Pureza".
 
Ao tratar da questão do que representaria um "vício" para o Caminho da Mão Direita eu vim a me referir no texto "Os Dois Caminhos" à "busca pelo Prazer". É preciso ser cuidadoso ao interpretar esta expressão pois este é um conceito bastante relativo que exige que se defina a que tipo de prazer a Direita busca.
No caso essa busca se mostra impelida pela tendência natural simbolizada pela Sephira Hod de buscarmos nos unir aos que nos são iguais e este é o prazer almejado, pois o que geralmente se vê enfatizado e como ponto comum neste Caminho são conceitos de "Família Espiritual", "Fraternidade", "Irmandade", "Lar", "Casa", "Morada" etc.
 
Todos estes valores análogos aos conceitos de "União", "Comunhão", sendo estes valores observados simbolicamente pela água, em que vemos no Gênesis a passagem que menciona que após ter sido criada a água, esta ter sido dividida entre "águas de cima" e "águas de baixo", as de baixo foram "colocadas todas em um só lugar criando-se assim o elemento árido". Assim vemos essa união das águas, tal como se vê na Natureza todas as águas convergindo para o Mar, assim representando o Caminho da Mão Direita, no qual são cultivados valores relativos a essa união, fusão e dissolução dos indivíduos em uma coletividade.
 

Deste modo também acaba por se manifestar um novo desdobramento do vício da Direita pelo prazer, que é a comodidade, o conforto, o amparo e apoio da coletividade que acaba por enfraquecer a individualidade e inebriar a Vontade, levando a que os valores representados pela Sephira Geburah não sejam vividos com plenitude, pois não há uma busca pela superação, não há o impulso para a conquista, mas sim apenas uma disposição a receber "Dádivas Divinas", se postando como beneficiários da Benevolência simbolizada pela Sephira Chesed.

Como disse quando me referi aos Dois Caminhos, as qualidades são mais mérito do indivíduo em sua busca do que do Caminho no qual se encontra. Ou seja, mesmo que este impulso natural que leva o indivíduo a ter uma orientação mais voltada ao Caminho da Mão Direita acabe o levando a se acomodar, ainda assim caberá a ele superar essa tendência para alcançar o ideal almejado.

A busca por colocar-se estrita e dogmaticamente sob os rigores da "Lei Divina" leva a que a Direita busque sempre pela Ordem e frequentemente assumem posturas de autoridade perante aqueles que não estejam plenamente inseridos dentro do conjunto de regras criadas por cada grupo. Esse conjunto de regras vem por criar e fortalecer a identificação entre os participantes atribuindo assim uma identidade ao grupo.
 
Tal processo é muito mais perceptível a níveis supra-físicos nos quais a sociedade não se encontre tão estruturada como a que temos hoje a nível físico. Assim é comum que se encontre as entidades da Direita estabelecidas em "Cidades", "Cidadelas" ou "Colônias" a níveis supra-físicos nas quais permanecem unidos entre si mas isolados dos que lhes sejam diferentes, formando "ilhas" de Ordem na qual usufruam de alguns dos prazeres da civilização.

Embora haja grande influência do Caminho Místico na Direita, ainda assim se vê diferenças entre o que encontramos nas culturas Ocidental e Oriental. Sendo que podemos observar que a Direita no Oriente naturalmente dará ênfase ao desenvolvimento prático em detrimento do teórico. E isso também é observado no Ocidente. Mas isso essencialmente no que se refere ao Caminho Místico, pois naquilo que concerne ao Caminho Iniciático, especialmente no Ocidente o que se vai observar é que a Direita irá dar ênfase ao desenvolvimento teórico, muitas vezes até mesmo evitando a prática, ou a reduzindo a atividades ritualísticas.

Existem grandes ressalvas por parte da Direita de modo geral quanto à Prática especialmente de Magia, de modo que só costuma ser considerada aceitável a Magia Branca. Mas isso em termos ideológicos, pois neste caso a condição de Mago, como naturalmente alguém distinto dos demais, entraria em conflito com os preceitos da Direita mais voltados à comunhão de iguais.

As práticas ritualísticas e sacerdotais encontradas em certos ramos da Direita levam a que se acabe por exercer a prática do que alguns classificam como Magia Cinzenta, por ser uma prática que não possua todos os requisitos que seriam necessários para a Magia Branca.


