quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Ocultismo




As definições atribuídas a este termo são muitas e das mais diversas, mas vamos nos ater ao seus significados mais simples. De modo que possamos definir aquilo do que estamos tratando e distinguir de terminologias correlatas, sendo que cada qual possui seu significado próprio.

 

É comum que se pense no Ocultismo como sendo algo relativo ao ato de se ocultar conhecimentos e informações, sendo que a esta afirmação costumo dizer de modo jocoso que Ocultismo não deve ser confundido com "Esconditismo". Esta definição caberia melhor para especificar o que seria chamado de Esoterismo, sobre o qual poderemos vir a tratar oportunamente. Neste sentido o termo Oculto em questão não está no ato mas sim no teor e fonte desses conhecimentos, sendo em síntese o conhecimento de tudo aquilo que se encontra Oculto.

 

Neste caso Oculto não por ter sido ocultado, mas sim por não estar ao alcance de nossa percepção ou observação. Ou seja, é tudo aquilo na Natureza que se encontra oculto aos nossos Sentidos. A medida que as Ciências Convencionais vão se aperfeiçoando mais e mais elementos que eram Ocultos vão deixando de ser, como ocorreu por exemplo com o Magnetismo, embora ainda este não tenha sido inteiramente explorado em todas as suas implicações pelas Ciências Físicas.

 

De modo geral podemos dizer que a maior porção do que compõe o Ocultismo é de conhecimentos atinentes aos Mundos Supra Físicos. Ou seja, tudo aquilo que se encontra fora do alcance das Ciências Convencionais, sendo assim aquilo que se chama de Ciências Ocultas.

 

Cabe aqui considerar as razões para a expressão Ciências Ocultas e sua relação com as Ciências Convencionais. Tal questão remonta a mais remota antiguidade, quando o ser humano ao nascer neste mundo adquiria conhecimentos e antes de partir buscava deixar o que aprendeu para as gerações futuras. A tal conhecimento era dada grande importância de modo que com o advento da escrita e mesmo antes com o recurso das tradições orais, esses conhecimentos foram sendo acumulados, guardados e retransmitidos nos antigos Templos.

 

Surgiu assim aquilo que se viria a chamar de Ciência, significando o conjunto de tudo aquilo do que a humanidade era ciente, ou ainda, tudo que se sabe sobre todas as coisas. Este conjunto de conhecimentos foi se tornando cada vez mais abrangente e diversificado de modo a surgirem especializações, tendo-se assim as diversas Ciências, que incluíam não só diversas formas de arte como também a Religião, a Filosofia e a Política.

 




Com o passar do tempo a Religião e a Política assumiram seu papel na sociedade se separando das demais Ciências e as que restaram foram se distinguindo basicamente em dois grupos, sendo um especializado em tudo aquilo que pudesse ser observado e analisado a nível material, compondo assim as Ciências Convencionais que conhecemos hoje que tomaram pra si o uso do termo Ciência como se este termo servisse apenas e tão somente para designar as suas especialidades.

 

O outro grupo passou a abarcar tudo aquilo que estivesse para além do alcance de nossos sentidos, que não pudesse ser medido, analisado ou observado a nível material, compondo assim as Ciências Ocultas que conhecemos hoje, que com a popularização do uso do termo Ciência como se referindo exclusivamente às Físicas, passou a adotar também o termo Ocultismo para se definir.

 

Assim vemos que Ocultismo é um termo genérico, que define um corpo de conhecimentos vasto e diversificado, com tantas ou mais especializações quanto as Ciências Convencionais. Ao contrário do que popularmente se diz, não há interesse por parte dos Ocultistas que suas especialidades venham a ser assimiladas, ou que venham a substituir ou que devessem ser substituídas pelas modalidades das Ciências Convencionais. Ou seja, Astrologia e Astronomia são conhecimentos distintos e cada qual tem seu espaço próprio no saber humano, não sendo a Astronomia um substituto da Astrologia e nem tão pouco um objetivo a ser alcançado pela Astrologia.

 

Seria o mesmo que se almejar que o Cinema viesse a substituir ao Teatro, ou que este fosse uma forma mais evoluída ou superior de arte representativa. No geral ocorre muita dificuldade em se definir o Ocultismo porque este não é compreendido como aquilo que ele é, ou seja, um conjunto de conhecimentos, não devendo assim ser confundido com os diversas linhas de pensamento, filosóficas e religiosas que de alguma forma venham a abordar temas ocultistas.

