quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Umbrólatras



Do latim Umbra significando "Sombra" e do grego Latreia com o sentido de "Adoração", sendo assim "Umbrólatras" algo como "Adoradores das Sombras".

 

Atualmente poucas figuras são tão comuns em nosso meio quanto eles, os Adoradores das Sombras. Trata-se de uma constante, frequentemente observada entre os seguidores do Caminho da Mão Esquerda, que acabam por extrapolar os significados e simbolismos, distorcendo-os por meio de classificações dicotômicas pelas quais se atribui a um dos lados, o "escuro", todo o poder e ao outro, o "claro", todas as fraquezas e fragilidades".

 

Criou-se com isso quase um consenso popular que associa a "escuridão" ao mal e ao poder e "claridade" ao bem e à fraqueza e a esta fraqueza se atribui a responsabilidade por todas as mazelas da humanidade, associando a ela a falta de convicção, falta de iniciativa, covardia, passividade, medo, corrupção, manipulação, mediocridade, derrotismo, excesso de teoria e falta de prática, falta de moral, falta de vontade e toda a sorte de inferioridades que se possa vir a imaginar.

 

Em contra partida passam a associar ao lado "obscuro" todas as qualidades que se atribuiria a um guerreiro, como vontade, força, disposição, coragem, determinação, abnegação, audácia, ousadia, honra, dignidade, altivez e toda a forma de poder e superioridade, criando-se assim a dicotomia de uma realidade na qual você deverá optar entre ser "bom e fraco" ou ser "mal e poderoso", como se só existisse poder e desenvolvimento prático na adoração à sombra, ou na adoração ao mal.

 

O que impressiona nesse cenário é que os indivíduos não se dão conta da fragilidade de sua condição, pois a adoração não faz do adorador tão poderoso quanto o objeto adorado. Então não fará diferença que objeto se adore e nunca a adoração fará do indivíduo algo além de uma pessoa comum, com suas próprias idiossincrasias e mediocridades.

 

Para quem pretende e almeja um desenvolvimento "prático" esta postura se mostra bastante contraproducente, pois não importa as qualidades daquilo a que se presta adoração, não importa que adoremos à força, ao poder e todas essas qualidades como praticidade ou eficácia, pois essa postura não nos atribuirá essas qualidades.

 

Bem como não faz sentido a adoração a entidades às quais se atribui essas qualidades, pois o fato de tais entidades serem dotadas destas não fará com que isto seja desenvolvido por indivíduos que simplesmente lhe prestem culto.

 

A questão é que hoje em dia essa mentalidade é tão recorrente e tem se tornado tão extremada que mesmo beirando ao ridículo os indivíduos não se dão conta da fragilidade de suas condições. Pois é dada maior importância às aparências e a serem vistos como sendo "sombrios", ou "do mal", que no seu entender são sinônimos de "poder", do que efetivamente se dedicarem a um desenvolvimento real de poderes que sejam seus e não de uma poderosa entidade "maligna" a qual adore.

 




 A obsessão é tão grande que se chega ao ponto de distorcer conceitos, como se a mera adição de adjetivos fosse capaz de atribuir um poder maior à entidade ou força natural. Assim vemos o sucesso de livros que ostentam em suas capas títulos com termos tais como "demoníaco", "satânico", "negro", "das trevas" etc.

 

Então vemos estes indivíduos obcecados por temas tais como "Árvore da Morte" como se essa fosse uma antítese "negra" da "Árvore da Vida" das Sephiroth e por isso seria mais "poderosa". Se vêem atraídos pela figura de Demônios como se esses fossem antíteses "negras" dos Anjos e por tanto mais "poderosos".

 

E assim esses conceitos foram sendo extrapolados e aplicados a demais conceitos das Ciências Ocultas como se esses necessitassem dessa dualidade, em situações como o conceito de "Alquimia Negra", ou ainda a idéia de um Princípio Criador "do bem" e um Princípio Criador "Sinistro", ou "Negro". Mais um pouco vão acabar criando a idéia de um "Cristo Negro" para se contrapor a todos os defeitos atribuídos a essa figura por associá-lo ao tão repudiado "lado branco".

 

Os Universos são múltiplos, não são apenas dois e não tem como serem classificados apenas em dois lados, em apenas duas cores, não há como se colocar todas as qualidades separadas de todos os defeitos, porque aquilo que é qualidade para um poderá ser defeito para outro e sempre será assim quanto a tudo.

 

Não há aqui uma crítica àqueles que se interessam pelo estudo dos aspectos mais obscuros e menos comentados das Ciências Ocultas, mas sim a essa atitude caricata de distorcer significados para adequá-los a uma visão tendenciosa e maniqueísta de como as coisas deveriam ser.

 




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