As práticas tanto ritualísticas quanto vivenciais, quer sejam de Escolas Iniciáticas ou Místicas, ou mesmo de Instituições Religiosas no Caminho da Mão Direita estarão tendo como objetivo proporcionar bem-estar. Existem os conceitos de caridade e altruísmo como ideais universais, embora na prática costumem ficar restritos às suas próprias comunidades e grupos.

Os preceitos da Magia Branca de levar do material para o espiritual, são vistos com simpatia pela Direita, por colocarem seus ideais intimamente ligados à figura da Divindade, como a fonte Benevolente da qual usufruem. Deste modo há uma tendência a que suas práticas muitas vezes acabem sendo mais voltadas a alcançar um certo nível de sutilização, tornando-se menos densos, menos materiais, para assim usufruir melhor das Benesses Divinas.

Existe a busca por realidades Paradisíacas nas quais se possa estar em comunhão com a Divindade e com todos que lhes sejam iguais, usufruindo assim de prazeres celestiais sem fim. Mas para isso se faz necessário driblar a auto-crítica, pois inevitavelmente acabariam se vendo como egoístas e esta costuma ser uma qualidade considerada condenável, pois vai contra o conceito de igualdade afetando assim a união dos iguais.

Com isso se observa o comportamento de desprendimento quanto aos próprios ideais e metas, em que se vê muitos assumindo posturas altruístas de quem abre mão de realidades paradisíacas em prol de seu semelhante, sem se aperceber com isto o quanto esta atitude o coloca numa posição de superioridade levando a grandes demonstrações de vaidade.

Embora possa se reconhecer certas tendências ao comodismo por parte da Direita, isto dá a falsa idéia de passividade, quando na verdade a imagem altruísta e benevolente oculta uma forma sutil mas não menos contundente de violência. Pois ao mesmo tempo que buscam avidamente a comunhão dos iguais, também ocorre a repulsa pelos diferentes, havendo assim até mesmo conflitos históricos e a ocorrência de guerras motivadas por grupos religiosos ainda que ambos tenham uma orientação mais voltada à Direita.

A intolerância para com os diferentes leva a duas posturas, sendo uma a repulsa e o isolamento puro e simples, enquanto a outra seria a busca pela conversão, a conquista de mais um igual, desconsiderando a individualidade na tentativa de torná-lo igual para assim ser aceito.

É importante que se diga que em um sistema de classificação tão abrangente como este encontremos indivíduos nos mais diversos níveis de desenvolvimento espiritual tanto na Direita quanto na Esquerda. Desde aqueles que se deixam conduzir por esse impulso natural quanto aqueles que reconhecem sua existência e o superam.

É frequente a associação da Direita com o Simbolismo da Luz, tendo-se essa como expressão da Divindade, de modo que estes por "cumprirem" as "Leis Divinas" se fazem "merecedores" de Suas Dádivas, sendo assim "Iluminados". Sem se darem conta de que estão se contentando em receber a Luz sem serem capazes de a produzirem. Ou ainda como pessoas que se contentam em olhar o belo dia pela janela, sem se aventurarem a sair pela porta por temerem passar pelo corredor escuro até ela.

 
São considerados como de Direita as instituições religiosas maiores e mais bem estabelecidas como a própria Igreja Católica Romana, Copta, Ortodoxa, Igrejas Protestantes, Pentecostais entre outras; Centros Espíritas Kardecistas, alguns Umbandistas e alguns outros cultos de origem Africana mais tradicionalistas; os ramos mais "populares" de Islamismo, Judaísmo, Hinduismo, Xintoísmo e Budismo e diversas outras instituições religiosas mais tradicionais e socialmente aceitas em cada cultura. Igualmente encontraremos certas instituições de estudos ocultistas como por exemplo a Sociedade Teosófica, alguns ramos de Rosacrucianismo, Maçonaria etc. Além de filosofias e tendências sociais tais como o "Movimento New Age".
 
Curiosamente não apenas instituições religiosas ou espiritualistas se encaixam nesse contexto como também certas linhas de pensamento, ou mais especificamente certas condutas na defesa de idealismo como no caso do Ateísmo em que as a figura da Divindade é substituída pelo gênio humano.
 