 

Cabe aí se estabelecer uma distinção entre o conhecimento e as instituições nas quais esse conhecimento é trabalhado. Temos por exemplo entre todos os conhecimentos que compõe o Ocultismo o conhecimento do processo da reencarnação, neste processo e todas as suas implicações surgiram aqueles que se especializaram neste tema, formando linhas de pensamento, ou mesmo correntes filosóficas "reencarnacionistas", dentre estes indivíduos que se especializaram no estudo e retransmissão desse conhecimento surgiram diversas "escolas", ou instituições criadas para tratar do tema segundo uma linha específica como por exemplo o Kardecismo.

 

Teríamos então que o processo da reencarnação em si, que é um dos tantos conhecimentos que compõe o Ocultismo, teríamos a especialização neste tema sendo definidos como reencarnacionistas, temos as correntes filosóficas que definem um método para o estudo e interpretação de tudo que envolve o conhecimento específico, como no caso o Kardecismo e temos a instituição criada para o estudo e propagação dessa filosofia como no caso a Federação Espírita.

 




A comparação que se pode fazer é o fenômeno da gravitação dos corpos no espaço, que é um dos tantos conhecimentos que compõe as Ciências Convencionais, teríamos a especialização neste tema sendo definidos como astrônomos, temos as correntes filosóficas que definem um método de estudo e interpretação de tudo que envolve o conhecimento específico, como no caso os Astrofísicos e temos a instituição como no caso o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE.

 

Com isso temos como notar que não faz o menor sentido estabelecer comparações entre Ocultistas e Kardecistas, pois seria o mesmo que comparar Cientistas com Astrofísicos. Podemos sim comparar Cientistas com Ocultistas, independente das especialidades que cada qual tenha em cada um destes conjuntos de conhecimentos, que são as Ciências Ocultas e Convencionais. Esta análise é meramente ilustrativa, pois as subdivisões e especializações são definidas e classificadas de formas ligeiramente diferentes em cada campo de conhecimento, mas já serve para se ter uma noção de proporção.

 

Outra questão é a relação com o termo Mistérios, que costuma ser frequentemente associado ao Estudo do Oculto. Isso diz respeito ao estudo do que se encontra Oculto, sendo algo com o que se vem a tomar contato como sendo uma fase no desenvolvimento em si.

 

Existem diversas etapas pelas quais passamos em nossa busca pelo conhecimento do que se encontra oculto aos nossos sentidos. Isto ocorre justamente pelo fato de que não existe tal coisa, pois mesmo que esteja oculto para os cinco sentidos ainda assim estará ao alcance de nossa percepção e quando não, ainda assim, estará ao alcance de nossa compreensão.

 

Tais etapas são caracterizadas pelos meios que temos e percebê-las e compreendê-las, sendo que não há de fato separações que distingam aquilo que se encontra Oculto daquilo que se encontra evidente, tal como não há distinções dentro da diversidade de coisas que se encontram ocultas para nós.

 

Assim, se existem separações que são usadas para classificar e assim melhor compreender esse universo, estas são definidas pelos nossos próprios sentidos, ou seja, uma mesma coisa poderá ter um sabor, uma cor, um aroma, uma textura e um som e nós estaremos analisando separadamente cada aspecto de acordo com o sentido que vai estar sendo utilizado.

 

Igualmente ocorre com aquilo que é percebido por outros sentidos, como a vibração, a emoção, a idéia, que aquela mesma coisa transmite, tornando assim também parte do universo Oculto aquilo que já é conhecido e percebido objetivamente através dos cinco sentidos.

 

Acima dos sentidos, tanto os objetivos quanto os sutis, temos a compreensão, que nos permite constatar que embora analisemos aspectos diferentes de uma mesma coisa esta ainda assim será uma coisa única, portadora de todas essas características, nos permitindo um senso de síntese.

 

Nossa mente está muito acostumada a compartimentar e fracionar as coisas por ser essencialmente analítica, de modo que não analisamos o conjunto da coisa e sim suas partes, sendo que o meio de pensar a cerca das coisas ocultas acabará se distinguindo por ser uma forma de ver que envolva o conjunto no qual cada parte se vê inserida obtendo-se assim uma síntese, sendo assim um modo de pensar mais filosófico.

 




Dessa forma o estudo do Oculto leva ao conhecimento do todo, de modo que ao analisar cada coisa estaremos analisando também o conjunto delas e igualmente o conjunto no qual nós nos encontramos inseridos. Daí afirmações do tipo "Conhece-te a ti mesmo e conhecerás a Deus e ao Universo" assumem um sentido mais literal do que poético como costumaria nos parecer.

 

Mistério seria uma forma de quintessência resultante da compreensão de tudo que possa ser apreendido. De modo que o Mistério não é algo que esteja ao alcance de ser compreendido pela mente, mas sim por algo mais elevado e sutil, frente a que a própria compreensão já seria demasiado grosseira.