É importante enfatizar que a despeito do teor crítico do texto, a ênfase no que classifiquei de "vícios" da Direita não representa uma crítica às instituições em si, nem mesmo a seus membros, pois em todas encontramos sempre aqueles que superam essas limitações naturais criadas por nossos impulsos inconscientes.
 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Os Dois Caminhos



 
"Os Dois Caminhos" é um outro título para o Arcano VI do Tarot, que por muitos é conhecido como "Os Enamorados", no entanto não é dos significados desta carta que se trata este texto, apenas os termos aqui coincidem com uma condição na qual naturalmente o ser humano se encontra, ou seja, como geralmente é interpretada essa carta, nós nos encontraríamos em uma encruzilhada na qual teríamos de decidir por qual dos dois Caminhos trilhar.
Trata-se de um tema vasto que já foi abordado parcialmente em outros textos e que no decorrer deste veremos que na verdade não vivemos realmente tal dilema da escolha, pois já somos instintivamente impelidos a um ou a outro caminho.
Conforme vimos no final do texto "Paladinos do Óbvio", podemos considerar que estas forças que impulsionam nossas atitudes e posturas perante a vida e a sociedade afetam até mesmo a nossa busca espiritual, nossa busca por "Evolução Espiritual". E estes dois impulsos básicos e opostos são tão marcantes na constituição de nossa personalidade que levaram a que se estabelecessem dois padrões distintos, duas formas de se buscar o desenvolvimento espiritual.
Estes dois modos de trilhar e experienciar nossa jornada espiritual vieram a constituir aquilo que passou a ser entendido como dois "Caminhos" possíveis para o aperfeiçoamento do Ser. Sendo que de modo geral, estes se constituirão em processo pelo qual se passou a classificar as diversas e diferentes escolas e filosofias tanto a nível religioso quanto às práticas e sistemas de estudo dentro das próprias Ciências Ocultas.
A estas duas categorias viemos a chamar de Caminho da Mão Direita e Caminho da Mão Esquerda. As origens atribuídas a estas nomenclaturas variam conforme a Escola ou Filosofia que as empregam, bem como os significados estarão variando significativamente de acordo com a categoria à qual cada um se coloca.
Há tradições que consideram que esta nomenclatura e classificação teria origem no Estudo do Tantra na Índia no qual se aplicariam estas duas definições para distinguir práticas de duas tradições distintas que abordam de maneiras diferentes a prática e estudo da filosofia Tantra.
Outra definição teria surgido a partir do Catolicismo que como política de domínio e supremacia sobre demais crenças teria se valido da passagem bíblica na qual se diz que à Direita estaria o Bem e à Esquerda estaria o Mal e mesmo que esta não fosse a origem de tal classificação acabou por enfatizar uma má interpretação do que caracterizariam estes dois Caminhos.
Ainda se poderia considerar que as terminologias teriam surgido a partir do desenvolvimento na Idade Média daquilo que mais tarde viria a ser conhecido como Satanismo, que consistia em determinados conjuntos de práticas que buscavam subverter e evocar valores contrários aos padrões predominantes vigentes na época daquilo que seria mais tradicionalmente utilizado e praticado em termos de busca por desenvolvimento espiritual.

Nesse sentido o termo "Sinistro" que significa esquerda e ao mesmo tempo traz um significado de contrário, ou aquilo que não é "direito" com a conotação de não ser "correto", ou ainda aquilo que fosse "estranho ou diferente", teria surgido por uma busca em quebrar paradigmas e trazer novas formas de praticar as ciências ocultas que não aquelas praticadas sob a influência da Igreja Católica, de modo que para isso muitas vezes se valiam de escolas e filosofias mais antigas, anteriores a esse domínio histórico.

Nem por isso essa classificação de Direita e Esquerda estaria relacionada a uma relação com o Cristianismo, pois a Direita não está restrita ao Cristianismo e nem mesmo o contrário, assim como a Esquerda não se caracteriza por uma oposição ao Cristianismo, pois essa oposição não se restringe à Esquerda e nem mesmo a Esquerda se restringe a isto.

Essas origens e referências dos termos dão compreensões frequentemente equivocadas dos significados e definições do que seria praticado e vivenciado em cada uma dessas vertentes, tanto no que se refere às definições do que viria a ser a Via Sinistra, ou Caminho da Mão Esquerda, como também do próprio Caminho da Mão Direita.

Atualmente diversas escolas se definem a partir desta classificação, bem como indivíduos igualmente se identificam e orientam sua busca espiritual tomando por parâmetro justamente essas definições, sendo comum que se veja referências, sobretudo ao Caminho da Mão Esquerda, geralmente referido por sua sigla em Inglês, Left Hand Path, ou simplesmente LHP.

Essa classificação também foi popularizada em meio aos Cultos de Matriz Africana, no qual se encontram templos, Terreiros, dedicados ou para o trabalho com a "Direita", com o trabalho com a "Esquerda", ou aquilo que alguns chamam de "Casas Cruzadas", como sendo Terreiros onde se trabalharia com entidades ligadas aos dois "lados".

A classificação nesse caso é ainda mais abrangente, pois os termos não se restringem a serem aplicados para definir apenas direcionamentos filosóficos, mas também distintas classes de seres espirituais, embora tão abrangente quanto o uso dos próprios termos é também a distorção de significados que tornam tal forma de classificar tão ambígua.

Assim, para termos uma definição mais objetiva destes dois "Caminhos" será preciso compreender que aquilo que de fato existe é uma dualidade quanto a tendências e impulsos naturais aos quais estamos todos sujeitos em nossa Condição Humana, que nos direciona naturalmente à manifestar nossa busca a partir de propostas e propósitos distintos, que mesmo havendo o elemento da escolha consciente ainda assim esses impulsos que nos levaram a fazer tais escolhas são inconscientes, instintivos e involuntários.

É importante que se diga, que a pesar de que se tenha correlações entre as classificações por lados e a classificação que distingue o "Caminho Iniciático" do "Caminho Místico", estas classificações se sobrepõem. Podendo haver tanto um direcionamento Iniciático quanto Místico em ambos os Caminhos, Esquerda e Direita. Havendo apenas uma certa tendência ao predomínio pois também essas definições serviram de origem para a criação destes termos. Ou seja, tanto o Caminho da Mão Esquerda teve origem no Caminho Iniciático quanto o Caminho da Mão Direita teve origem no Caminho Místico.


Iniciático ou Místico seriam os modos pelos quais se buscaria transcender nossa condição atual de desenvolvimento espiritual, que poderá se caracterizar tanto por uma conduta própria da Mão Direita, quanto da Mão Esquerda, sendo esses os pontos de partida para o avanço espiritual.

Igualmente equivocada é a definição do Caminho da Mão Direita como sendo o "caminho do bem" e da Mão Esquerda como sendo o "caminho do mal", este equívoco ocorre justamente por uma das origens do uso do termo "Esquerda" ter sido associado ao Satanismo, sendo esta uma doutrina baseada no conceito de Satã, significando "O Opositor", de modo que o senso comum é levado a assim definir.

Sei que muitos antes de mim buscaram traçar maneiras de explicar, categorizar e definir as fronteiras que distinguem os dois Caminhos e geralmente o que vemos é uma visão "Esquerdista" do que eles são e uma visão "Direitista" do que eles são, enquanto busco aqui dar uma visão mais "neutra" por assim dizer.

Pois juntamente com essa dualidade surgiu ainda o conceito de "Caminho do Meio", cujas definições quando encontradas se tornam ainda mais difusas e subjetivas do que aquelas atribuídas aos dois Caminhos.

Mas ainda assim me sinto confortável em dar um parecer neutro justamente por eu ter um direcionamento pessoal mais voltado ao conceito de "Caminho do Meio", de modo que isto me dá certa liberdade em atribuir definições que ajudem a compreender ambos os Caminhos, tanto da Direita quanto da Esquerda.

Neste ponto minha abordagem tomará como parâmetro de definição não as "virtudes" dos dois Caminhos, porque estas são muito mais mérito do buscador do que do Caminho em si, sendo que trago aqui um olhar mais crítico aos "vícios" de cada Caminho, por serem estes efeito dos impulsos inconscientes que nos movem.

Mesmo porque as qualidades de cada Caminho já são por demais debatidas e em muitos casos tornam o entendimento ainda mais distorcido, no qual as qualidades de um Caminho passam a ser vistas como defeitos pelo outro e assim estereótipos são mantidos e a discussão descamba para visões tão partidaristas quanto as que vemos nos conceitos de Direita e Esquerda no meio Político.