 

De modo que os termos Oculto e Mistério, não fazem alusão a coisas que sejam Ocultadas ou Escondidas, mas sim, que se encontrem numa condição que ultrapasse nossa capacidade de mensurar, e tal dificuldade não se dá por se tratarem de coisas demasiadamente grandes ou pequenas apenas, mas também por serem de natureza diversa da realidade na qual nos encontramos inseridos.

 

Então de todo o conjunto de conhecimentos que compõe o Ocultismo a parte conhecida como O Mistério ou Os Mistérios é que costuma ser explorado no desenvolvimento Iniciático, Místico, Alquímico e Mágico, independente do Caminho Escolhido, quer seja Direita, Esquerda ou Centro, bem como seu conhecimento se encontra na raiz de toda e qualquer modalidade Mágica.

 



quinta-feira, 22 de maio de 2014

Lúcifer





Peço ao leitor apenas um pouco de atenção, paciência, tempo e boa vontade, pois o que tenho a dizer se encontra sutilmente colocado nas entrelinhas. Tratam-se de idéias e conceitos que fogem ao convencional e trazem uma abordagem mais subjetiva do tema em questão, trazendo muito mais perguntas do que respostas, apenas sugerindo associações de idéias para te levar a ver o assunto com uma mentalidade mais aberta e menos restrita que a maneira como o tema costuma ser abordado.


Procuremos a partir daqui fugir dos conceitos já estabelecidos quanto a esta personagem, não estamos aqui para falar da personificação do mal, nem tão pouco no "pai da mentira", mas sim numa leitura mais sóbria desse tema que por si só já é bem mais vasto, profundo e enigmático que geralmente se costuma considerar.


O termo Lux Ferrer, "Portador da Luz", já fazia parte dos estudos esotéricos de diversas escolas ocultistas desde muito antes da distorção feita dos sentidos deste termo por parte da Igreja Católica Romana. Alguns chegaram a atribuir este termo na antiguidade como sendo uma referência à própria figura do Cristo, até que vieram a associá-lo diretamente àquilo que as antigas tradições hebraicas vieram a chamar de Satan, "O Opositor".


No entanto tratam-se de três figuras distintas, que fazem parte de nossa Anatomia Oculta, bem como são encontrados nas chamadas Viagens Iniciáticas, sendo manifestações e em alguns casos podendo vir a ter até mesmo Personificações externas de qualidades internas de nossa Psique.


É dentro deste contexto que busco abordar esse termo, justamente no que se refere a nossa jornada de desenvolvimento espiritual. Não estarei tratando aqui de uma manifestação externa, ou as possíveis personificações que se encontra ao longo da história, mas sim do simbolismo interior e com isso propor e compartilhar associações e reflexões.


Todos os significados estão bastante entrelaçados e então abordaremos ponto a ponto tentando estabelecer os pontos de ligação. A começar por sua denominação Lúcifer, como dito, derivado da expressão Lux Ferrer, significando "Portador da Luz", tomaremos como ponto de partida as definições encontradas ao longo da Idade Média. Foi neste período que os estudiosos das Ciências Ocultas passaram a correlacionar a Cultura Greco-Romana com conceitos vindos de conhecimentos diferentes como no caso em questão a Astrologia, trazida pelos Árabes para a Europa nesta época.


Se convencionou atribuir dois nomes distintos ao Planeta Vênus, sendo um Lúcifer e outro Vésper. Sendo que de acordo com a época do ano a posição relativa ao Sol faz com que ele seja visto ou no período da manhã como Lúcifer, uma "estrela" bastante brilhante que surge no nascente de madrugada imediatamente antes do amanhecer, ou como Vésper, a "Estrela Vespertina", a mesma "estrela" vista no poente imediatamente após o pôr do Sol desaparecendo no horizonte depois de um tempo. Tradicionalmente já foi chamada de "Estrela Dalva" por ser a maior, mais clara e brilhante no céu noturno.





Por anteceder a manhã, este era chamado de "Portador da Luz" pois é como se este anunciasse o nascer do Sol, ou mesmo como se ele o trouxesse, carregasse. Até aqui isto segue o que se costuma mencionar a respeito de Lúcifer, mas não se costuma encontrar uma ligação direta entre a figura do "Portador da Luz" e a imagem que se tem de Lúcifer como a entidade folclórica que se conhece popularmente.


Se popularizou a estória de Lúcifer como sendo um "Anjo Caído", um Anjo que teria se rebelado contra Deus e buscado construir seu próprio Universo e então teria sido banido. Com isso se buscou dizer que ele era "do bem" e por vaidade e pretensão "caiu" e uma vez corrompido tornou-se "mau". Esta é uma visão simplista de um conhecimento bem mais profundo que foi adaptado pela Religião com o propósito de criar uma história que exaltasse qualidades morais de seus adeptos tais como humildade e confiança em Deus.


Essa visão da "queda" de Lúcifer é que foi o aproximando do conceito de Satan, sendo que boa parte dessa confusão se deu por interpretações menos esclarecidas dos textos bíblicos, em especial por termos que Lúcifer muitas vezes foi associado e simbolizado pela figura de uma Serpente.


De fato, existe essa ligação, de modo que Lúcifer teria sido representado pela Serpente no "Jardim do Éden", aquela que teria tentado "a Mulher" a tomar do "Fruto do Conhecimento do Bem e do Mal". A Serpente ali foi descrita como "a mais astuta das criaturas", sendo que desde a antiguidade as Serpentes foram vistas como símbolo de astúcia, inteligência e também sabedoria, não apenas nas tradições Judaicas como em outras culturas ao longo da história.


Aqui conseguimos estabelecer um paralelo direto com a Cultura Egípcia, na qual tínhamos a figura de Apófis, "A Serpente do Caos", esta corria ao longo da noite até ser morta por Rá a cada manhã. Sendo uma alusão ao que vemos no caso da Estrela da Manhã que desaparece ofuscada pelo Nascer do Sol.


Sendo que a Serpente teria sido juntamente com o Homem e a Mulher (Adão) expulsos do Éden para assim encontrarem a Vida (Eva), como uma alusão ao despertar dos Sentidos através dos quais se tornou possível a vida nos Planos Manifestados.


Simbolicamente podemos considerar que somente através da Luz da Razão se torna possível o Alvorecer de uma Nova Consciência. Lúcifer é a Inteligência, a Luz que se acende na escuridão da noite e arrasta consigo o Sol para que tudo se ilumine.


Nos conhecimentos Herméticos temos que a Inteligência é um elemento a ser conquistado para que enfim se possa ascender para um nível superior de Consciência. Como podemos ver em imagens do Antigo Egito em que Apófis é representada como que formando uma ponte entre duas plataformas, servindo assim para que através desta Serpente de atravesse o Abismo.


Na tradição Egípcia temos que há duas montanhas sustentando o céu, tendo-se no nascente Bakhu e no poente Manu e aqui encontramos a expressão Ankh Bakhu, significando "A Vida no Nascente", ou ainda, com uma livre tradução "A Estrela do Oriente", ou seja, a Estrela da Manhã, Lúcifer.





Aqui essa expressão traz como sentido uma referência à própria Percepção dos Sentidos, como uma forma de somatória dos nossos sentidos, compondo o que alguns já vieram a chamar de "As 50 Portas da Percepção", ou ainda, uma forma de "Sétimo Sentido", sendo algo que se poderia considerar como um "Senso de Realidade".


Assim teremos que o "Fruto do Conhecimento do Bem e do Mal" é muito mais como um Sentido que nos permite distinguir o que é Real do que é Ilusório. Neste caso a ligação entre Lúcifer o Raciocínio se dá por ser o meio pelo qual atualmente conseguimos distinguir os contrários.


Dentre os nossos Sentidos o que mais traz uma associação com a Luz é a Visão e esta é tradicionalmente associada ao que seria a Clarividência, ou a "Vidência Esclarecida", "Ver com Clareza", ou ainda, "Ver o que é Claro, ou Iluminado", aproximando esse conceito ao que se estuda no Budismo como sendo uma referência à "Clara Luz".


Esse Sentido em especial costuma ser associado ao Chakra Frontal que se encontra entre os olhos, sendo chamado de "Terceiro Olho" e era tradição que no Antigo Egíto o Faraó utilizasse um ornamento no qual saía deste ponto a cabeça de uma Serpente, representando o domínio sobre o mundo espiritual.


Existem outras associações que podem ser feitas, como por exemplo relacionar a figura de Lúcifer como representativo de inteligência e astúcia à figura de Loki do panteão Nórdico, onde teremos associações igualmente com conceitos como o Caos, o Abismo, a Loucura e até mesmo o título de "Pai da Mentira".


Vemos aqui sua relevância e profunda e fundamental importância dentro dos estudos Iniciáticos e o quanto essas questões nos levam a analisar de maneira diferente alguns dos conceitos aqui apresentados, nos levando a refletir sobre suas implicações, quem sabe até encontrando novas associações envolvendo a "Estrela do Oriente".


Enfim, trouxe aqui estes elementos relativos a culturas diferentes, com simbolismos muito próximos que descrevem uma realidade espiritual bastante distinta daquela que se poderia conceber apenas com os conceitos populares que se tem da figura de Lúcifer.


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