Que aliás, é outra questão que precisa ser esclarecida, pois até mesmo tal distorção é encontrada em certos meios nos quais se confundem a classificação de Caminhos Espirituais e de orientação Política, sendo que de modo algum haveria qualquer correlação, mesmo que alguns meios busquem forçá-la como método de manipulação da opinião pública.

O que mencionei como sendo os "vícios" que distinguiriam os dois Caminhos são basicamente os impulsos inconscientes que havia mencionado no texto "Paladinos do Óbvio", sendo eles o impulso que nos leva a buscar pelo "Poder" e o que nos leva a buscar pelo "Prazer". É preciso que essa análise seja feita com grande atenção, pois a relação é bastante sutil e o uso dos termos é bastante restrito, de modo que veremos em ambos os lados qualidades tais como Orgulho, Vaidade, Ambição e Sentimentos de Superioridade por exemplo.


Algo que se há de ressaltar é que ambos os Caminhos consistem em definições do estado, ou padrão no qual se encontram nossas tendências naturais que vêm a se manifestar em nossa busca espiritual. Sendo assim os Dois Caminhos se tratam de pontos de partida e não exatamente metas a serem alcançadas, mesmo que dentro de cada qual se tenha metas a alcançar, objetivos, anseios, desejos, ambições, propósitos, mas estes servirão apenas como elementos que nos levarão ao auto-conhecimento e na superação destes é que se encontra realmente o desenvolvimento espiritual propriamente dito, que virá a ser alcançado através do Caminho Iniciático ou Místico independente de nosso ponto de partida ser a Direita ou a Esquerda.

Definitivamente não é fácil estabelecer conceitos mais objetivos para os dois Caminhos quando estes tratam de questões tão abrangentes, pois o número de ressalvas que se faz necessário é considerável. Outra ressalva importante é quanto à atribuição dos dois Caminhos como especificadores de modalidades de práticas Mágicas. Esta ocorre em função de outra dualidade considerada em nosso meio que são os conceitos de Magia Branca e Magia Negra.

Essas definições de "cores" da Magia é um outro tema bastante vasto que não nos caberia abordar neste mesmo texto, mas ainda que haja frequentemente o interesse pela prática da Magia Negra no Caminho da Mão Esquerda e da Magia Branca no Caminho da Mão Direita, essas definições Mágicas não se restringem aos dois Caminhos e nem são exclusivas de um ou de outro. Como também não se distinguem os dois Caminhos por quaisquer tipos de prática Mágica específica, seja pela classificação que se quiser usar, tanto de Alta Magia e Baixa Magia, pois as relações serão indiretas e imprecisas.

Dito isto temos também que a distinção entre Magia Negra e Branca teriam servido originalmente para cunhar os termos Direita e Esquerda, mas estes também são conceitos equivocados. Tais distorções de significado ocorrem porque encontramos definições dadas pela Direita para o que seria a Esquerda e vice versa, de modo que frequentemente os termos e definições acabam por ter caráter pejorativo, ao se julgar o oposto como oponente. O que também é uma dualidade bastante comum à "Mente" e que se demonstra em diversos aspectos do viver humano como se observa toda vez que nos deparamos com dualidades.

Com isto estamos tratando muito mais do que não são esses Caminhos do que aquilo que eles efetivamente são, no entanto vi como absolutamente necessário retirar da questão todos esses elementos capazes de produzir interpretações equivocadas, pois algumas chegam a nos dar até mesmo concepções invertidas do que significaria cada Caminho.

Um exemplo disso é a associação frequentemente feita com as mãos da figura do "Bode de Mendes" em que se vê as inscrições "solve" na direita e "coagula" na esquerda. No entanto essas fazem alusão respectivamente aos Sephiroth Geburah e Chesed, tendo significados análogos à "Austeridade" o primeiro e "Benevolência" o segundo. Qualidades essas observadas inversamente quando vistas como virtudes do Caminho da Mão Direita e da Mão Esquerda.

Poderíamos considerar tais qualidades como "ideais" que viriam a compensar as tendências observadas em cada Caminho, sendo que a Esquerda precisaria compensar com Benevolência a sua Austeridade e contrário se aplicaria ao Caminho da Mão Direita.

O presente texto tem caráter introdutório já que pretendo abordar mais detidamente os dois Caminhos em textos separados, de modo que para bem entendê-los recomendo fortemente que se leia antes este e se possível também aqueles que foram aqui linkados, por trazerem elementos que virão a enriquecer o entendimento do tema em questão.